Em 2020 tabaco será proibido em
todos os espaços públicos fechados / O Conselho de Ministros aprovou
ainda a proibição do consumo de todo o álcool a menores de 18 anos.
ALEXANDRA CAMPOS
e ANDREA CUNHA FREITAS 23/04/2015 / PÚBLICO
Proprietários de
locais com áreas para fumadores têm cinco anos para se adaptar às novas regras.
Após 2020, haverá espaços para fumadores, mas com regras muito estritas. Consumo
de cerveja e vinho passa a ser proibido antes dos 18 anos.
Até 2020, os
locais públicos fechados passarão a ter que ser livres de tabaco, o que
significa que os que actualmente dispõem de espaços para fumadores terão cinco
anos para se adaptar às novas regras. Está prevista nalguns casos a criação de
áreas para fumadores, mas "sem serviços", de forma a não sujeitar os
trabalhadores do estabelecimentos ao fumo passivo. Esta é uma das sete medidas
incluídas na proposta de lei aprovada esta quinta-feira em Conselho de
Ministros e que vai alterar a lei do tabaco, em vigor desde 2008. Mas o
Parlamento ainda vai ter que discutir e aprovar estas alterações.
Na lei actual, os
restaurantes/bares abaixo de 100m2 podem ser integralmente de fumadores e os
acima de 100m2 podem ter espaços reservados a fumadores. No futuro, os
restaurante e bares terão de ser ainda maiores para poder criar espaços, agora
completamente isolados, para fumadores. Para já, não é especificada qual será a
área necessária - o ministro da Saúde, Paulo Macedo, limitou-se a dizer que
"será sempre algo acima" dos actuais 100 metros quadrados. O limite, disse, será definido posteriormente
por portaria. Por outro lado, as novas regras obrigam a que os espaços para
fumadores a criar no futuro sejam "sem serviços", ou seja, que não
impliquem a exposição dos trabalhadores. Actualmente, de uma forma geral, estas
áreas são partilhadas por fumadores e pelos funcionários desses locais.
Por isso, será
possível fumar, mesmo depois de 2020, em aeroportos, salas e recintos de espectáculos,
de feiras, de casinos e bingos, de hotéis, de restaurantes, entre outros, mas
só "onde possam ser reservados espaços para fumadores separados e
compartimentados" e que "não possuam qualquer serviço, designadamente
de bar e restauração", esclareceu, ao final da tarde, o Ministério da
Saúde. Mantém-se ainda "a possibilidade de haver quartos de fumadores nos
hotéis e similares".
Os responsáveis
de associações de restauração já vieram pôr em causa a anunciada alteração da
lei, alegando que a actual é suficiente e ainda que fizeram investimentos
vultuosos na instalação de exaustores de fumo para poderem ter áreas para
fumadores. Paulo Macedo considerou que o prazo dado para a adaptação às novas
regras (o período transitório das medidas vai até ao final de 2020) é
confortável e "protege os investimentos feitos".
Os cigarros
electrónicos com nicotina serão também regulamentados, prevendo-se a sua
proibição nos mesmos moldes que os outros tipos de produtos. O secretário de
Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, esclareceu que os
cigarros electrónicos terão folhetos informativos onde se informará o
consumidor da sua composição, adiantando que acredita que "haverá uma
tendência natural" para que todos (com ou sem nicotina) deixem de ser
consumidos em locais públicos. Leal da Costa justificou a distinção feita entre
cigarros electrónicos com e sem nicotina por não existir ainda
"entendimento claro na maioria dos organismos que se têm pronunciado"
sobre os seus efeitos.
Quanto aos maços
de tabaco, esses vão passar a ter imagens de choque, em vez de meras
advertências em forma de texto, alertando para os perigos para a saúde.
As alterações à
lei anunciadas pelo Governo foram recebidas com moderado optimismo pela
Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (Coppt). “A proibição de
fumar em todos os locais públicos devia ser imediata”, defende Emanuel Esteves,
presidente da organização, queixando-se da moratória proposta até 2020. “São
mais cinco anos em que estaremos a permitir que surjam consequências do
tabaco”, completa.
A questão das
embalagens, que em princípio manterão os logótipos das marcas, e a ausência de
qualquer referência ao fumo nos automóveis com crianças, também preocupa a
Coppt. Emanuel Esteves chama igualmente a atenção para o facto de a proposta do
Governo ter ainda de ser discutida na Assembleia da República. “Não sabemos o que vai passar”, afirma.
Na semana
passada, aliás, o Conselho de Ministros adiou a decisão sobre a revisão da lei
do tabaco e do projecto de decreto-lei do álcool para esta quinta-feira, por
terem surgido opiniões divergentes na discussão. Questionado sobre estas
divergências, Paulo Macedo afirmou que o Conselho de Ministros "aprovou o
que lhe foi proposto" e que os diplomas foram "aprovados por
consenso", sublinhando que "em relação ao tabaco são medidas com
significativo impacto e equilibradas".
Os três
principais objectivos, reforçou o ministro da Saúde, são o de proteger os
cidadãos da exposição involuntária ao fumo, protegendo em simultâneo os
próprios fumadores, e o de promover uma maior informação. Assim, segundo Paulo
Macedo, os maços de cigarros passam a ter imagens dissuasoras, serão eliminados
aspectos de “natureza subjectiva” como a menção a “light” ou “suave”, e os
produtos de tabaco com aromas distintivos, por exemplo mentol, vão passar a ser
proibidos. Será também reforçado o combato ao tráfico de tabaco, promovendo a
sua "rastreabilidade".
Álcool vedado aos menores
O Conselho de
Ministros aprovou ainda a proibição do consumo de todo o álcool a menores de 18
anos. Actualmente, basta ter 16 anos para poder adquirir e consumir cerveja e vinho,
uma vez que, quando a lei foi mudada, há dois anos, houve um recuo de última
hora e o texto final diferenciou a cerveja e o vinho das bebidas espirituosas. O
que se pretende, avançou Paulo Macedo, é "dar um sinal de que o consumo
álcool antes dos 18 anos deve ser restringido".
Marques Guedes,
ministro da presidência do Conselho de Ministros, fez questão de desmentir
categoricamente as notícias "sobre a intenção de o Governo de criar multas
para os pais". O ministro da Saúde sublinhou ainda que o objectivo do
Governo é uma clarificação e uniformização e não uma "maior
repressão". "Não fomos para soluções de envolvimento adicional dos
pais nem para aumentos de coimas. Não achamos que seja esse o sentido".
"Esperamos
que a lei seja respeitada", disse ainda Paulo Macedo, frisando que a lei
"uniformiza a proibição de venda de bebidas a menores, proíbe o seu
acesso, idependentemente do tipo de álcool" e, desta forma, facilita as
futuras acções de fiscalização das autoridades. "Estão previstas acções de
fiscalização agora mais facilitadas", confirmou.
A proposta do
álcool vai ser enviada ao Presidente da República para promulgação, enquanto a
do tabaco ainda tem de ser discutida e aprovada pelo Parlamento.
com Ricardo Garcia
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