OPINIÃO
Energias renováveis e ambiente
EUGÉNIO VIASSA MONTEIRO 23/12/2013 – in Público
As formas renováveis do sol e vento, embora ainda na sua
infância, merecem atenção para se tornarem mais atractivas.
Surpreendo-me positivamente quando países pobres, lutando
pelo crescimento económico, mostram um apurado sentido de responsabilidade para
não deixar piorar a poluição ambiental. Ela está marcada pelos elevados níveis
de consumo de energia dos países ricos, que deveriam responsabilizar-se mais
seriamente.
A par de outros meios de produção de energia para suportar
as necessidades, a Índia tem levado à prática um plano muito ousado e mesmo
dispendioso, recorrendo às energias renováveis – algumas das quais ainda nem
sequer alcançaram o seu estádio de maturidade técnica e económica –, e a outras
formas menos poluentes, fugindo, na medida do possível, do carvão, do qual
possui reservas inesgotáveis. Recorre assim:
– À energia solar, da qual tem já instalados mais de 1800 MW
(em 2012), querendo chegar a 10.000 em 2017 e a 20.000 em 2022. Para além das
centrais em construção, o Governo propôs quatro grandes centrais de energia
solar: uma em Rajhastan (4,000 MW), outra em Gujarat (4,000 MW), a terceira em
Kargil (2,000 MW) e a 4.ª em Laddakh (5,000 MW), com um investimento total de
$15.000 milhões de dólares. O que vai aprendendo das centrais em funcionamento,
precisa de um forte impulso da Investigação, pelo que se criou um Centro de
Investigação deste tipo de energia, para acelerar os aperfeiçoamentos e
economia que levem à integração de mais potência solar.
– À energia eólica, com os seus 19.800 MW instalados (em
2012), esperando instalar mais 6.000 até 2014. Actualmente corresponde a 8,5%
da potência instalada e apenas produz 1,6% da energia consumida. Tem um
comportamento irregular, com baixo factor de utilização. Ter mais horas de
funcionamento ao ano e com melhor nível de transformação exige mais
investigação. É uma alternativa que resolve pequena parte do problema, mas não
se pode desprezar.
– À energia hidráulica, da qual estavam instalados e em
exploração 37.400 MW em Junho de 2013. E vai-se instalar mais 10,900 até 2017,
com fortes investimentos em barragens e centrais de geração. É um meio de
produção que encontrou opositores, sobretudo porque a deslocação de pessoas das
suas casas e de terras agrícolas de subsistência não eram devidamente
compensadas, originando protestos por causa do abandono a que eles eram
votados.
– À energia nuclear, da qual entrou em funcionamento a 20ª
central, com a potência de 160 MW que será gradualmente elevada até aos 1.000
MW no seu estádio definitivo. As outras centrais antigas são, ao que parece,
todas da fileira de água pesada, de 250 MW cada, que permitem produzir material
físsil, geralmente o plutónio, a partir do urânio. Totalizarão os 5780 MW nas
20 centrais.
Além disso, a India utiliza energia das centrais térmicas a
carvão e a gás. Infelizmente, tem sido lenta a desenvolver esta última fonte de
energia, por não ter havido uma legislação adequada que atraísse investidores.
Alguma intervenção inteligente, com conhecimento da tecnologia e do mercado,
seria útil para se fomentar a descoberta e exploração de mais gás, tanto na
costa ocidental, mas sobretudo na oriental da península indostânica.
As centrais alimentadas a carvão contam com 57% da
capacidade instalada (só para comparação: a Africa do Sul tem 92%, a China, 77%
e a Austrália, 76%). A potência hidroeléctrica conta com 20% do total; outras
formas renováveis, com 13%. O gás natural tem cerca de 10%.
O total da potência de todas as variantes é de 227 356 MW.
As instalações cativas de geração de energia totalizam mais 34.444 MW. A India
está em vésperas de legislar sobre a extracção do gás de xisto, muito explorado
nos EUA. As formas renováveis do sol e vento, embora ainda na sua infância,
merecem atenção para se tornarem mais atractivas. E fica no imediato o recurso
à hidráulica, ao carvão, ao gás e ao nuclear.
Professor da AESE e Presidente da AAPI
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