quarta-feira, 1 de abril de 2015

PS. Os alertas de Moscovici, por Luís Rosa


PS. Os alertas de Moscovici
Por Luís Rosa
publicado em 1 Abr 2015 in (jornal) i online

António Costa tem tido uma grande ajuda da esquerda europeia nos últimos oito dias - como provam os encontros com Hollande e Renzi. Moscovici fez ontem o papel de polícia mau

Pierre Moscovici é um destacado socialista francês que, desde Novembro do ano passado, é o novo comissário europeu para os Assuntos Económicos – uma espécie de ministro das Finanças da União Europeia. Foi uma das caras da nova era prometida pelo presidente François Hollande, precisamente como ministro das Finanças, e um dos ideólogos das promessas da política do crescimento económico baseado no investimento público que levaram os socialistas franceses de regresso ao poder, contra a política de austeridade de Angela Merkel. E é uma das caras da comissão Juncker que têm procurado apaziguar os ânimos com a Grécia, tentando fazer o papel de polícia bom – que refuta numa interessante entrevista dada ontem ao “Diário Económico”.

É precisamente devido ao currículo anti-austeridade que a visita de Moscovici a Lisboa, integrada na apresentação pelo governo do Programa Nacional de Reformas (que, por sua vez, faz parte da Estratégia Europa 2020, aprovada pelo Conselho da Europa), ganha especial relevância. Equais foram as suas principais mensagens? Além de pouco acrescentar sobre o famoso Plano Juncker, que pretende injectar milhares de milhões de dinheiro público na economia europeia, o socialista francês concentrou a sua mensagem em quatro ideias: Portugal é um caso de sucesso, deve seguir a Irlanda, necessita de mais reformas e precisa desesperadamente de investimento privado. Mais:é necessário continuar a desenvolver as reformas do governo de Passos Coelho e apostar fortemente nas reformas do Estado e da Segurança Social. Essa menção não foi aleatória, já que se trata de duas reformas que o governo PSD/CDS não teve a capacidade ou a coragem para levar avante – e que têm a oposição expressa do PS.

A ênfase colocada no sucesso do programa de ajustamento português não cola com a narrativa do PS. Nem a necessidade de seguir a Irlanda é uma ideia que os socialistas portugueses aceitem de bom grado, já que não são entusiastas de uma economia virada essencialmente para as exportações. Nem o investimento, que o comissário prefere que seja privado em vez de público, parece unir o PSa Moscovici. Não foi por acaso que o deputado socialista João Galamba confrontou o comissário europeu com o facto de os seus argumentos serem favoráveis à maioria PSD/CDS.


António Costa tem tido uma grande ajuda da esquerda europeia nos últimos oito dias, como provam os encontros com François Hollande e Matteo Renzi – além daquele que estava previsto com o próprio Pierre Moscovici em Lisboa. Tais encontros dão estatuto interno e externo a Costa e são um reconhecimento de que podemos estar perante o próximo primeiro-ministro português. Mas a mensagem deixada por Moscovici em Lisboa não deixa de ser um alerta para o que espera António Costa caso ganhe as eleições de Outubro. Mais um.

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