O número de
furtos de azulejos estava a diminuir desde 2010, mas em
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Câmaras reforçam protecção dos
azulejos, mas furtos estão a aumentar
Lisboa e Vale de Cambra já
proíbem a demolição de fachadas azulejadas e a remoção dos azulejos das
paredes. É o “início de uma nova era”, diz a coordenadora do SOS Azulejo, mas
ainda há muito a fazer
A 3 de Abril um homem de 59 anos
foi detido em flagrante pela PSP de Lisboa, à hora do almoço, a roubar azulejos
do interior de um prédio situado em Belém. Tinha uma caixa cheia na mão, outra
pronta para levar. O ladrão já tinha sido detido 15 dias antes pelo mesmo
motivo e é suspeito de “inúmeros” furtos de azulejos, um crime que está a
aumentar desde o ano passado, apesar dos esforços das autoridades, autarquias e
até da sociedade civil para proteger este património.
Património Marisa
Soares ENRIC VIVES-RUBIO / 19-4-2015 / PÚBLICO
Em 2014 a brigada de obras de
arte da PJ de Lisboa investigou dez furtos de azulejos (houve 14 no país todo),
mais quatro do que no ano anterior. E só no primeiro trimestre de 2015 recebeu
seis participações por crimes desta natureza. “No ano passado houve um aumento
significativo de furtos de azulejos em grandes quantidades, sobretudo de
azulejos de padrão”, diz Óscar Pinto, coordenador da brigada, ressalvando que
nem todos os furtos são denunciados. E os casos que chegam à PSP ou à GNR podem
não ir parar à PJ. Ou seja, os números pecam por defeito.
A maioria dos
furtos ocorre na zona de Lisboa, onde está a maior parte do património azulejar
português. A época mais “negra” situou-se entre as décadas de 1980 e 2000,
durante as quais houve uma perda estimada (segundo números da autarquia) de 25%
dos azulejos artísticos existentes na capital. Nos finais da década de 1990 e
início dos anos 2000, a
PJ investigava em média 30 furtos destes materiais por ano, sendo que um só
caso podia envolver milhares de unidades — e milhares de euros.
O inspector nota
que o número de furtos estava a diminuir desde 2010. Nesse ano a PJ investigou
12 casos, oito em 2011, seis no ano seguinte e seis em 2013. Mas em 2014 a tendência
inverteu-se. A própria sociedade civil, organizada em grupos activos nas redes
sociais (como o Património em Perigo e o Azulejos de Lisboa) e em blogues (como
o Cidadania Lx), tem denunciado inúmeros furtos.
“Sem qualquer
fundamento científico, penso que este aumento está, pelo menos em parte,
relacionado com o aumento do turismo”, afirma o coordenador. Os pequenos
quadrados de cerâmica que revestem milhares de paredes de prédios da capital
atraem cada vez mais a atenção dos turistas. E se uns se contentam com
fotografias ou postais, outros preferem levar azulejos como recordação. O
problema é que muitos dos exemplares à venda em locais como a Feira da Ladra
foram furtados.
No ano passado,
uma iniciativa de Rosa Pomar, investigadora na área dos têxteis tradicionais
portugueses, agitou consciências: um cartaz mostra a fachada azulejada de um
prédio, onde faltam já diversos mosaicos, e nesse espaço livre lê-se uma frase,
em inglês, de apelo aos turistas para que não comprem azulejos nas lojas ou
feiras de velharias. Os responsáveis pelo projecto SOS Azulejo, criado em 2007
pelo Museu da PJ para proteger o património azulejar, apadrinharam a ideia e
têm na calha outra campanha do género.
O combate aos
furtos e à destruição dos azulejos figurativos, desenhados à mão, mais comuns
no interior de monumentos ou de edifícios de arquitectura distinta, tem
beneficiado da divulgação das fotografias dos painéis no site do SOS Azulejo. Já
a protecção dos azulejos de padrão, tipicamente utilizados para cobrir
fachadas, é mais difícil. “Os vendedores dizem que são originários de
demolições e isso é perfeitamente possível, pelo que não há muito a fazer”,
explica Leonor Sá, coordenadora do projecto.
Por isso é que a
medida tomada em 2013 pela Câmara de Lisboa para travar a demolição de fachadas
azulejadas, resultado de uma proposta do SOS Azulejo e também do trabalho
desenvolvido pelo município no âmbito do Programa de Investigação e Salvaguarda
do Azulejo de Lisboa (PISAL), aprovado no final de 2011, representa “o início
de uma nova era”, sublinha Leonor Sá.
O novo Regime
Municipal de Urbanização e Edificação de Lisboa, publicado a 16 de Abril de
2013, proíbe a remoção de azulejos das fachadas, bem como a demolição de
fachadas revestidas a azulejos “de qualquer edificação, salvo em casos
devidamente justificados, autorizados pela câmara municipal”. A medida não se
aplica a novos projectos cujas licenças sejam anteriores à data da publicação
do regulamento — motivo pelo qual este ano houve pelo menos duas demolições de
prédios com fachadas azulejadas, segundo a coordenadora do SOS Azulejo. Mesmo
assim, “é uma mudança de 180 graus na defesa do património azulejar”, afirma,
admitindo, porém, que faltam medidas mais apertadas para proteger os azulejos
de interior, salvaguardados apenas quando os edifícios são classificados.
Através de uma
parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, o SOS Azulejo
está a tentar que todas as câmaras copiem o modelo de Lisboa. A ideia foi
acolhida pela Câmara de Vale de Cambra (Aveiro), que alterou no mês passado o regulamento
de urbanização, incluindo proibições iguais às de Lisboa, embora o concelho não
tenha um património azulejar muito rico. “Entre ter um regulamento que nos
obrigue a avaliar cada caso e a pensar na necessidade de preservar os azulejos,
e não ter nada, preferimos ter”, justifica o presidente da câmara, José
Pinheiro.
As câmaras de
Aveiro, Ovar e Porto criaram há vários anos bancos que recolhem e restauram
azulejos (entre outros materiais de construção civil com valor arquitectónico,
provenientes de demolições), que são depois cedidos gratuitamente aos
munícipes. O Banco de Materiais do Porto, por exemplo, cedeu perto de 7300
unidades nos últimos quatro anos.
Em Lisboa, um dos
objectivos do PISAL era precisamente a criação de um Banco Municipal do Azulejo,
que funcionaria como centro de investigação e de recolha dos mosaicos
provenientes das intervenções de reabilitação urbana. Em Fevereiro de 2014, em
resposta a um requerimento do Partido Ecologista Os Verdes na assembleia
municipal, a vereadora da Cultura disse que existia já uma proposta de
constituição do banco. Mas ainda não avançou.
O director do
Departamento de Património Cultural, Jorge Ramos de Carvalho, disse que está
para breve a criação de uma “equipa fixa” na câmara com poderes reforçados e
dedicada em exclusivo às questões do azulejo. Até aqui, as tarefas previstas no
programa foram realizadas por elementos de vários serviços, a tempo parcial. “É preciso ter alguém em permanência a trabalhar nisto.”
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