Cavaco diz que é fundamental
que autoridades guineenses apurem responsabilidades
ANA HENRIQUES , MARGARIDA GOMES e LUSA 12/12/2013 - 15:44
(actualizado às 18:05) in Público
Governo guineense lamenta
incidentes com passageiros que SEF não tem a certeza de serem mesmo sírios.
Ministro dos Negócios Estrangeiros guineense tem esperança que ligação aérea
seja reposta já este sábado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné, Delfim Silva,
lamentou nesta quinta-feira o incidente que rodeou a vinda para Portugal, via
aeroporto de Bissau, de 74 cidadãos alegadamente provenientes da Síria, com
passaportes turcos falsos. Na sequência deste caso, que a Comissão Europeia diz
não ter precedentes, a TAP cancelou os voos para a capital guineense. Já o
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras tem dúvidas sobre a nacionalidade das 21
crianças, 15 mulheres e 38 homens, que à chegada pediram asilo humanitário a
Portugal.
Já esta quinta-feira à tarde, à margem de uma jornada
dedicada ao empreendedorismo social, no Porto, o Presidente da República
português considerou que o embarque em Bissau de 74 passageiros com documentos
falsos num voo para Lisboa "transcende Portugal", afirmando ser
"fundamental que as autoridades guineenses apurem os responsáveis pelas
acções que foram desenvolvidas".
Cavaco Silva disse ainda ter sido informado da situação
quando estava reunido com o ministro Rui Machete. "O senhor ministro dos
Negócios Estrangeiros estava comigo e quando recebeu a informação imediatamente
me comunicou e trocámos impressões sobre aquilo que, da parte política, devia
ser feito", respondeu, quando questionado pelos jornalistas se tinha sido
informado previamente.
O chefe de Estado português disse ainda que "a primeira
condição para as ligações aéreas entre dois países é a segurança dos
aeroportos": "Não foi garantida a segurança do aeroporto numa ligação
aérea com Lisboa. É óbvio que isso é observado pelas múltiplas companhias
aéreas do mundo inteiro."
Do lado guineense, o ministro dos Negócios Estrangeiros do
Governo de transição, Delfim da Silva, manifestou ao PÚBLICO estar optimista.
“Tenho esperança de que as ligações aéreas da TAP entre Lisboa e Bissau recomecem
já no sábado, porque os cidadãos que querem viajar é que saem prejudicados”,
declarou, muito embora admitindo que não há negociações em curso que permitam
dizer se isso poderá, efectivamente, acontecer.
Sobre o facto de a Comissão Europeia se poder vir a
pronunciar sobre o incidente, Delfim da Silva diz que o sucedido com o voo da
TAP, apesar de grave e lamentável, “é uma ninharia”, se comparado com episódios
como aqueles em que “há pessoas a morrer às portas da Europa” - numa referência
aos imigrantes ilegais africanos que chegam a Lampedusa.
Da parte do Governo português, o ministro da Presidência,
Marques Guedes, afirmou esta quinta-feira que a suspensão dos voos para Bissau
foi motivada por uma situação "completamente incontrolável e inadmissível"
de embarque forçado. "Houve um forçar por parte das autoridades no local
ao comandante do avião para o embarque daquelas pessoas, sendo certo que havia
manifestamente uma falsificação grosseira dos seus documentos de viagem",
resumiu o governante no final da reunião do Conselho de Ministros. Os contornos
do episódio estão a ser averiguados e a situação dos portugueses que se
encontram na Guiné-Bissau a ser acompanhada pelo Ministério dos Negócios
Estrangeiros.
Questionado sobre a atribuição ou não do estatuto de
refugiados aos passageiros que embarcaram para Lisboa, Marques Guedes
respondeu: "A concessão obedece a procedimentos legais próprios, não é
algo que se possa conceder nem instantaneamente, nem em 24 horas. Obedece a
procedimentos administrativos próprios e que estão naturalmente a ser
prosseguidos, a partir do momento em que houve requerimentos nesse
sentido."
"Lamentamos o sucedido, vamos apurar responsabilidades
e tirar consequências", declarou o ministro do Governo de transição
guineense Delfim Silva, depois de um encontro com o encarregado de negócios da
embaixada portuguesa, Teles Fazendeiro, acrescentando ainda: "O que
aconteceu não é do interesse da Guiné-Bissau, não ajuda ninguém, não ajuda as
relações com Portugal, nem os nossos compatriotas em Portugal.” O governante
disse ainda que a situação também “não ajuda às relações com a Europa".
O porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly, declarou,
por seu turno, durante a conferência de imprensa do executivo que o caso do voo
Bissau-Lisboa não tem precedentes.
“Haverá provavelmente uma resposta consolidada” da União
Europeia sobre o assunto – que, como é invulgar e envolve diferentes ângulos,
exige uma coordenação de posições entre os serviços da Comissão e o Serviço
Europeu de Acção Externa. "Há diferentes ângulos. Há a legislação
relativamente aos pedidos de asilo de refugiados, mas há também o ângulo da
relação bilateral entre um dos nossos Estados-membros e um país terceiro, pelo
que precisamos de coordenar posições”, concretizou Olivier Bailly. A União
Europeia não reconhece as autoridades de transição da Guiné-Bissau que saíram
do golpe de Estado de Abril de 2012.
Segundo uma fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,
alguns dos passageiros que entraram em Portugal com passaportes turcos falsos
apresentaram às autoridades fotocópias de documentos que supostamente
comprovariam a sua nacionalidade síria. No entanto, as fotocópias não terão
convencido totalmente os inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,
que têm suspeitas sobre a sua verdadeira nacionalidade.
Presidente da TAP admite que houve “ordens superiores” para embarcar passageiros sírios
Presidente da TAP admite que houve “ordens superiores” para embarcar passageiros sírios
RAQUEL ALMEIDA CORREIA (em Viena) e ANA CRISTINA PEREIRA
13/12/2013 – in Público
Companhia ainda tem mil reservas para Bissau por resolver já
na próxima semana.
O presidente da TAP admitiu nesta sexta-feira que houve
“ordens superiores” para terça-feira de madrugada embarcar os 74 passageiros
sírios em Bissau, o que levou à suspensão da rota por parte da companhia de
aviação portuguesa.
À margem da reunião anual da Star Alliance, onde se
encontram todos os responsáveis máximos das transportadoras aéreas que integram
a aliança, Fernando Pinto quis deixar claro que “não houve demonstração de
força perante a tripulação”, com se tem especulado. O gestor brasileiro
esclareceu que “a maior pressão foi feita sobre o chefe de escala”, responsável
pela ligação entre Bissau e Lisboa.
Questionado sobre o tipo de pressão exercido, o presidente
da TAP disse que “vieram ordens superiores para embarcar”, com a ameaça de que,
se tal não sucedesse, “o avião ficaria retido”. Fernando Pinto preferiu, no
entanto, não especificar de quem vieram essas ordens.
Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau,
Delfim da Silva, já tinha comentado: “Não estou a ver gente com armas a obrigar
a tripulação a embarcar os passageiros”.
Hoje, disse: "São detalhes que vão demorar a ficar
esclarecidos." Uma comissão de inquérito foi já anunciada pelo
primeiro-ministro.
Os ânimos ainda não serenaram entre todos os passageiros da
TAP com viagens marcadas num sentido ou noutro. A companhia já conseguiu
encontrar voos alternativos para cerca de 500 passageiros que tinham reservas
esta semana, através de uma parceria com a Air Senegal. No entanto, ainda há
cerca de 1000 passageiros com viagens marcadas para a próxima semana e que
estão por resolver.
“Temos uma equipa especial na TAP a tratar esta questão”,
disse o gestor, explicando que, além da alternativa do Senegal, foram
“colocados voos adicionais em Dakar e também foi dada a possibilidade de fazer
[a viagem] via Marrocos”. De qualquer forma, esta situação irá comportar custos
adicionais para a transportadora aérea nacional, além do facto de poder vir a
ser multada por transportar passageiros com documentos inválidos. Fernando
Pinto garantiu que a empresa “vai recorrer da multa”.
