Ex-director
de Equipamentos do MAI acusado de
corrupção e branqueamento
PEDRO SALES DIAS
30/04/2015 / PÚBLICO
Adjudicações
irregulares de obras na PSP, GNR, ANPC e SEF causaram prejuízos
financeiros ao Estado superior as 900 mil euros. Doze arguidos vão a
julgamento por vários crimes de corrupção activa e passiva,
participação económica em negócio, branqueamento de capitais,
abuso de poder e falsificação de documento.
O ex-director geral
de Infra-estruturas e Equipamentos do Ministério da Administração
Interna, João Alberto Correia, em prisão preventiva desde em Abril
do ano passado, foi esta quinta-feira acusado pelo Ministério
Público de corrupção no âmbito de adjudicações irregulares de
obras na esfera daquele ministério que causaram prejuízos
financeiros ao Estado superiores a 900 mil euros, adiantou esta
quinta-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR) em comunicado.
Estão em causa obras na PSP, SEF, GNR e Autoridade Nacional de
Protecção Civil.
No âmbito do
inquérito, 11 arguidos e o ex-director irão a julgamento por vários
crimes de corrupção activa e passiva, participação económica em
negócio, branqueamento de capitais, abuso de poder e falsificação
de documento. João Alberto Correia que esteve até esta quinta-feira
em prisão preventiva, vai passar a aguardar julgamento em prisão
domiciliária, tendo sido o próprio Ministério Público a promover
a alteração da medida de coacção.
“Ficou indiciado
que os arguidos actuaram concertadamente no sentido de beneficiar
determinados empresários, mediante a adjudicação de contratos
públicos em violação das normas da contratação pública e em
prejuízo do princípio da livre concorrência”.
Segundo a PGR, os
valores cobrados a propósito das obras adjudicadas “foram
intencionalmente inflacionados de modo a permitir a obtenção de
mais-valias indevidas para os arguidos, incluindo o ex-director”. O
“Ministério Público, que representa o Estado, deduziu pedido de
indemnização para reparação dos prejuízos causados ao erário
público”, acrescenta ainda a Procuradoria.
Durante a
investigação, que contou com a participação da Unidade Nacional
de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, foram feitas
buscas nas instalações da Direcção-Geral de Infra-estruturas e
Equipamentos do MAI e inquiridas 70 testemunhas. As buscas
alargaram-se ainda vários locais do país, nomeadamente em empresas
de construção civil, numa operação que envolveu algumas dezenas
de inspectores da PJ.
A investigação
passou a pente fino os contratos assinados pelo dirigente. Uma busca
na base de dados da contratação pública permite concluir que João
Alberto Correia recorria em abundância ao ajuste directo, o que
aconteceu 224 vezes nos três anos que esteve em funções. Nesse
período, o dirigente só realizou um concurso público, tendo feito
19 ajustes directos de obras em instalações do MAI com valor entre
os 140 mil e os 150 mil euros, o limite máximo para os ajustes
directos previsto nas regras da contratação pública.
São exemplos disso
a ampliação da sede da Autoridade Nacional de Protecção Civil
(ANPC), em Carnaxide, a remodelação da 2.ª Esquadra do Comando
Metropolitano de Lisboa da PSP, várias obras de adaptação dos
antigos governos civis a instalações do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras (SEF) ou da GNR.
João Alberto
Correia foi nomeado por um despacho de Março de 2011 assinado pelo
então primeiro-ministro, José Sócrates, e pelo respectivo ministro
da Administração Interna, Rui Pereira. Isto duas semanas e meia
antes de José Sócrates ter anunciado o seu pedido de demissão. O
ex-director-geral é doutorado em arquitectura pela Universidade de
Salford, Reino Unido, tendo sido entre 2009 e 2010 consultor para a
área da construção do então secretário de Estado Adjunto das
Obras Públicas, Paulo Campos. Em 2009 foi igualmente adjunto do
secretário de Estado adjunto e da Justiça, Conde Rodrigues.
O inquérito
resultou de uma participação do MAI, então gerido ppelo
ex-ministro Miguel Macedo, que “no âmbito de uma auditoria e
processo de inquérito à Direcção-Geral de Infra-estruturas e
Equipamentos — realizado pela Inspecção-Geral da Administração
Interna — determinou a remessa ao Ministério Público dos factos
apurados com eventual relevância criminal”, salientou então o
ministério.
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