sábado, 25 de abril de 2015

Mau vento / VASCO PULIDO VALENTE


Mau vento
VASCO PULIDO VALENTE 26/04/2015 - PÚBLICO

Três criaturas sem coisíssima nenhuma que as recomende acharam sensato e permissível suspender a seu benefício uma liberdade fundamental.

O sr. coronel Vasco Lourenço não é o velho e venerando histrião Otelo Saraiva de Carvalho, que de quando em quando larga uma barbaridade para impressionar os vizinhos.

Em primeiro lugar, a maioria dos portugueses sempre gostou de Otelo e nunca gostou especialmente de Lourenço. Em segundo lugar, Otelo está retirado e Lourenço é um político no activo, com tabuleta e porta para a rua, e não pode dizer o que lhe passa pela cabeça. Mas diz. Diz, por exemplo, que os militares têm hoje tanta legitimidade para se liquidar a República como tinham em 1974. Infelizmente, este estranho apelo à rebelião armada não comoveu ninguém. A “Associação 25 de Abril” continua pacificamente a promover as suas causas com o beneplácito do governo e o concurso de uma esquerda sem melhor abrigo.

A megalomania de Lourenço não impressionaria muito se fosse um caso isolado. Mas também o CDS, o PSD e o PS deram esta semana provas de um transtorno mental, que não anuncia nada de bom. Não se sabe como, nem porquê, entrou em certas cabeças destas distintas entidades a ideia de censurarem (e dirigirem) a televisão e a imprensa durante a campanha eleitoral para as legislativas. Perante o berreiro, os responsáveis juraram logo que se tratava de uma brincadeira. Seja como for, resta que três criaturas sem coisíssima nenhuma que as recomende acharam sensato e permissível suspender a seu benefício uma liberdade fundamental. Pior ainda, o dr. Passos Coelho e o dr. António Costa alegaram uma angélica ignorância sobre o que se passava nos seus próprios grupos parlamentares e lavaram as mãos do episódio, sem uma palavra de aviso aos prevaricadores.

São azares da vida, não é? Como a extraordinária greve dos pilotos da TAP, que os vai deixar na rua de triciclo. Claro que a TAP acorda o que há de pior nos portugueses. Basta substituir a expressão corrente “companhia estratégica” por “companhia colonial” para se perceber o histerismo que a história invariavelmente provoca. Os portugueses, coitados, quanto mais pobres ficam, mais se querem dar ares de grandes senhores. A TAP e a lusofonia são as muletas tradicionais da miséria interna: a lusofonia, de facto, não existe e a TAP está falida. Não importa: a nossa putativa importância no mundo continua a ser um bom pretexto para o sentimentalismo de cançoneta e algumas palhaçadas na praça pública. O contribuinte, esse, que se lixe.


Sopra por aí um vento de loucura.

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