Mais de 300 rendeiros podem vir a
ser expulsos das suas casas
Francisco Jonas é
produtor de arroz na Herdade da Comporta desde que se lembra. A herdade, uma
das maiores de Portugal, com cerca de 12 mil hectares, é contígua à casa de
praia de Ricardo Salgado e é propriedade da sociedade homónima. O avô de
Ananias chegou lá há mais de um século, quando o território era “terra de
ninguém”, para limpar do junco e do caniço as terras cobertas de águas paradas.
“Eu nasci aqui”, afirma.
Os recentes
acontecimentos que levaram à derrocada do Grupo Espírito Santo lançaram o
pânico nos mais de 300 rendeiros que exploram parte das terras da Comporta. Pediram
empréstimos para construir as casas que habitam em parcelas que não são suas,
mas onde os responsáveis da herdade — que esteve nacionalizada entre 1975 e
1990 — sempre autorizaram a construção.
Agora temem que a
eventual venda da herdade agrave a situação e sejam postos na rua. “As casas
são nossas, mas os terrenos são da empresa Herdade da Comporta”, conta
Francisco Jonas, frisando que a única coisa que quer é continuar a produzir
arroz. “Se quiserem tirar-me daqui têm que encomendar o caixão”, avisa.
“O ambiente é de
desespero” alerta Avelino Antunes, dirigente do Sindicato dos Agricultores do
Distrito de Setúbal. Em 2016 e 2018 os rendeiros vão ter de renovar os
contratos de arrendamento. Se os actuais gestores da herdade, ou outros que
lhes sucedam, não aceitarem a renovação “pode surgir um problema social de
consequências imprevisíveis”, vinca o sindicalista. Está em causa o modo de
vida de centenas de famílias, algumas das quais ali residem há mais de um
século.
C.D. e J.A.C. / PÚBLICO
/ 20-4-2015.
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