Degradação
VASCO PULIDO VALENTE
01/05/2015 - PÚBLICO
Não
percebe António Nóvia que a sua própria candidatura é o mais
grave e humilhante sinal da “degradação da nossa vida pública”?
Tacticamente tudo se
percebe. Do ponto de vista da baixa táctica política até a coisa
parece habilidosa.
Desde 2011 que
nenhuma sondagem dá maioria absoluta ao Partido Socialista. Donde se
segue que para aguentar um governo minoritário – principalmente um
que se pretende reformista – é preciso um Presidente cúmplice,
muito mais cúmplice do que foi Cavaco com o CDS e o PSD. Mas para
ser elegível esse Presidente não pode ter a mais leve animosidade
do PC, do Bloco e da poeira dos pequenos grupos da extrema-esquerda.
Ora, como ao fim de 40 anos não há gente dessa, a franja radical do
PS acabou por inventar uma não-pessoa, um saco vazio onde venha
donde vier qualquer militante ou simples simpatizante não se
importará de meter o seu voto: no caso o sr. Sampaio da Nóvoa.
Meia dúzia de
homens de músculo político agarraram na criatura e resolveram
enfiar a dita sem grande cerimónia pela goela aberta de um povo
miserável e de uma “classe dirigente” sem destino ou vergonha.
Claro que os socialistas nunca na vida mostraram o menor escrúpulo
em organizar esta espécie de operação. Basta lembrar que o dr.
António Costa tomou o partido de assalto com uma grande dose de
brutalidade e demagogia, perante a equanimidade e o deleite dos seus
queridíssimos camaradas. Agora, a ideia é fazer o mesmo com o país:
a tradição ajuda. Soares como Sampaio estão ali para o trabalho
sujo. Sampaio com o vácuo de uma cabeça onde nunca entrou nada;
Soares com ar rusé, que de quem continua a puxar os fios da intriga.
E Manuel Alegre com a sua insofrível jactância e pretensão moral.
O candidato, esse,
não conta. Cita Sophia de Mello Breyner, “Zeca” Afonso e Sérgio
Godinho, e com esta mistura de um lirismo torpe faz declarações sem
propósito ou consequência. Promete (imaginem só) não se
“resignar” à “destruição do Estado Social”, à pobreza, ao
desemprego, à “exclusão” ou à mais leve força que “ponha em
causa a dignidade humana”. Como tenciona fazer isto, não confessa.
Promete “agir” com “integridade e honradez”, coisa que deve
tranquilizar a populaça já com muito pouco para espremer. E
promete, para nossa perplexidade e espanto, não assistir “impávido”
à “degradação da nossa vida pública”. Não percebe ele que a
sua própria candidatura, fabricada por meia dúzia de maiorais do
PS, à revelia dos portugueses (que nem o conhecem), é o mais grave
e humilhante sinal da “degradação da nossa vida pública”?
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