Bucareste é uma cidade cada vez mais cosmopolita
A resposta da Bulgária e
Roménia à “histeria” de uma certa Europa: “Porque não vêm até cá?”
AFP 23/12/2013 – in Público
Cada vez mais estrangeiros
escolhem estes dois países do Leste para viver as suas vidas e realizar os seus
sonhos. E não percebem porque há europeus que temem uma “invasão” de romenos e
búlgaros a partir do próximo ano.
Empurrados pela crise,
seduzidos pelos preços baixos das terras ou por pura paixão, milhares de
europeus instalaram-se na Bulgária e na Roménia, aproveitando as oportunidades
da Europa emergente.
Numa altura em que países como o Reino Unido temem uma
“invasão” de romenos e búlgaros depois da abertura do seu mercado de trabalho
no dia 1 de Janeiro – um debate “histérico”, segundo o comissário europeu Lazlo
Andor –, a Roménia e a Bulgária acolhem também cada vez mais estrangeiros.
São 145 mil, dos quais pelo menos 52 mil são cidadãos da
União Europeia, segundo os dados do Eurostat e das estatísticas nacionais.
Depois de terem trabalhado em Bruxelas e no Brasil, os
espanhóis Rafaela e Ricardo Alcaine criaram uma sociedade de consultoria em
Bucareste e ajudam os seus compatriotas a instalar-se.
Enquanto a Espanha está timidamente a sair de dois anos de
recessão, a Roménia registou um crescimento de 2,7% nos primeiros nove meses do
ano e a economia deverá crescer 2,2% em 2014 (na zona euro prevê-se um
crescimento de 1,1%).
“Depois do início da crise, o número de espanhóis que se
instalaram na Roménia não parou de aumentar”, explica Rafaela Alcaine, evocando
milhares de recém-chegados, “talvez tantos como os franceses”. Segundo ela, os
espanhóis “trabalham em tudo: infra-estruturas, engenharia, energias renováveis,
imobiliário”, numa país que beneficia de fundos europeus para combater o seu
atraso de desenvolvimento.
“Transportes fáceis para Espanha, a tradição industrial e
mão-de-obra qualificada”, bem como uma língua de origem latina são também
vantagens, diz Alcaine. O fluxo faz-se me dois sentidos, já que Espanha acolheu
há vários anos cerca de um milhão de romenos “que estão muito bem integrados”.
Instalado em Bucareste depois da queda do regime comunista
no final de 1989, o advogado britânico Nicholas Hammond tem uma mensagem clara
para os seus compatriotas: “Se têm ideias, venham para a Roménia, é um país
onde as podem concretizar, aqui há imensas oportunidades.”
Matthew Willis, também britânico, licenciado em Literatura,
escolheu Sófia, na Bulgária, para realizar um sonho impossível no seu país:
abrir uma livraria de livros em segunda mão. “Em Inglaterra, nunca poderia ter
feito isto, porque a Amazon matou o comércio de livros usados e as livrarias
independentes”, explica.
A Roménia, quinto país da União Europeia em superfícies
agrícolas, também seduziu muitos agricultores franceses, holandeses ou
italianos. “Eles vêm por causa do preço baixo das terras, da sua qualidade e do
preço baixo da mão-de-obra”, explica Tudor Dorobantu, secretário-geral do
sindicato Agrostar.
O preço das terras oscila entre 2000 a 4000 euros/hectare,
dez vezes menos que na Holanda ou na Dinamarca, segundo a associação
EcoRuralis.
Seduzidos pela “beleza” de um país onde muitas terras ainda
não foram contaminadas por pesticidas, o escocês Doug McFarlane e a sua mulher,
Sara Meaker, antigos professores, optaram pela agricultura biológica desde
2006, perto de Cluj, na Transilvânia.
Nesta região, onde o príncipe Carlos de Inglaterra
transformou uma casa numa pousada, “cada vez mais europeus querem fazer
agroturismo”, nota a Fundação Adept, que promove o respeito pelo ambiente e as
tradições.
São nove os países da União Europeia que se preparam para
levantar no dia 1 de Janeiro as últimas restrições relativas ao acesso de
romenos e búlgaros aos seus mercados de trabalho. Mas Nicholas Hammond não teme
um êxodo como foi o caso para os polacos em 2007. “Aqueles que queriam partir
já partiram”, diz.
“Por mim, se búlgaros e romenos quiseram ir trabalhar para
Londres, eles seriam bem-vindos”, diz Richard Fox, um britânico que abriu uma
loja de vinhos em Bucareste.
Empenhado em acabar com as ideias feitas, o jornal digital
Gandul lançou uma campanha convidando os britânicos a instalarem-se na Roménia.
No site Why don’t You Come over? (Porque não vêm até cá?), o jornal propõe-lhes
empregos de bancários, informáticos ou engenheiros.
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