Nos Estados Unidos, as taxas de
juro voltaram a subir e a cotação do dólar apreciou-se. Os fluxos de capitais
em direcção aos mercados emergentes podem, assim, ter chegado ao fim
Os mercados emergentes deixaram
de ser tão atraentes para os investidores, que voltaram a ver nos activos em
dólares fontes de potenciais rendimentos
A China está longe
da recessão, mas o crescimento caiu para níveis que não se viam há décadas
Prejudicadas em
simultâneo pela maior subida do dólar dos últimos 40 anos, pela expectativa de
subida de taxas nos EUA e pela descida do preço de várias matérias-primas, as
economias emergentes estão outra vez no centro das atenções. Voltou o receio de
ocorrência de crises financeiras graves e há quem adivinhe que se esteja a
assistir ao final de um ciclo, com a recuperação dos emergentes face aos países
avançados a passar a ser bem mais difícil do que tem sido nos últimos anos.
Desde 2009, no rescaldo
da crise financeira internacional, que tudo parecia contribuir para o
crescimento das economias emergentes do planeta. Os BRICS — Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul — e outros países sul-americanos e asiáticos de
menor dimensão foram grandes beneficiários das políticas monetárias
expansionistas que os bancos centrais dos EUA e da Europa passaram a aplicar.
Com as taxas de juro
quase a zero e a injecção de liquidez a ser feita em larga escala, os
investidores internacionais tentaram encontrar activos que, embora mais
arriscados, fossem capazes de produzir maiores rendimentos. E foi isso que
encontraram nas economias emergentes. Além disso, as próprias empresas dos
mercados emergentes apostaram em pedir empréstimos a taxas baixas nos EUA e na
Europa para depois aplicarem esse dinheiro em casa, onde as possibilidades de
obter lucros elevados eram bem maiores. O resultado foi um fluxo de entrada de
capitais contínuo nos mercados emergentes que lhes permitiu manter, numa época
de abrandamento nas economias avançadas, um ritmo de crescimento elevado.
Esta época, contudo,
parece ter agora chegado ao fim. Com a Reserva Federal norte-americana e o
Banco de Inglaterra a colocarem um ponto final nas suas compras de activos nos
mercados e, especialmente nos Estados Unidos, a estarem já à vista subidas de
taxas de juro, o ambiente nos mercados financeiros mudou completamente.
O dólar valorizou-se
fortemente face à grande maioria das divisas dos mercados emergentes. Em média,
foi uma subida de 8% nos últimos 12 meses, mas, em relação a algumas moedas,
foi bem mais acentuado: o dólar apreciou-se no último ano 61% face ao rublo,
43% face ao real e 19% face à lira turca, por exemplo.
O que isto significa é
que, agora, os mercados emergentes deixaram de ser tão atraentes para os investidores
internacionais, que voltaram a ver nos activos em dólares uma fonte de
potenciais rendimentos. Igualmente, todos os estados e empresas de economias
emergentes que se endividaram em dólares sentem agora a dificuldade de terem de
suportar uma dívida bastante mais alta quando contabilizada na sua própria
moeda.
A consequência destes
fenómenos tem sido, desde o último trimestre de 2014, uma inversão dos fluxos
de capitais, que começam agora a sair das economias emergentes de volta para as
economias avançadas. Isto pode ainda acentuar-se mais se, na zona euro, se
começar a falar da hipótese de o BCE recuar mais cedo do que o esperado na sua
política monetária expansionista.
É claro que uma
depreciação das divisas face ao dólar pode também constituir uma ajuda para as
exportações das economias emergentes. Mas, para algumas delas, nem isso tem
ajudado muito. O problema é que, ao mesmo tempo, se tem assistido a uma descida
considerável do preço das matérias-primas nos mercados internacionais. Em particular,
o preço do petróleo, mas também o de muitos bens alimentares. Algumas
economias, como as do Brasil e da Rússia, por exemplo, são especialmente
penalizadas por isto.
Neste cenário, são já
evidentes os problemas que várias economias estão a sentir nos últimos meses.
No Brasil, a depreciação do real face ao dólar fez subir a inflação e o banco
central respondeu subindo as taxas de juro, mas, como consequência, a economia
entrou já em recessão em 2014, que se irá prolongar durante este ano.
Na Rússia, a situação
ainda se agrava mais por causa do conflito político com a União Europeia e os
EUA. A economia está já numa recessão profunda e as autoridades sentem grandes
dificuldades em
controlar as flutuações
das divisas.
Turquia, Colômbia e
Tailândia são outros países de menor dimensão que também têm vindo a sentir
problemas.
Na China, a economia
ainda está longe de uma recessão, mas o crescimento está a cair para os níveis
mais baixos das últimas décadas, o que acaba por ter impacto também nos seus
vizinhos asiáticos. É também neste país que pode ser mais notório o impacto sobre
as empresas que se endividaram em dólares e que agora ficam prejudicadas pela
apreciação da divisa.
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