O pobre António
VASCO PULIDO
VALENTE 18/04/2015 - PÚBLICO
O pobre António, um mancebo tão
prometedor, não merecia estas maldades.
A televisão e os
jornais por comum acordo quase não tocaram na extravagante irrupção do dr. Manuel
Maria Carrilho pela cena política, mostrando assim um inesperado civismo e
também uma certa pena do dr. António Costa. Esta atitude não foi seguida, como
de costume, pela gente do PS que não perdeu uma oportunidade de se exibir.
Cá tivemos,
portanto, a inenarrável Isabel Moreira, o apparatchik José Lello e o advogado
Ricardo Sá Fernandes, há muito tempo apaixonado por si mesmo. Na impossibilidade
de fechar as 200 mais notórias personalidades do partido num manicómio
especializado, António Costa tem dia sim, dia não que refazer o que elas
desfazem, enquanto tenta desesperadamente convencer a Pátria que o PS é um
partido suficientemente responsável e discreto para nos governar.
Mas basta a
qualquer momento abrir a porta à questão das “presidenciais” para desencadear
uma nova balbúrdia. Pior ainda, essa particular balbúrdia já se desenvolve e
espalha por si própria, sem necessidade de um estímulo externo. A trapalhada
chegou a um ponto tal que os jornais chegam a pedir cristã e moderadamente um
pouco de seriedade. António Guterres, cujo patético estado de indecisão era
notícia permanente quando ele mandava em Portugal, hesitou um ano antes de declarar
numa televisão inglesa ou americana que não tencionava aceitar uma candidatura
a Belém. Enquanto Assis o chamava chorosamente em Lisboa e Augusto Santos Silva
sonhava em o ir raptar a Genebra (?), o que sem dúvida seria uma aventura doce
de contemplar, muito apropriada à melancólica alma do indígena.
Para cúmulo, os
“grandes” do partido seguiram o exemplo de Guterres: Jaime Gama e António
Vitorino saíram dignamente de jogo. Em contrapartida, apareceram, vindos das
mais profundas trevas, duas criaturas sem passado e com escasso futuro: o sr. Henrique
Neto (uma pessoa simpática) e o sr. António Nóvoa, antigo autor de uma tese
intragável, com o título de “Le Temps des Professeurs”. O académico recebeu
logo o apoio público de Mário Soares, de Manuel Alegre e de Carlos César; e,
segundo uma insistente boataria, o apoio privado de Sampaio e de Eanes. Não se
sabe o que estes beneméritos viram em Nóvoa, principalmente considerando que
Nóvoa não tem nada para ver. Perante tudo isto, cresce um grande movimento de
caridade, inspirado pelo destino injusto de António Costa. O pobre António, um
mancebo tão prometedor, não merecia estas maldades.
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