Até à suspensão dos voos, a TAP voava três vezes por semana
para Bissau. Uma ligação tradicional da companhia, mas sem rentabilidade
elevada. “É uma rota equilibrada” financeiramente, disse Fernando Pinto, apesar
de acrescentar que acredita que “um dia vai crescer”.
A companhia não descarta a hipótese de retomar os voos, mas
apenas “se não voltarem a acontecer situações deste tipo”, referiu o gestor,
frisando que “o aeroporto tem de oferecer uma condição de conforto à empresa”.
Quanto às negociações que estarão a decorrer entre os governos dos dois países
para resolver a situação, o presidente da TAP não quis responder por se tratar
de um “assunto de Estado”.
Uma das soluções poderá ser retomar o apoio do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em Bissau. Até há um ano, era desta forma que
funcionava a operação da TAP no país, mas “foi proibido pelas autoridades
locais”, adiantou Fernando Pinto. “Agora há a hipótese e esse seria um caminho
inteligente”, admitiu.
Delfim da Silva já admitiu a possibilidade de reactivar o
protocolo, que vigorou ao longo de 2012, de forma a ultrapassar o problema que
este episódio criou entre os dois países. Conforme o acordo, inspectores do SEF
faziam um controlo de passageiros à entrada do avião. Por esta via, as
autorizades portuguesas terão conseguido reduzir de forma significativa a
entrada de cidadãos oriundos da Guiné-Bissau com documentos falsos em
território nacional. Findo o acordo, tudo terá regressado à estaca zero.
A jornalista viajou a convite da Star Alliance
“Michele Cerccone, porta-voz da comissária que trata
da política de asilo, lembrou ontem haver dois aspectos a ter em conta: “Por um
lado, a legislação da UE que se aplica aos pedidos de asilo”; por outro, “a
forma como estas pessoas entraram em Portugal”. Sobre este último aspecto,
pediria ao Serviço Europeu de Acção Externa que se pronunciasse, já que em jogo
estão as relações entre um país da UE e um país terceiro. Outro porta-voz,
Olivier Bailly, adiantou que mais tarde apresentariam uma posição “mais consolidada”.
“Obviamente, trata-se de uma situação sem precedentes.” Ao que o PÚBLICO
apurou, o Serviço Europeu de Acção Externa deverá abster-se.”
Guiné-Bissau não garante ainda condições de segurança
a voos da TAP
Companhia aérea portuguesa conseguiu negociar com a Air
Senegal pelo menos dois voos, para garantir as viagens dos passageiros
entretanto canceladas. Caso começa a assumir contornos políticos
Ana Cristina Pereira e Ana Henriques in Público
A suspensão dos voos da TAP entre Lisboa e Bissau está a
assumir fortes contornos políticos. A TAP diz-se interessada em retomar as
ligações regulares com a capital da Guiné assim que haja condições de
segurança, mas, pelo menos por ora, o Governo transitório não está capaz de
lhas garantir.
Citado pela Lusa, o ministro da Presidência, Marques Guedes,
considerou a situação “completamente incontrolável e inadmissível”. “Houve um
forçar por parte das autoridades no local ao comandante do avião para o
embarque daquelas pessoas, sendo certo que havia manifestamente uma
falsificação grosseira dos seus documentos de viagem”, sustentou.
Embora as investigações persistam, o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Guiné-Bissau, Delfim da Silva, disse ao PÚBLICO que duvida que
homens armados tenham forçado o chefe de escala e a tripulação da TAP a
embarcar os 74 sírios: “Não estou a ver gente com armas a obrigar a tripulação
a embarcar os passageiros”. O mesmo membro do Governo saído do golpe de Estado
de Abril de 2012 admite, todavia, a existência de “grande falha de segurança”
no embarque.
Para que a TAP possa voltar a voar para Bissau o mais
depressa possível, Delfim da Silva defende a reactivação do acordo de
cooperação entre os dois países. É uma clara contradição com a posição que o
ministro que, por norma, exerce a função de porta-voz tomara ainda na véspera.
