Os salários dourados dos gestores
Ana Serafim, João
Madeira e Sandra Almeida Simões | 23/04/2015 / SOL online
Para os gestores
de topo em Portugal, a crise já ficou para trás. O SOL compilou os vencimentos
auferidos pelos presidentes executivos das 14 empresas do PSI-20 que já
apresentaram relatórios sobre o governo societário e na maioria dos casos houve
aumentos salariais. O total das remunerações pagas a este conjunto de
executivos aumentou 7%, com Pedro Queiroz Pereira a conseguir o primeiro lugar
no pódio: o dono da Semapa levou para casa cerca de 2,4 milhões de euros, com
os honorários recebidos nas várias sociedades relacionadas com o grupo.
Há alguns anos, o
sistema financeiro era conhecido por proporcionar as remunerações mais elevadas
do país. Hoje, os níveis salariais mais generosos encontram-se em empresas do
sector transformador. Além da Semapa, que opera nas áreas da floresta, da pasta
de papel, da energia e do cimento, as empresas com cheques mais chorudos para
os gestores são a EDP e a Galp, ambas produtoras de energia. A Portucel, que é
controlada pela Semapa e fabrica papel, também aparece no topo. José Honório
recebeu 1,4 milhões de euros no ano em que saiu do grupo.
Grupos
não-financeiros pagam mais
Nos bancos, a
contenção salarial é notória. “Após a crise no sistema financeiro que conduziu
à recapitalização da banca em Portugal com recurso a instrumentos através de
fundos públicos, foi exigida uma disciplina remuneratória dos órgãos sociais
das instituições financeiras”, explica ao SOL o presidente do Instituto
Português de Corporate Governance, Pedro Rebelo de Sousa.
Durante o
programa de assistência financeira, os bancos que recorreram a empréstimos do
Estado para se recapitalizarem tiveram inibições salariais na administração. Mas,
mesmo com a devolução dos cortes salariais que teve quando o BPI pediu ajuda
estatal, Ulrich aparece apenas a meio da tabela. “O sistema bancário tem estado
sob um elevado escrutínio e pressão não só em Portugal, mas por toda a Europa,
desde o início da crise financeira em 2008” , diz ao SOL Rui Luz, director da Hay
Group Portugal, uma consultora de gestão.
Durante a crise,
verificou-se que os prémios dos gestores estiveram na origem da tomada
excessiva de riscos. “Uma das consequências foi um merecido acréscimo de
atenção por parte dos accionistas e autoridades sobre estes aspectos, que
conduziram à introdução de várias medidas de limitação ou de regulação dos
pacotes retributivos da gestão de topo destas instituições”, acrescenta.
Os grupos
não-financeiros, por seu turno, têm demonstrado “maior capacidade de gerar e
distribuir valor para os respectivos accionistas”. E os vencimentos reflectem
essa tendência.
Nos grupos de
distribuição e nas telecomunicações, apesar de tudo, houve alguma contenção. Os
salários pagos no ano passado estão ligeiramente abaixo dos que foram
atribuídos no ano anterior. Em companhias donas de supermercados, como a Sonae
e a Jerónimo Martins, a quebra no consumo - e a consequente estagnação das
receitas - teve impacto nas remunerações dos gestores. Mas o principal motivo
terá que ver com “a responsabilidade social e o equilíbrio que quiseram
introduzir para reduzir a amplitude de salários”, explica José António
Rousseau. Na opinião do ex-director geral da Associação de Empresas de
Distribuição e actual presidente do Fórum do Consumo “há uma maior consciência
nestas empresas que o gap entre os salários mais baixos e os mais altos era elevado”.
Prémios aumentam
Os dados da Hay
referentes a Portugal vão ao encontro da tendência verificada pelo levantamento
do SOL: num ano em que a economia portuguesa apresentou uma ligeira
recuperação, a retribuição dos executivos também aumentou. De um modo geral, a
retribuição base dos gestores aumentou 1,5% e a retribuição total
(base+prémios) subiu ainda mais: 5,5%. Esta tendência foi mais evidente em
organizações de dimensão média.
Segundo a Hay, a
retribuição variável tende a manter um peso maior no mix de vencimentos dos
executivos, mas houve uma alteração de critérios na sua alocação: “O factor
mais importante para a sua atribuição passou a ser o dos resultados da
organização, em vez do desempenho individual”.
A retribuição de
médio e longo prazo é destacada como um instrumento de remuneração nos países
europeus e Portugal não foi excepção. Os pacotes de benefícios flexíveis são
outra tendência de remuneração que ganhou importância nos últimos anos.
ana.serafim@sol.pt
joao.madeira@sol.pt
sandra.a.simoes@sol.pt
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