Pequeno comércio em queda e
grandes cadeias em alta no centro de Lisboa
ANDRÉ VIDAL 09/12/2013 – in Público
A oferta do pequeno comércio caiu 4% face a 2011. Contudo,
ainda representa 40% dos negócios no centro da cidade, de acordo com estudo de
mercado.
O comércio de rua do centro de Lisboa continua a ser
constituído, maioritariamente, por pequenos negócios. A Baixa é o local onde se
concentra a maior oferta e a moda é o principal sector de actividade observado.
São estas as principais conclusões, no que respeita a
Lisboa, do estudo Business Briefing – Comércio de rua, Lisboa e Porto, da
empresa de estudos de mercado Cushman & Wakefield, que analisa a oferta
comercial nas zonas da Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, Baixa e
Chiado. Em relação ao tipo de lojistas, verifica-se que 40% da oferta é
assegurada por comerciantes nacionais que têm uma loja ou um pequeno conjunto
de lojas. Ainda assim, o peso destes diminuiu 4% face a 2011.
“Estas empresas não conseguem fazer face à quebra do
consumo, ao aumento da carga fiscal e ao aumento das rendas, pelo que tendem a
fechar”, argumenta Carla Salsinha, presidente da União das Associações do
Comércio e Serviços (UACS). A mesma dirigente associativa realça, contudo, que
nesta zona, devido à grande afluência de turistas, a diminuição do número de
pequenos comerciantes “não é tão elevada como em outras áreas da cidade”.
Em contrapartida, o estudo revela que aumentou a presença de
cadeias internacionais e nacionais, que representam, actualmente, 35% e 26% do
total de oferta.
Baixa lidera, mas tem mais espaços desocupados
A Baixa é a zona abrangida pelo estudo onde o comércio de
rua tem mais incidência, com 44% da oferta aí concentrada. Segue-se o Chiado
(24%), a Avenida da Liberdade (17%) e os Restauradores e Rossio (15%).
O comércio de rua é constituído, sobretudo, pelo sector da
moda, que representa 44% da oferta existente, apesar de este ter registado uma
diminuição de 6% face a 2011. Segue-se a restauração (14%) e os artigos para o
lar (10%).
O documento agora divulgado refere, ainda, que o espaço onde
pode ser desenvolvido comércio nestas zonas da cidade e que se encontra vago
diminuiu ligeiramente nos últimos dois anos, de 11,7% para 11,1%. De acordo com
os autores, esta diminuição do espaço disponível pode, em parte, ser explicada
pela áreas das lojas devolutas na Baixa (a zona onde se encontra a maior área à
espera de ocupação), que são reduzidas e inadequadas para quem ali procura
desenvolver actividades de retalho.
“As grandes cadeias internacionais ou nacionais normalmente
instalam-se em grandes espaços, muito superiores aos normais. É natural que
algumas entendam que esse espaço não é suficiente”, explica a presidente da
UACS.
A Avenida da Liberdade, a Rua Augusta, a Rua dos Fanqueiros,
a Rua do Outro e a Rua Garrett são as principais artérias do comércio de rua do
centro de Lisboa, representando 65% da oferta. O destaque vai para a Avenida da
Liberdade, que reúne 17% da oferta. Esta valor deve-se, em muito, à presença de
marcas internacionais, que hoje representam 72% do comércio de rua na avenida,
um aumento de 13% face a 2011. Este valor é justificado, principalmente, pelo
surgimento de 18 novas marcas nos últimos dois anos, entre elas a Gucci, a Max
Mara e a Cartier.
Áreas reabilitadas têm melhores resultados
O Chiado continua a ser a zona mais cara da cidade, sendo
que o valor de arrendamento se situa, em média, nos 90 euros por metro
quadrado. Em segundo lugar nesta lista está a Avenida da Liberdade, onde esse
valor chega aos 80 euros.
Segundo este estudo, tem-se verificado uma evolução positiva
do sector do retalho em Lisboa, para a qual contribuem alguns factores, como a
alteração à lei do arrendamento, que permite aumentar a oferta disponível no
mercado; a crise e o reconhecimento por parte dos comerciantes de que esta é a
altura de concretizar bons negócios; e, por fim, o aumento do turismo em
Portugal.
“É claro que, nestas zonas da cidade, tem-se registado uma
evolução positiva do sector porque são áreas que têm sido reabilitadas”, refere
Carla Salsinha, dando como exemplo a Avenida da Liberdade, que “há cinco anos,
tinha vários espaços devolutos e hoje tem novas marcas internacionais”. Porém,
a presidente da UACS ressalva que estas conclusões não devem ser estendidas às
restantes zonas da capital, como a Almirante Reis, Campo de Ourique, Guerra
Junqueiro ou a Avenida da Igreja. “Este estudo não analisa a cidade como um
todo e esquece outras zonas de comércio em Lisboa”, conclui.
Método utilizado
O estudo Business Briefing – Comércio de rua, Lisboa e Porto
faz um levantamento, unidade a unidade, de toda a oferta comercial,
centrando-se, no caso de Lisboa, nas zonas da Avenida da Liberdade,
Restauradores, Rossio, Baixa e Chiado. Em cada unidade comercial é apurada a
área que ocupa, o sector de actividade a que se dedica e o tipo de comerciantes
que detém o espaço. Estes últimos dividem-se em três categorias: independentes,
de origem nacional que têm apenas uma loja ou um pequeno conjunto de lojas;
múltiplos, marcas integradas numa cadeia de lojas de origem nacional; e
internacionais, marcas integradas em cadeias de lojas de origem internacional.
Em Lisboa, foram avaliadas 845 lojas, a que corresponde uma
área comercial de 141.700
m2 .
Sem comentários:
Enviar um comentário