Fernando Vaz dissera então ao PÚBLICO que a suspensão dos voos poderia custar à
TAP a autorização para voar para a Guiné.
Há duas formas de ver o que aconteceu, comenta Carlos Silva,
responsável pela organização nãogovernamental Acção para o Desenvolvimento
(AD). Uma, a de Fernando Vaz, protagoniza uma espécie de corrida para o abismo
e outra, a de Delfim da Silva, é mais cautelosa. “Isto é o isolamento completo.
Este é o único voo regular para a Europa”, explica. Ainda há seis meses, o
aeroporto de Bissau estava na lista negra internacional. “Aumenta o isolamento
político que já existe e que tem vindo a crescer.”
No Porto, Cavaco Silva declarou ser “fundamental que as
autoridades guineenses apurem os responsáveis pelas acções que foram
desenvolvidas”. “A primeira condição para as ligações aéreas entre dois países
é a segurança dos aeroportos”, comentou. “Não foi garantida a segurança do
aeroporto numa ligação aérea com Lisboa. É óbvio que isso é observado pelas
múltiplas companhias aéreas do mundo inteiro.”
A TAP diz-se interessada em retomar as ligações logo que a
Guiné-Bissau lhe dê as condições de segurança exigidas pelas autoridades
portuguesas. “Não posso garantir isso porque são questões que passam pelo
ministro da Segurança Interna”, afiança Delfim da Silva. O Conselho de Ministros
guineense já discutiu o assunto duas vezes.
Nos aeroportos de Bissau e de Lisboa notou-se ao longo de
ontem o rodopio de quem tem voos para apanhar. O porta-voz da TAP, António
Monteiro, anunciou ao final do dia que a companhia aérea tinha conseguido
negociar com a Air Senegal pelo menos dois voos para garantir as viagens dos
passageiros entretanto canceladas.
Um voo da TAP partirá de Lisboa amanhã. Em Dakar, os
passageiros serão transferidos para um aparelho da Air Senegal, que os deixará
em Bissau no domingo de madrugada. Nesse mesmo dia, haverá um voo de regresso.
Se o problema se estender, a TAP contratará mais serviços deste género.
“O que aconteceu não ajudou ninguém e muito menos a Guiné”,
reconheceu Delfim da Silva. “Estamos numa situação delicada e queremos compor
as relações com todos os países”, disse ainda, acrescentando que os
funcionários do aeroporto de Bissau “podem falhar e ser até vulneráveis a
algumas situações”.
Teme-se, na Guiné-Bissau, que haja consequência em Bruxelas.
Michele Cerccone, porta-voz da comissária que trata da política de asilo,
lembrou ontem haver dois aspectos a ter em conta: “Por um lado, a legislação da
UE que se aplica aos pedidos de asilo”; por outro, “a forma como estas pessoas
entraram em Portugal”. Sobre este último aspecto, pediria ao Serviço Europeu de
Acção Externa que se pronunciasse, já que em jogo estão as relações entre um
país da UE e um país terceiro. Outro porta-voz, Olivier Bailly, adiantou que
mais tarde apresentariam uma posição “mais consolidada”. “Obviamente, trata-se
de uma situação sem precedentes.” Ao que o PÚBLICO apurou, o Serviço Europeu de
Acção Externa deverá abster-se.
Confrontado com esta movimentação, Delfim da Silva reconhece
que o embarque forçado constitui “um episódio muito grave e lamentável”. Apesar
de tudo, diz que não passou de uma “ninharia”, se comparado com outros
episódios como o dos africanos a morrer às portas da Europa.
Os 74 cidadãos estrangeiros, que formam diversas famílias,
requereram o estatuto de asilo político a Portugal. O processo pode arrastarse
uns dois meses. O SEF começou ontem a ouvir os 51 adultos e os 23 menores, que
estão alojados em instalações cedidas pela Segurança Social. Como traziam
passaportes contrafeitos, as autoridades terão de documentar as suas
verdadeiras identidades. com Margarida Gomes e Isabel Arriaga e Cunha, em
Bruxelas
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