Já estamos em Abril
Comentário Teresa
de Sousa / 1 -4-2015 / PÚBLICO
1. O mês de Abril
começa hoje. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, já avisou que o seu
Governo ficará sem dinheiro para cumprir todas as suas obrigações mais ou menos
a meio do mês. Tem de pagar a dívida ao FMI e tem de pagar salários e pensões. Não
pode fazer as duas coisas. Dito por outras palavras, a Grécia, tal como em
2010, está à beira da bancarrota. Entretanto, em Berlim e, agora, também em
Bruxelas, parece haver todo o tempo do mundo para resolver a situação, evitando
o risco de incumprimento.
A primeira lista
de reformas apresentada pelo Governo grego a 20 de Fevereiro, para obter o
prolongamento do segundo programa de ajustamento até Junho, encalhou nas
negociações técnicas com as “instituições de Bruxelas” (o novo nome da troika).
Alexis Tsipras, recebido há uma semana em Berlim pela chanceler, prometeu
enviar para Bruxelas uma nova lista com medidas mais detalhadas, que ainda não
satisfazem os negociadores, nomeadamente quanto ao calendário da sua aprovação
parlamentar. Fontes da Comissão dizem que há ainda muito trabalho pela frente. Ontem,
ao fim do dia, as negociações foram interrompidas por falta de acordo, o que
não é um bom sinal.
E há em Bruxelas
uma subtil mudança de atitude. Depois de ter ensaiado o papel de “polícia bom”,
a Comissão parece agora mais alinhada com as exigências do Eurogrupo, numa
“frente comum” (18 contra um), explicada pela necessidade de exercer sobre
Atenas a máxima pressão nesta fase final em que o Governo grego começa a estar
entre a espada e a parede. Pierre Moscovici, de visita a Lisboa, disse que a
troika está a trabalhar “dia e noite” para conseguir um bom resultado. Garantiu
que não existe qualquer Plano B, chame-se ele “Grexit” ou “Grexsident”.
A posição oficial
da Comissão passou a ser: o Governo de Tsipras pode fazer todas as reformas que
prometeu ao povo grego, desde que faça também aquelas com que a Grécia se
comprometeu em Bruxelas nos governos anteriores. A questão é se serão
compatíveis e, sobre isso, não parecem restar grandes dúvidas. Os próximos dias
serão decisivos, até porque o Eurogrupo (que terá hoje uma reunião por teleconferência)
já avisou que só voltará a tratar da Grécia depois da Páscoa. Atenas precisa de
receber rapidamente os 7,2 mil milhões de euros que correspondem à última
prestação do segundo resgate, cujo limite foi “estendido” até Junho.
O diário espanhol
El País, citando fontes de Bruxelas, escrevia que o problema maior das
negociações nem sequer são as medidas, mas uma questão que continua a ser tabu:
o que vai acontecer depois de Junho. Ninguém quer falar de um terceiro resgate,
mas alguma forma de apoio financeiro vai ter de se encontrar, porque a Grécia
não estará em condições de se financiar nos mercados num espaço tão curto de
tempo.
2. Pierre
Moscovici veio ontem a Lisboa falar ao Parlamento sobre o que Portugal ainda
tem de fazer, apesar de já ter saído do programa de ajustamento há quase um
ano. O comissário responsável pela Economia e as Finanças, tal como Mario
Draghi e Wolfgang Schäuble, diz que o país fez um esforço “extraordinário” para
chegar onde chegou, mas não adoça a pílula das reformas que considera que ainda
falta fazer numa economia com sérios problemas estruturais, que podem limitar o
crescimento e manter um desemprego demasiado alto por bastante tempo. São estas
reformas que a Comissão espera que estejam contidas no Plano de Estabilidade e
Crescimento e no Plano Nacional de Reformas que Lisboa tem de entregar em
Bruxelas no mês de Abril.
Em ano de
eleições, o Governo português quer mostrar que o cumprimento do programa da
troika abriu as portas ao crescimento económico. O problema é que o investimento
escasseia, o público e o privado. O país só pode contar com os fundos
comunitários e nem o novo Plano Juncker, com mais de 300 mil milhões de euros
para investimento em infra-estruturas energéticas, de transportes e digitais,
está garantido. A Comissão garante que o único critério para ter acesso ao
financiamento é a qualidade dos projectos que cada país apresentar. Se for só
esse o critério, o risco é ele acabar por favorecer os países mais ricos com
economias mais competitivas e não aqueles que verdadeiramente precisam de
investimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário