Muito barulho para nada
VASCO PULIDO
VALENTE 24/04/2015 - 05:48
O PS ficou sozinho no meio das
querelas portuguesas, com um arzinho responsável e sabichão, mas terrivelmente
desamparado. Quem vai votar por ele?
Tanta berraria,
tanta indignação, tanta ameaça para desaguar num “documento” amorfo e muito
ambíguo, que não é um “plano”, nem um “programa”, nem uma “bíblia” e que, no
conjunto, não passa de uma espécie de “emenda” à política do Governo. Não
admira que a direita não gostasse (o CDS e o PSD) e que também a esquerda não
gostasse (o Bloco e o PCP; não contando com a UGT e com a CGTP).
O PS ficou
sozinho no meio das querelas portuguesas, com um arzinho responsável e
sabichão, mas terrivelmente desamparado. Quem vai votar por ele? A direita não,
por costume e prudência. A esquerda não, porque vê nas contorções de Costa uma
segunda “evolução na continuidade”, que não muda o essencial e se finge
inovadora e salvífica. O eleitorado, esse, que não sabe interpretar as contas
da “comissão” dos sábios do partido, por enquanto não se manifesta.
O Syriza,
demonstrando a futilidade da intimidação e do escândalo, fez bem ao dr. António
Costa. O PS, como um bom aluno, um dos melhores da classe, jura agora respeitar
os compromissos que Portugal tomou e, principalmente, os credores da sua imensa
dívida — com a Europa e os mercados não se brinca. Mas, respeitando a
autoridade, não lhe sobra grande espaço para promover o crescimento ou para
aliviar a vária miséria dos portugueses. Depois de muito anseio e algumas
voltinhas, Costa acabou por engolir a receita tradicional: “aliviar” a crise,
prolongando por mais tempo a austeridade. Isto evidentemente não traz, no
imediato, um especial alívio ao português comum: e — pior ainda — não garante
que o alívio de hoje não seja amanhã o princípio de um novo desastre.
De qualquer
maneira, o PS nem nesta sua versão respeitosa se consegue libertar dos seus
velhos vícios. Primeiro, o de tratar o dinheiro do contribuinte como se ele
nascesse do chão: falando muito do “capitalismo de casino”, o que ele propõe é
um “socialismo de casino”. Aumenta as despesas e corta as receitas, e a
diferença pagará — com a maior facilidade — se por acaso as coisas correrem
bem. E, se não correrem, quem puder que se arranje. Entretanto, os funcionários
públicos irão recuperar rapidamente os seus privilégios, como compete; o
funcionalismo não diminuirá; a TSU desce tanto para trabalhadores como para
patrões; o emprego precário vai diminuir (“penalizando” as empresas com excesso
de “rotatividade”); e, em homenagem ao igualitarismo da seita, o imposto
sucessório ressuscita para perseguir os “ricos”, como eles merecem, e
presumivelmente para ajudar a classe média e animar o investimento. Deus nos perdoe.
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