Os problemas de António J. Seguro
Por Ana Sá Lopes
publicado em 16 Dez 2013 in (jornal) i online
Vai ser difícil o PS explicar
o que é que vai fazer diferente do PSD... e do SPD
António José Seguro tem vários problemas internos. Ganhou a
batalha do famoso consenso - quando Costa desistiu de se candidatar à liderança
em troca de uma coisa qualquer que ninguém percebeu bem o que foi - mas não
ganhou a guerra. Com maior fervor ou na tranquilidade dos bastidores, a guerra
contra a sua liderança continua acesa: a parte do PS que não acredita em Seguro
não passou a acreditar mais um milímetro depois do "consenso". Em
troca, Seguro continuou fechado na sua concha particular, mantendo-se na
terrível posição de líder do partido que assinou o Memorando (um passado
tenebroso que muitos dos anti-Seguro também se esforçam por esquecer) e de
líder de um partido em que muitos militantes desejariam romper com o Memorando.
Convenhamos que não é o melhor papel para um humano desempenhar no momento
presente.
Mas os problemas internos de Seguro não valem um avo se
comparados com o que se pode chamar os "problemas externos" de
Seguro. Um dos novos problemas do secretário- -geral do PSD foi ontem anunciado
com pompa e circunstância em Berlim: o governo da "Grande Coligação"
em que o partido irmão do PS de Seguro (o SPD alemão) se associou aos terríveis
Merkel e Schäuble viu, finalmente, a luz do dia.
Sigmar Gabriel, o líder do partido, fica com a pasta da
Economia - crucial - mas a pasta das Finanças fica exactamente nas mesmas mãos,
a do nosso amigo Schäuble, que há um bocadinho mais de um ano dizia estas
pérolas. "Estamos no bom caminho, as falhas na arquitectura da união
económica monetária estão a ser corrigidas de forma decidida, avançámos muito
na supervisão orçamental, o pacto de Estabilidade e Crescimento tem os dentes
mais afiados, e já não pode ser tão facilmente violado como nos tempos dos
governos de Chirac e Schroeder". Feliz por ter visto assinado tanto pelos
partidos de direita como pelos sociais-democratas o famoso tratado orçamental,
o ex-futuro ministro das Finanças de Berlim (e por arrasto, nosso) afirmava que
há algum tempo atrás quem sonhasse com tal compromisso "teria recebido
como resposta, na melhor das hipóteses, um sorriso cansado".
Satisfeitíssimo, o ministro assinalava a "mudança de atitude na
Europa", que mostrava "que se aprendeu com os erros do passado".
Vai ser muito difícil explicar aos portugueses como é que o PS irá fazer diferente
do PSD. Passos também tinha prometido que não aumentava os impostos. Este é o
verdadeiro cerco a Seguro.
Sem comentários:
Enviar um comentário