PS. Os alertas de Moscovici
Por Luís Rosa
publicado em 1 Abr
2015 in
(jornal) i online
António Costa tem tido uma grande
ajuda da esquerda europeia nos últimos oito dias - como provam os encontros com
Hollande e Renzi. Moscovici fez ontem o papel de polícia mau
Pierre Moscovici
é um destacado socialista francês que, desde Novembro do ano passado, é o novo
comissário europeu para os Assuntos Económicos – uma espécie de ministro das
Finanças da União Europeia. Foi uma das caras da nova era prometida pelo
presidente François Hollande, precisamente como ministro das Finanças, e um dos
ideólogos das promessas da política do crescimento económico baseado no
investimento público que levaram os socialistas franceses de regresso ao poder,
contra a política de austeridade de Angela Merkel. E é uma das caras da
comissão Juncker que têm procurado apaziguar os ânimos com a Grécia, tentando
fazer o papel de polícia bom – que refuta numa interessante entrevista dada
ontem ao “Diário Económico”.
É precisamente
devido ao currículo anti-austeridade que a visita de Moscovici a Lisboa,
integrada na apresentação pelo governo do Programa Nacional de Reformas (que,
por sua vez, faz parte da Estratégia Europa 2020, aprovada pelo Conselho da
Europa), ganha especial relevância. Equais foram as suas principais mensagens?
Além de pouco acrescentar sobre o famoso Plano Juncker, que pretende injectar
milhares de milhões de dinheiro público na economia europeia, o socialista
francês concentrou a sua mensagem em quatro ideias: Portugal é um caso de
sucesso, deve seguir a Irlanda, necessita de mais reformas e precisa
desesperadamente de investimento privado. Mais:é necessário continuar a
desenvolver as reformas do governo de Passos Coelho e apostar fortemente nas
reformas do Estado e da Segurança Social. Essa menção não foi aleatória, já que
se trata de duas reformas que o governo PSD/CDS não teve a capacidade ou a
coragem para levar avante – e que têm a oposição expressa do PS.
A ênfase colocada
no sucesso do programa de ajustamento português não cola com a narrativa do PS.
Nem a necessidade de seguir a Irlanda é uma ideia que os socialistas
portugueses aceitem de bom grado, já que não são entusiastas de uma economia
virada essencialmente para as exportações. Nem o investimento, que o comissário
prefere que seja privado em vez de público, parece unir o PSa Moscovici. Não
foi por acaso que o deputado socialista João Galamba confrontou o comissário
europeu com o facto de os seus argumentos serem favoráveis à maioria PSD/CDS.
António Costa tem
tido uma grande ajuda da esquerda europeia nos últimos oito dias, como provam
os encontros com François Hollande e Matteo Renzi – além daquele que estava
previsto com o próprio Pierre Moscovici em Lisboa. Tais encontros dão estatuto
interno e externo a Costa e são um reconhecimento de que podemos estar perante
o próximo primeiro-ministro português. Mas a mensagem deixada por Moscovici em
Lisboa não deixa de ser um alerta para o que espera António Costa caso ganhe as
eleições de Outubro. Mais um.
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