Os edifícios previstos para o local teriam perto
de mil apartamentos, se fossem todos ocupados com habitação
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Câmara quer vender “coração de
Lisboa” por pelo menos 117,4 milhões
A hasta pública do terreno da
antiga Feira Popular está em preparação. Prevê-se uma edificabilidade de 143
mil m2, com construções que poderão rondar os dez pisos e incluir “habitação,
serviços, retalho e hotelaria”
Inês Boaventura /
18-4-2015 / PÚBLICO
A câmara
presidida por Fernando Medina quer levar “o coração de Lisboa” a hasta pública
por um valor entre 117,4 e 145,3 milhões de euros. Esses valores assentam no
pressuposto de que o terreno da antiga Feira Popular, em Entrecampos, tem uma
edificabilidade de cerca de 143 mil m2 de superfície de pavimento acima do
solo, dos quais pelo menos 60% deverão ser afectos ao uso terciário.
Segundo uma
informação do Departamento de Política de Solos e Valorização Patrimonial da
Câmara de Lisboa à qual o PÚBLICO teve acesso, foram realizadas quatro
avaliações imobiliárias, “com o objectivo de fixar o preço base de licitação e
as demais condições financeiras para a hasta pública” do terreno, que o
município designa por Heart of Lisbon. Foi ainda solicitada a actualização de
uma avaliação efectuada em meados de 2014.
Tendo como
“parâmetro urbanístico de referência” uma superfície de pavimento acima do solo
de 143.712 m2 ,
justificada numa informação do Departamento de Planeamento e Reabilitação
Urbana à qual o PÚBLICO também teve acesso, as entidades que fizeram as
avaliações chegaram a valores entre os 103,976 e os 160 milhões de euros.
Todas essas
avaliações, nota o técnico autor da informação do Departamento de Política de
Solos e Valorização Patrimonial, “tiveram em consideração o cálculo da TRIU [a
taxa pela realização, manutenção e reforço de infra-estruturas urbanísticas],
que entra como factor de custo do desenvolvimento do empreendimento”. Por outro
lado, acrescenta, “não tiveram em consideração a existência de custos a
suportar com cedências e compensações, além da projectada cedência de uma faixa
para o domínio público que consistirá no prolongamento da Rua da Cruz Vermelha,
que irá atravessar o terreno e fazer a ligação à Avenida da República”.
Quanto ao valor
pelo qual o terreno de Entrecampos poderá ser levado a hasta pública diz-se
nessa informação, com data de 15 de Abril, que a sua fixação pode ser feita com
base num de quatro critérios possíveis, todos eles “defensáveis tecnicamente”. Consoante
aquele que se decidir aplicar, a base de licitação poderá variar entre os 117,4
e os 145,3 milhões de euros.
Em relação à data
em que se realizará essa hasta pública, que Fernando Medina já disse de forma
vaga que quer que se concretize em 2015, constata-se na informação que há duas
possibilidades: o lançamento desse processo ocorrer “ainda antes do final de
Julho” ou ser “deferido para Setembro/Outubro”. Para se chegar a uma conclusão,
o técnico municipal faz notar que é preciso fazer “uma análise de sensibilidade
do mercado”, mas também ponderar se se quer promover “um procedimento prévio,
de pré-qualificação de candidatos”.
O autor da
informação considera que tal seria importante, para “assegurar que o promotor
vencedor constitua investidor com um perfil de idoneidade, portador de um
projecto integrado de qualidade para a futura intervenção, e que tenha uma
clara capacidade económica e financeira para iniciar e desenvolver as
actividades relacionadas com os projectos e os trabalhos de construção”.
Apesar de
sublinhar que existiriam “vantagens estratégicas na implementação deste
procedimento de pré-qualificação”, dada a “importância estratégica” do activo
em causa e “a profunda intervenção na cidade que se projecta para o local”, o
técnico do Departamento de Política de Solos e Valorização Patrimonial admite
que a sua realização requereria um período de tempo “não inferior a 4/5 meses”.
“Face à calendarização prevista para o acto público da hasta, neste momento não
é viável implementar este procedimento”, conclui.
O terreno em
causa, onde até 2003 funcionou a Feira Popular e que desde então tem tido
apenas utilizações pontuais (como um circo que ali se instala na altura do
Natal), tem uma área total de cerca de 44 mil m2. O director do Departamento de
Planeamento e Reabilitação Urbana da câmara propõe, numa informação com data de
4 de Março, que a esse terreno seja atribuída uma edificabilidade de 143.712 m2 de superfície
de pavimento acima do solo. Só para se ter uma ideia aproximada do que isso
significa, e considerando a hipótese meramente teórica de que todas as
construções teriam um uso habitacional, estar-se-ia a falar de qualquer coisa
como mil novos fogos no centro da capital.
Para chegar
àquela edificabilidade, o director de departamento foi ver quais eram “as
alturas máximas das fachadas” das frentes edificadas das avenidas das Forças
Armadas e 5 de Outubro e concluiu que no caso do terreno da antiga Feira
Popular se deveriam considerar construções com “dez pisos mais um recuado” ou
“oito pisos mais um recuado”, consoante o uso. A possibilidade de haver pisos
enterrados é também tida em conta, apesar de se observar que parte do terreno
tem “muito elevada vulnerabilidade a inundações” e que a totalidade do lote tem
“muito elevada vulnerabilidade sísmica dos solos”.
No portal Cidade
de Oportunidades, criado pela câmara para divulgar acções de arrendamento e
alienação que o município pretende concretizar, “o coração de Lisboa” é
apresentado como “uma oportunidade única para desenvolver um projecto
imobiliário de grande dimensão no centro” da cidade. Diz-se ainda que o
terreno, para o qual se prevê “a possibilidade de construção de habitação,
serviços, retalho e hotelaria”, será objecto de uma hasta pública “ainda no
primeiro semestre de 2015” .
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