Brasil é o país com mais
activistas ambientais assassinados
Por Jornal i
publicado em 20
Abr 2015
Em 2014 foram
assassinados 116 ambientalistas em todo o mundo, um recorde histórico segundo a
organização não-governamental Global Witness, com o Brasil a liderar o
'ranking' mundial.
Segundo a
organização, registaram-se duas mortes a cada semana e só a América Latina
concentrou três quartos dos casos.
Com 29 homicídios
em 2014, o Brasil lidera o ranking mundial dos assassínios e, segundo a ONG
britânica, as mortes ocorreram em 17 países. Na lista, além do Brasil,
seguem-se a Colômbia com 25 mortes, as Filipinas com 15, as Honduras com 12 e o
Peru com 9.
As informações
constam no relatório intitulado "How many more?" ("Quantos
mais?", em português), divulgado esta segunda-feira.
A América Latina
é considerada a região mais perigosa para a actuação de ambientalistas pela ONG
britânica.
Em cada quatro
mortes, três aconteceram no continente - 87 casos. As mortes registadas em 2014
são 20 por cento maiores em relação ao ano anterior.
Honduras é
considerado o país mais perigoso em termos per capita. Nos últimos cinco anos,
o país da América Central reportou 101 homicídios de activistas.
Segundo Alice
Harrison, representante da Global Witness, os assassínios de ambientalistas não
param de crescer e os números não são todos notificados.
"Os dados
devem ser ainda maiores. As mortes ocorrem, na sua maioria, em lugares remotos
e em comunidades que não têm muitos canais de comunicação", disse à Lusa.
O objectivo do
relatório, afirmou Harrison, é aumentar o conhecimento público, pois mortes
como estas continuam a ocorrer com frequência.
"Há pouca
informação a nível mundial sobre estes casos. Percebemos que a situação vai
piorar ao longo do tempo, há muita pressão sobre terras e recursos naturais
como nunca houve. As mudanças climáticas aumentam ainda mais as pressões sobre
água e terra", considerou.
As principais
causas de ameaças e violências a activistas ambientais decorrem de projectos
hidroeléctricos, extracção de gás, mineração, agropecuária e corte de madeira
ilegal.
Há exactamente um
ano, Carlos Eduardo Francisco, 41, foi encontrado morto em um matagal próximo
ao assentamento Zumbi dos Palmares, no município de Campos dos Goytacazes, na
região Norte do Rio de Janeiro. Este foi o primeiro assentamento de reforma
agrária do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no estado, em 1997, onde
vivem 510 famílias.
Desde Janeiro de
2013, quando foi assassinado o coordenador do MST na localidade, Cícero Guedes,
outros quatro moradores locais já foram mortos em crimes ainda não
esclarecidos.
Segundo as
investigações, a um dos moradores, Carlos Francisco, foram arrancadas as unhas,
olhos e cabelos. Uma das hipóteses levantadas pela polícia é que Francisco
"saberia demais" sobre a morte do líder do MST, Cícero Guedes.
Não foi
descartada a hipótese de execução por pistoleiros que actuam no local após a
desapropriação da Fazenda São José, que deu lugar ao assentamento agrário.
"Pretendemos
ainda monitorizar casos de violência a longo prazo. Há uma grande necessidade
de acompanharmos os casos de activistas que estão vivos e sofrem ameaças. É
muito trágico saber apenas dos nomes de vítimas que morreram após denunciarem
as ameaças e as autoridades não fazerem nada", criticou Harrison.
A Global Witness
também fez recomendações aos países que têm os maiores registos de mortes com o
objectivo de alertar os responsáveis para a necessidade de leis duras para
proteger as vidas em risco.
Lusa
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