Secretário-geral do PS afirmou
que a paralisação agendada pelos pilotos terá um “impacto extremamente
negativo”
Raquel Almeida
Correia / 30-4-2015 / PÚBLICO
Os trabalhadores
da TAP saíram à rua, o Governo voltou a fazer apelos e os pilotos continuam
divididos, mas a voz mais forte de protesto contra a greve de dez dias na TAP
que começa já amanhã foi a do secretário-geral do PS. Não tanto pelo que disse,
mas pelo facto de ter sido a primeira vez que António Costa se fez ouvir sobre
o tema, afirmando que a paralisação de dez dias vai ter “um impacto muito
negativo” e que, por isso, gera “apreensão”.
À margem de uma
cerimónia da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal,
António Costa defendeu que esta greve é “mais um mau contributo” para a
companhia de aviação e significa um “retrocesso”, lamentando que não tenha sido
possível um acordo para travar a paralisação. “É um enorme desgosto”,
considerou. Para o secretário-geral do PS, que até aqui não se tinha
pronunciado sobre a decisão do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC),
esta greve, que está marcada para o período entre 1 e 10 de Maio, vai ter “um
impacto extremamente negativo”, tanto para a TAP como para a economia nacional.
As declarações de
António Costa surgiram em mais um dia de fortes críticas à paralisação
convocada pelos pilotos para reclamar a reposição das diuturnidades suspensas
desde 2011 e uma fatia no capital da transportadora aérea.
Do lado do
Governo, voltaram a soar apelos a que o SPAC reconsidere a decisão. Citado pela
Lusa, o primeiro-ministro disse esperar “que os pilotos possam ponderar bem as
consequências desta greve”, voltando a fazer votos de que haja “maturidade e
bom senso”. Já o ministro da Economia disse, a partir da Polónia, que acredita
“que os pilotos saberão ponderar”, sublinhando que, caso a TAP seja obrigada a
avançar com uma reestruturação, estes trabalhadores serão “os primeiros a
encontrar emprego”.
Dentro da
transportadora aérea, a discórdia fez-se sentir na marcha silenciosa em que
participaram cerca de 300 trabalhadores contra a greve agendada pelo SPAC. Mas
as críticas também vieram do presidente da ANA, que demonstrou preocupação com
“a competitividade do destino” Portugal e do próprio sector do turismo, que
continua a alertar para os avultados prejuízos que esta paralisação irá
provocar.
Mas o sindicato
também não se remeteu ao silêncio e voltou ontem a emitir um comunicado em que
frisa que “são lamentáveis as afirmações da administração da TAP e os pedidos
de humildade do Governo”, esclarecendo que esta greve não pretende protestar
contra a privatização da empresa, mas sim contra o que entende ser um
incumprimento de acordos selados com os pilotos.
Apesar das
tentativas que houve para conseguir uma aproximação entre o SPAC, a
transportadora aérea e o Governo, até agora esses esforços foram em vão. Nem
mesmo os apelos que surgiram de dentro da classe surtiram ainda efeito. E, por
isso, tudo indica que a greve de dez dias irá mesmo avançar, a não ser que
surja um entendimento de última hora.
Mas mesmo que tal
aconteça, já não irá a tempo de reparar os danos causados desde o anúncio desta
paralisação. Neste momento, a TAP já definiu os 276 voos que irá realizar ao
abrigo dos serviços mínimos, mantendo a expectativa de que alguns pilotos
compareçam ao serviço e seja possível garantir mais ligações. A companhia de
aviação estimava transportar cerca de 350 mil passageiros entre 1 e 10 de Maio
e calcula que sofrerá perdas de 70 milhões de euros com esta greve agendada
pelo SPAC.
TAP. Trabalhadores da companhia
manifestam-se contra greve dos pilotos
A marcha teve início junto à
portaria da sede da companhia aérea e termina com uma concentração junto ao
terminal dos tripulantes
Algumas dezenas
de trabalhadores da TAP iniciaram esta quarta-feira, às 12:30, uma marcha de
protesto em silêncio contra a greve de dez dias dos pilotos, que se inicia na
sexta-feira.
A marcha teve
início junto à portaria da sede da companhia aérea e termina com uma
concentração junto ao terminal dos tripulantes, com passagem pelas chegadas e
partidas do aeroporto da Portela, em Lisboa.
Os pilotos da TAP
marcaram uma greve, entre 01 e 10 de Maio, por considerarem que o Governo não
está a cumprir o acordo assinado em Dezembro de 2014, nem um outro,
estabelecido em 1999, que lhes dava direito a uma participação no capital da
empresa no âmbito da privatização.
Lusa
Perguntas e respostas sobre greve
dos pilotos da TAP
Os pilotos da TAP
e da Portugália começam na sexta-feira uma greve de dez dias.
JORNAL I
29/04/2015
Os pilotos da TAP
e da Portugália começam na sexta-feira uma greve de dez dias, que deverá
afectar cerca de 3.000 voos, por considerarem que o Governo não está a cumprir
dois acordos que lhes davam garantias na privatização.
Segue uma lista
de perguntas e respostas sobre esta greve:
Quem vai estar em
greve?
