Grécia dá sinais contrários mas
anuncia pagamento que vence na próxima semana
Governo de Atenas parece falar
num duplo registo, o que não pode ser dissociado das negociações em curso com
os credores
Depois
de sinais aparentemente contraditórios, a Grécia anunciou que vai pagar, tal
como previsto, a parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que
vence na quinta-feira. “Estamos prontos para pagar no dia 9 de Abril”, disse o
vice-ministro das Finanças, Dimitris Mardas, à Skai TV.
João Manuel Rocha / 4-4-2015 / PÚBLICO
ALKIS KONSTANTINIDIS/REUTERS
Ministério de Yanis Varoufakis garantiu pagamento ao FMI, mas Governo tem
falado a várias vozes
A afirmação — feita
quando os cofres gregos estão cada vez mais vazios — destina-se a acalmar os
receios de incumprimento e não pode ser dissociada das negociações em curso com
os credores internacionais. A crer em sucessivas declarações, o Governo grego
parece falar num duplo registo.
A meio da semana, foram
divulgadas declarações do ministro do Interior, Nikos Voutsis, em que este
sugeria que se os credores internacionais não libertassem verbas do programa de
assistência financeira que falta concluir, a Grécia não pagaria a tempo o
empréstimo de cerca de 450 milhões de euros que vence no dia 9, optando por
pagar salários e pensões. O risco iminente de incumprimento do pagamento de
dívida, que provocou quase instantaneamente nervosismo nos mercados, levou o
Governo a negar, pouco depois, a intenção de não pagar ao FMI.
Atenas desmentiu também
informações de fonte anónima veiculadas pela agência Reuters, segundo as quais,
na reunião do grupo de trabalho do Eurogrupo de quartafeira, os gregos teriam
dito aos congéneres da moeda única que o país ficaria sem dinheiro a 9 de
Abril. O representante do país teria afirmado que um acordo sobre as reformas
não deveria ser um entendimento post mortem. “Não há forma de podermos ir para
além de 9 de Abril”, teria dito, segundo um responsável da Zona Euro.
Alegado plano B
Mas o cenário de
incumprimento não desapareceu da imprensa internacional: na quinta-feira, o
jornal britânico The Telegraph escreveu que a Grécia está paralelamente a
trabalhar num plano que passaria pela nacionalização do seu sistema bancário e
pela introdução de um novo dracma — a antiga moeda helénica. Isto, no caso de
as negociações com as instituições credoras falharem e de os parceiros da Zona
Euro não aliviarem as suas exigências.
“Somos um Governo de
esquerda. Se tivermos de escolher entre o incumprimento ao FMI ou o
incumprimento com o nosso povo, a escolha é fácil”, disse um responsável
governamental não identificado. “Estão a tentar pôr-nos numa posição em que ou
ficamos em incumprimento com o nosso povo ou assinamos um acordo que é
politicamente tóxico para nós.” Responsáveis do partido disseram estar
conscientes das reacções que uma falta de pagamento ao FMI poderiam provocar.
Por entre afirmações não
assumidas e desmentidos, a Spiegel — que tinha já divulgado as declarações do
ministro do Interior sobre risco de default — citou o secretário-geral do
Ministério das Finanças, Nikos Theocharakis, como tendo dito que a Grécia
estaria “perto do fim” e, provavelmente, não pagaria ao FMI na próxima semana.
A informação, antecipada ontem pela Reuters, a partir um artigo da revista
alemã a publicar hoje, motivou novo desmentido de Atenas.
O financiamento à Grécia
está congelado à espera de um acordo sobre reformas. E as preocupações com a
falta de liquidez do tesouro de Atenas crescem a cada dia que passa. Como
observa a agência noticiosa, a Grécia não recebe fundos do programa de
assistência financeira desde Agosto de 2014. Em Maio chegam novos prazos para
pagamentos.
O novo Governo, liderado
pelo partido Syriza, espera que uma lista de reformas que apresentou na
quarta-feira à Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI desbloqueie os
7,2 mil milhões de euros da última prestação do seu segundo resgate, e conduza
à devolução de cerca de 1,9 mil milhões de euros de lucros realizados pelo BCE
com a dívida grega.
Mas a lista é considerada
pelos credores um “trabalho em progresso”, longe de ser “satisfatório”. Estão
previstas novas discussões no dia 8, mas não há qualquer garantia de obtenção
de um acordo. Atenas propôs uma melhoria em 2015 do excedente orçamental
primário face ao ano passado, com base em medidas para aumentar a receita do
Estado, em valores que mais do que compensariam o acréscimo da despesa pública,
com medidas como o pagamento do 13.º mês aos pensionistas com reformas mais
baixas, retirado no início dos programas da troika.
Com este braço-de-ferro
em fundo, no dia das próximas negociações, 8 de Abril, véspera de vencer o
prazo de pagamento ao FMI, o primeiro- ministro grego, Alexis Tsipras, tem uma
deslocação prevista a Moscovo. O Governo grego disse que, naquela que é a
primeira visita à Rússia desde que foi eleito, Tsipras não vai pedir ajuda.
Citado pela Reuters, Dmitri Peskov, portavoz do Kremlin, considerou prematuro
falar em assistência financeira à Grécia,
Na agenda das discussões
com o Presidente russo, Vladimir Putin, não deixarão, porém, de estar as
relações económicas e as sanções da União Europeia à Rússia, motivadas pela
guerra no Leste da Ucrânia. “As relações entre Moscovo e a União Europeia serão
discutidas à luz da política de sanções de Bruxelas e da ‘atitude muito fria
para com essa política’ por parte de Atenas”, disse o porta-voz.
AFP, PÚBLICO
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