Striptease
Vasco Pulido Valente
04/04/2015 - PÚBLICO
Aparecem quase dia a dia
ajuntamentos com um papel na mão, que pretendem promover causas sem sentido, a
roçar a pura idiotia.
Apareceram ultimamente
muitos pequenos partidos da extrema-esquerda. Depois de uma grande agitação e
uma dança de cadeiras muito complicada, só os peritos nesta espécie esotérica
de fenómenos conseguem perceber o que separa esses partidos entre si, ou que separa
um partido de um grupo, ou um grupo de uma qualquer “personalidade de
televisão”.
Entre Marinho e Pinto, o
“Livre – Tempo de Avançar”, o “Agir”, o “Juntos pelo Povo”, o “Nós” e o “Mas”
(?) e outros de que provavelmente ninguém ouviu falar, a escolha é impossível,
sem uma investigação miúda, histórica, pessoal e pormenorizada. Ainda por cima,
antigamente esta extraordinária fissiparidade assentava nas querelas teológicas
do marxismo, que, embora com repugnância, sempre se iam percebendo. Agora só há
diferenças de programa, de estratégia ou de alianças num futuro imaginário ou
improvável.
Fora isto, que não é
pouco, aparecem quase dia a dia ajuntamentos com um papel na mão, que pretendem
promover causas sem sentido, a roçar a pura idiotia, e se manifestam por aí com
o vocabulário e a ênfase de uma religião apocalíptica. Ora, para além da
facilidade de comunicar pela Internet, seria bom saber o que trouxe à cena
política as várias guerrilhas do nosso patético radicalismo. Claro que a
desagradável tendência para a exibição (e a exposição) explica uma parte
substancial deste amor romântico pelo espectáculo. A peonagem obscura da
sociedade portuguesa descobriu de repente que a política era um bom caminho
para a “fama”; e a crise, naturalmente, produziu a sua própria colheita de
“famosos”.
Mas de que estarão
convencidos na intimidade da sua cabeça, se de facto a têm, os “protagonistas”
das melancólicas seitas, que hoje ocupam a televisão e os jornais? Presumo que
uns tantos ambicionam genuinamente governar, um impulso normal em pregadores de
profissão. E não me admirava que meia dúzia de outros se convencesse mesmo de
que a Pátria precisava das suas luzes. Mas, no fundo, suspeito que a comédia se
basta a si própria. Aquelas pessoas que se arrebanham e separam, se elogiam ou
injuriam, que se indignam ou extasiam, que prometem à Pátria a salvação ou o
abismo, não aspiram a mais do que a passar o tempo, entre os membros da sua
tribo que não sentem, como eles, o ridículo e a futilidade do exercício. E verdade seja dita são inteiramente inócuos.
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