A greve da TAP
foi convocada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), a 15 de
Abril, na sequência de uma assembleia-geral que contou com a participação de
500 pilotos. No dia seguinte, os pilotos da Portugália aprovaram por
unanimidade a mesma decisão.
Quais são os
motivos para a greve?
O SPAC acusa o
Governo de desrespeitar dois acordos. O primeiro, assinado em 1999, conferia
aos pilotos uma participação de até 20% na companhia aérea em caso de
privatização, em troca de actualização dos salários, mas o Governo diz que a
pretensão não tem qualquer validade, remetendo para um parecer do conselho
consultivo da Procuradoria-Geral da República. Depois há o acordo de Dezembro,
que juntou nove sindicatos, mas que o SPAC diz que o Governo não pretende
cumprir, o que é manifesto pelo facto de não ter incluído sanções ao
incumprimento no caderno de encargos da privatização. Neste ponto, o mais
polémico é a reposição das diuturnidades (subsídio de senioridade), congeladas
sucessivamente desde o Orçamento de Estado para 2011.
Como é que a
operação será afectada?
Em causa, nos dez
dias de greve estão cerca de 3.000 voos e 300 mil passageiros. O nível de
operação vai depender muito da adesão dos pilotos ao protesto convocado pelo
SPAC, que antecipa uma participação acima dos 90%. Já a TAP acredita que
conseguiu alertar a classe para as consequências da greve para a companhia e
para o país, devendo a adesão ser inferior à prevista pelo sindicato.
Existem serviços
mínimos?
Sim. O Tribunal
Arbitral do Conselho Económico e Social (CES) decidiu na segunda-feira os
serviços mínimos, que preveem a realização de voos para Açores, Madeira,
Brasil, Angola, Moçambique e sete cidades europeias, num total de 276 voos nos
dez dias da greve, o que representa cerca de 10% da operação da companhia
aérea.
Segundo a
decisão, vão ser realizados todos os voos programados de e para a Região
Autónoma dos Açores, bem como três voos Lisboa/Funchal, em cada um dos dias de
greve, e três voos Funchal/Lisboa, também em cada um dos dias de greve.
Além destes, o
Tribunal Arbitral decidiu ainda, por unanimidade, a realização de um voo de ida
e um voo de volta em cada um dos dias do período de greve para Angola, três
para Moçambique, dois para Brasil; e um voo de ida e um de volta para França,
Luxemburgo, Reino Unido, Suíça, Alemanha, Bélgica e Itália.
Porque o Governo
não avançou para a requisição civil?
Ao contrário do
que aconteceu na greve de quatro dias convocada para a época do Natal de 2014,
o Governo decidiu agora não decretar requisição civil para a greve dos pilotos
da TAP. Sem dar uma justificação, o primeiro-ministro, Passos Coelho, disse que
em Dezembro o Governo decretou a requisição civil por estarem reunidas
“circunstâncias muito excePcionais”, por estar em causa a reunião das famílias.
Qual será o custo
da greve dos pilotos?
A TAP fala de um
“impacto brutal” da greve de dez dias dos pilotos, estimando que possa
representar perdas directas de cerca de 70 milhões de euros, sem contar os
custos para a imagem. As contas feitas pelo SPAC não ultrapassam os 30 milhões
de euros, menos de metade do valor avançado pela companhia.
Segundo o SPAC,
em Maio, o valor médio diário das vendas de passagens é de 6,6 milhões de
euros, mas lembra que o grupo não perde a totalidade deste valor com a
paralisação, uma vez que cerca de 25% dos passageiros alteram as suas reservas
para outros períodos e o grupo não suporta custos diários com o combustível que
rondam 1,3 milhões de euros por dia.
O que devem fazer
os passageiros com voos para os dez dias da greve?
Os passageiros
com viagem nos 276 voos incluídos nos serviços mínimos, cuja lista está
publicada na página oficial da TAP, devem reconfirmar a reserva junto da
companhia aérea ou da agência de viagens.
Já os passageiros
com reserva para voos que não se vão realizar podem pedir alteração da reserva
para data fora do período da greve ou pedir a emissão de um ‘voucher’ com o
valor pago, que pode ser utilizado no período de um ano.
Como os
trabalhadores da TAP têm reagido à greve dos pilotos?
A greve dos
pilotos não é vista com bons olhos por um elevado número de trabalhadores, o
que levou à convocação de uma concentração e de uma marcha na quarta-feira para
apelar à desconvocação da paralisação. Mesmo os oito sindicatos que, em
Dezembro assinaram com o SPAC o acordo com o Governo, consideraram que só será
possível verificar o cumprimento do memorando de entendimento quando a
transportadora aérea for privatizada.
A greve pode
afectar o processo de privatização?
A greve dos
pilotos começa a 15 dias da data limite para os candidatos à compra da TAP
entregarem as propostas vinculativas à aquisição do grupo, e o clima de agitação
social não é o cenário mais propício, sobretudo no contexto económico e
financeiro do grupo, que se agravou em 2014.
Curiosamente, no
dia em que os pilotos decidiram avançar para a greve, a Air Europa, companhia
aérea detida pelo grupo espanhol Globalia, desistiu de comprar a TAP, devido à
elevada dívida da transportadora portuguesa e à impossibilidade de geri-la com
“critérios privados”.
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