Mau vento
VASCO PULIDO
VALENTE 26/04/2015 - PÚBLICO
Três criaturas sem coisíssima
nenhuma que as recomende acharam sensato e permissível suspender a seu
benefício uma liberdade fundamental.
O sr. coronel
Vasco Lourenço não é o velho e venerando histrião Otelo Saraiva de Carvalho,
que de quando em quando larga uma barbaridade para impressionar os vizinhos.
Em primeiro
lugar, a maioria dos portugueses sempre gostou de Otelo e nunca gostou
especialmente de Lourenço. Em segundo lugar, Otelo está retirado e Lourenço é
um político no activo, com tabuleta e porta para a rua, e não pode dizer o que
lhe passa pela cabeça. Mas diz. Diz, por exemplo, que os militares têm hoje
tanta legitimidade para se liquidar a República como tinham em 1974. Infelizmente,
este estranho apelo à rebelião armada não comoveu ninguém. A “Associação 25 de
Abril” continua pacificamente a promover as suas causas com o beneplácito do
governo e o concurso de uma esquerda sem melhor abrigo.
A megalomania de
Lourenço não impressionaria muito se fosse um caso isolado. Mas também o CDS, o
PSD e o PS deram esta semana provas de um transtorno mental, que não anuncia
nada de bom. Não se sabe como, nem porquê, entrou em certas cabeças destas
distintas entidades a ideia de censurarem (e dirigirem) a televisão e a
imprensa durante a campanha eleitoral para as legislativas. Perante o berreiro,
os responsáveis juraram logo que se tratava de uma brincadeira. Seja como for,
resta que três criaturas sem coisíssima nenhuma que as recomende acharam
sensato e permissível suspender a seu benefício uma liberdade fundamental. Pior
ainda, o dr. Passos Coelho e o dr. António Costa alegaram uma angélica
ignorância sobre o que se passava nos seus próprios grupos parlamentares e
lavaram as mãos do episódio, sem uma palavra de aviso aos prevaricadores.
São azares da
vida, não é? Como a extraordinária greve dos pilotos da TAP, que os vai deixar
na rua de triciclo. Claro que a TAP acorda o que há de pior nos portugueses. Basta
substituir a expressão corrente “companhia estratégica” por “companhia
colonial” para se perceber o histerismo que a história invariavelmente provoca.
Os portugueses, coitados, quanto mais pobres ficam, mais se querem dar ares de
grandes senhores. A TAP e a lusofonia são as muletas tradicionais da miséria
interna: a lusofonia, de facto, não existe e a TAP está falida. Não importa: a
nossa putativa importância no mundo continua a ser um bom pretexto para o
sentimentalismo de cançoneta e algumas palhaçadas na praça pública. O contribuinte, esse, que se lixe.
Sopra por aí um
vento de loucura.
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