Bloco quer relatório do BES “mais duro” para com Banco de Portugal,
auditores e Governo
LUSA 23/04/2015 -
PÚBLICO
Mariana Mortágua quer ver no
documento final a frase, de Julho de 2014, de Cavaco Silva sobre o Banco de
Portugal e a confiança no BES.
O Bloco de
Esquerda (BE) apresentou nesta quinta-feira as propostas de alteração ao
relatório da comissão de inquérito BES/GES, querendo o partido um texto final
"mais duro" para com o Banco de Portugal (BdP), auditores e o
Governo.
A deputada
bloquista Mariana Mortágua elencou esta tarde, em conferência de imprensa no
Parlamento, as propostas do partido para o relatório final da comissão de
inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), texto a cargo do
deputado do PSD Pedro Saraiva e cuja versão preliminar foi conhecida na semana
passada.
No total, vincou
a parlamentar, são 24 páginas de propostas "sobre 36 pontos
diferentes", parte delas tratando "alterações formais, metodológicas,
de aumentar a transparência na leitura, clarificar e acrescentar
contraditório" e um outro bloco com o "entendimento" do BE sobre
as conclusões.
"Mantemos a
nossa grande conclusão: a responsabilidade [do colapso] é da administração do
BES e do GES é de Ricardo Salgado", declarou Mariana Mortágua,
acrescentando todavia que o texto final do trabalho dos deputados deve
"ser mais duro nas críticas a auditores, supervisores e também à actuação
do Governo".
"Endurecemos
as críticas ao BdP e achamos que o devemos fazer: não comunicou atempadamente à
CMVM e ao mercado o que sabia desde Novembro [de 2013] das contas da Espírito
Santo International [ESI]", advogou a deputada do BE.
No período de
resolução, também o banco central "acabou por não comunicar atempadamente
a resolução do banco à CMVM", levando à queda das acções do BES na bolsa e
ao volume elevado de transacções nas últimas horas do banco antes de conhecida
a medida de resolução. O BdP "muitas vezes agiu tarde e muitas vezes agiu
de forma demasiado branda", criticou a parlamentar.
No que refere aos
auditores, o descalabro do BES e do GES veio "reforçar a ideia" de
que existe um "conflito de interesses" entre o "auditor que é
pago pela entidade que audita", sendo que o relatório deve centrar
atenções também neste ponto, defende o BE.
Já no que compete
à actuação do Governo e outros agentes políticos, o Bloco lembra que está
estabelecido legalmente que compete à ministra das Finanças
"responsabilidades sobre a estabilidade do sistema financeiro".
O partido quer
também acrescentar ao texto final da comissão de inquérito a frase de Julho de
2014 do Presidente da República, Cavaco Silva, sobre o Banco de Portugal e a
confiança transmitida pela entidade no BES e nas suas folgas de capital.
Mariana Mortágua
diz que o partido admite nesta fase "todos os sentidos de voto" na
votação do relatório final, que será conhecido na próxima quarta-feira. "Não
conhecendo as propostas [de alteração] dos outros grupos parlamentares admito
todos os sentidos de voto. No limite qualquer coisa pode acontecer neste
momento", acrescentou a deputada.
As propostas de
alteração dos partidos ao relatório final têm de dar entrada até ao fim do dia
de hoje nos serviços da Assembleia da República.
A comissão foi
proposta pelo PCP – e aprovada por unanimidade dos partidos – e teve a primeira
audição a 17 de Novembro do ano passado, tendo sido escutadas dezenas de
personalidades, entre membros da família Espírito Santo, gestores das empresas
do grupo, reguladores, supervisores, auditores e agentes políticos, entre outros.
O objectivo do
trabalho dos parlamentares é "apurar as práticas da anterior gestão do
BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de
entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos
utilizados pelo BES para financiar essas entidades".
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