Grécia lança primeira ofensiva
sobre o “triângulo do pecado” que controla o país
JOÃO RUELA
RIBEIRO 22/04/2015 - PÚBLICO
O dono da maior empresa de
construção do país foi detido por fuga aos impostos e branqueamento de capitais.
Um dos mais
importantes empresários gregos foi detido nesta quarta-feira e é acusado de
fuga ao fisco e branqueamento de capitais. A detenção de Leonidas Bobolas é
vista como um acontecimento sem precedentes num país dominado por uma pequena
oligarquia familiar.
Não durou muitas
horas a detenção de Bobolas, que acabou por pagar 1,8 milhões de euros – o
valor da sua dívida ao fisco e que ele se havia recusado a saldar no dia
anterior, de acordo com a imprensa grega. No entanto, sobre este proprietário
de um dos maiores grupos económicos gregos pendem graves acusações.
O filho de
Georges Bobolas, um dos maiores oligarcas gregos, é acusado de ter feito sair
do país cerca de quatro milhões de euros e é um dos quase dois mil nomes na
chamada “Lista Lagarde”. O documento, tornado público em 2012, identifica 1991
cidadãos gregos suspeitos de terem dívidas avultadas ao fisco, que escondiam
com contas em bancos suíços, e chegou às mãos da directora-geral do FMI em
2010, quando era ministra das Finanças francesa. Fotis, o irmão de Georges,
também consta da lista.
A investigação a
Bobolas não abrange apenas a “Lista Lagarde”, mas também outros movimentos
suspeitos de capitais para instituições estrangeiras, o que na totalidade
deverá alcançar cerca de quatro milhões de euros, segundo o jornal To Vima.
O caso movido
pelas autoridades gregas contra Bobolas tem um cariz inédito, por tocar na
elite económica que controla empresas em áreas estratégicas, como a construção,
a energia ou os meios de comunicação. É a primeira vez que o membro de uma das
50 famílias mais poderosas da Grécia é envolvido num caso judicial, diz o Le
Monde.
Leonidas Bobolas
é presidente executivo da Ellaktor, a maior construtora do país, responsável por
muitas obras públicas, fruto das relações privilegiadas com os sucessivos
governos. A família Bobolas é dona de um império mediático, através do jornal
diário Ethnos e da Mega, a maior cadeia televisiva privada do país e cuja linha
editorial é bastante crítica do actual Governo grego, liderado pelo partido de
esquerda radical Syriza. Os media controlados pelos Bobolas foram acusados de
terem uma cobertura parcial do processo de privatização das minas de ouro de
Cassandra, em 2003, nas quais um grupo pertencente à família tem uma
participação.
A braços com as
duras negociações com os credores internacionais – Atenas tem dois pagamentos
de mais de 900 milhões de euros ao FMI que vencem em Maio –, o executivo tem
tentado recolher fundos em várias frentes. Esta semana foi anunciada uma ordem
que obriga as entidades administrativas a cederem os excedentes orçamentais ao
banco central, que mereceu a oposição imediata das autarquias. O Governo estima
que poderá reunir cerca de 2,5 mil milhões de euros com estas transferências.
A luta contra a
fraude fiscal é outra das fontes onde o Governo liderado por Alexis Tsipras
pretende recolher o dinheiro para fazer face às suas obrigações. Por outro
lado, é também um dos pilares do programa com o qual o Syriza foi eleito em
Janeiro. Tsipras teceu fortes críticas à inoperância dos sucessivos governos do
PASOK e do Nova Democracia em atacar o poder dos grupos económicos que
representam aquilo a que chegou a chamar “triângulo do pecado”. “Na Grécia, o
verdadeiro poder está com os donos dos bancos, os membros do sistema político
corrupto e os meios de comunicação corruptos.”
Sem comentários:
Enviar um comentário