quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"CALL GIRLS" com "acompanhamento" jurídico. "LAW, POWER and the CITY"


Queixas na Ordem contra ousadia de advogadas em vídeo para promover escritório
ANA HENRIQUES 18/12/2013 – in Público
As cinco profissionais percorrem a Baixa lisboeta enquanto uma voz off feminina explica que a Rosário Mattos e Associados é uma "boutique law firm" vocacionada para a recuperação de crédito.

É dos vídeos mais partilhados nas últimas semanas nas redes sociais em Portugal, mas não pelas melhores razões: a sugestiva autopromoção da sociedade de advogados Maria do Rosário Mattos e Associados, no qual as sócias da firma dão a conhecer alguns dos seus atributos, deu origem a várias queixas na respectiva ordem profissional. Motivo: alguns colegas de Maria do Rosário Mattos entendem que foi longe de mais e que desrespeita os preceitos deontológicos.

No vídeo, as cinco advogadas percorrem a Baixa lisboeta, enquanto uma voz off feminina explica que a Rosário Mattos e Associados é uma "boutique law firm" vocacionada para a recuperação de créditos. "Colocamo-nos em número um do ranking de cada novo cliente que trabalhamos", ouve-se, mesmo antes de surgir uma das sócias com um vestido generosamente aberto nas costas e de os clientes ficarem a saber que os serviços prestados pelo escritório são "full service". As roupas acima do joelho e os saltos altos compõem o resto de um retrato considerado ofensivo por vários advogados. O presidente do conselho distrital da Ordem de Lisboa, Vasco Marques Correia, reencaminhou as queixas que lhe chegaram para o conselho de deontologia desta organização profissional, para que este se pronuncie em termos disciplinares.

Este profissional diz que não se lembra de ter visto alguma vez "uma coisa deste estilo" na advocacia portuguesa. E fala do decoro e da contenção que o estatuto dos advogados exige, nomeadamente no que respeita à publicidade.Lamenta, porém, as comparações que foram feitas com agências de acompanhantes: "São desprimorosas e desadequadas".

O bastonário Marinho e Pinto – que garante não ter ainda visto os dois minutos de vídeo que tanta polémica estão a despertar – diz que lhe chegaram, de facto, algumas reclamações, que deverá remeter para o conselho deontológico da Ordem. "Disseram-me que o vídeo realça alguns aspectos físicos das minhas colegas, como que uma exibição. Não sei se é verdade ou não. Sou adepto do máximo de liberdade, mas os serviços de um advogado não se podem promover no mercado como se fossem detergentes ou pastas de dentes", vai avisando. A sua sucessora, que toma posse em Janeiro, recusa-se a comentar o caso concreto, mas diz lamentar que "certa advocacia se esqueça dos valores essenciais da profissão e venda os seus serviços como se de mercadorias se tratasse".

O escritório de Maria do Rosário Mattos emitiu entretanto um esclarecimento no qual as advogadas dizem que a única diferença entre o seu site e o das demais sociedades do mesmo ramo "reside não no conteúdo, mas na forma de apresentação utilizada, que poderá apenas ser considerada inovadora". A mesma nota acrescenta ser completamente alheia à firma a divulgação do vídeo nas redes sociais. Licenciada pela Universidade Católica, Maria do Rosário Mattos alega não ter violado "nenhuma das regras deontológicas que norteiam o exercício da advocacia", lamentando que o seu trabalho "sério, rigoroso e competente" seja alvo deste tipo de acusações. Já no passado a advogada se tinha visto envolvida noutra polémica, quando integrava a administração da RTP, por ter um Jaguar como carro de serviço.

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