EDITORIAL
Perdemos, mas não é nada connosco
DIRECÇÃO
EDITORIAL / PÚBLICO 01/04/2015 -
O silêncio de António Costa na
derrota madeirense deixa uma mensagem inquietante.
O PS teve uma
derrota estrondosa na Madeira, onde corre o risco de se eclipsar. Obteve 11,41%
(seis deputados no Parlamento regional) contra os 44,33 do PSD vencedor,
ficando atrás do CDS/PP, que conseguiu 13,69% (nove lugares). Foi um resultado
surpreendente não só por ter ficado muito aquém de todas as sondagens, mas
também porque jogava para vencer ou, no mínimo, para voltar a ser segunda
força, posição que havia perdido nas regionais de 2011, justamente conquistada
pelos centristas de José Manuel Rodrigues. Para além do mais, esta foi a primeira
eleição com Alberto João Jardim fora de combate, o que prometia ser uma janela
de oportunidade para um partido que apostou todas as fichas contra um
governante tido como o único capaz de manter um partido dilacerado por lutas
intestinas, bem visíveis, de resto, na corrida pela liderança interna,
disputada por três candidatos.
O PS-Madeira,
eternamente dividido entre os políticos regionais que querem controlar o
partido no arquipélago (mas fazer carreira política em Lisboa) e os dirigentes
locais que, durante décadas, foram sobrevivendo à humilhação jardinista e à
quase total indiferença da direcção nacional, não soube aproveitar este momento
único, acabando esmagado por quem soube perceber o potencial desta eleição. Os
socialistas fizeram tudo mal. Em vez de se afirmarem, diluíram a sua marca numa
coligação sem conteúdo nem projecto, transmitindo aos madeirenses a péssima
impressão de que, em vez de soluções para os problemas, apenas concorriam para
ganhar lugares. A aliança espúria com o PTP, que na região funciona apenas como
partido "barriga de aluguer" para José Manuel Coelho, uma personagem
controversa cuja "carreira política" tem sido marcada pela arruaça,
ainda mais contribuiu para cimentar esta ideia por parte do eleitorado. O facto
de o PS ter andado toda a campanha a tentar esconder este candidato incómodo dá
bem a dimensão da má consciência dos seus dirigentes, que sabiam o que andavam
a fazer. Tentaram substituir a falta de projecto com a contratação de Quim
Barreiros para animar as hostes na recta final da campanha. O resultado viu-se.
Quem não viu, ou
não quis ver, foi a direcção nacional do PS. E não foi por falta de aviso (ver
texto das págs. 4/5). A cúpula socialista vive entre a versão oficial de que
este sufrágio não contamina as legislativas e a versão oficiosa de que tudo é
culpa dos "seguristas", até agora instalados nessa espécie de aldeia
gaulesa que é a Madeira. As duas versões são más e acabam por ter um efeito
colateral devastador. Tanta sofreguidão a isolar a direcção dos resultados não
abona nada a favor da coragem com que, no Largo do Rato, se encara a
adversidade. E o silêncio ensurdecedor de António Costa na noite da derrota
eleitoral deixa uma mensagem inquietante. Qualquer
coisa como:
"perdemos, mas não é nada connosco".
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