Itália mobiliza-se para acolher
mais migrantes, oposição mobiliza-se contra Renzi
Rita Siza /
16-4-2015 / PÚBLICO
O
primeiro-ministro de Itália, Matteo Renzi, criticou duramente a
“instrumentalização política” da crise migratória e humanitária nas fronteiras
italianas, depois de mais um naufrágio no mar Mediterrâneo que fez centenas de
vítimas. A farpa dirigia-se ao seu adversário e líder da Liga do Norte, Matteo
Salvini, que pediu aos elementos do partido de extrema-direita para fazerem
tudo o que for possível para impedir o acolhimento de imigrantes e refugiados
em Itália.
As autoridades
começaram a tomar medidas para reagir a um previsível aumento dos desembarques
de imigrantes clandestinos pela via marítima, com o Ministério do Interior a
instruir as administrações regionais para encontrarem soluções de alojamento
temporário que permitissem aumentar a actual capacidade em pelo menos mais 6500
camas. O esforço, dizia o governante, seria repartido pelas diferentes regiões
continentais: a Puglia, no Sul do país, garantiria 250 camas, Lazio e Marche
outras 250, e as restantes seriam divididas entre o Piemonte, a Lombardia,
Tuscana, Emilia-Romagna e Campania.
Mas a medida foi
mal recebida pela oposição, que manifestou a sua apreensão com uma iniciativa
que, na sua opinião, encoraja as pessoas desesperadas e as redes de contrabando
humano a procurar a costa italiana para entrar na União Europeia. “É uma
vergonha absoluta que o Governo, em vez de repelir a invasão de imigrantes
clandestinos, ande a fazer planos para arranjar milhares de camas, naquela que
no fundo é uma cedência ao invasor”, criticou o senador Maurizio Gasparri,
eleito pela Forza Italia, de centro-direita.
Matteo Salvini
foi mais longe, e prometeu que a Liga do Norte ia fazer de tudo para
inviabilizar o acolhimento dos recém-chegados. “Já pedi aos governadores,
autarcas, conselheiros e assessores da Liga do Norte para recusarem, por todos
os meios possíveis, a facilitação do acolhimento. A Liga está preparada para
ocupar casa, hotel, hostel, escola, pavilhão ou armazém destinado ao
acolhimento de supostos refugiados”, ameaçou Salvini, numa mensagem publicada
no Facebook na passada terça-feira. Hoje, alimentou a polémica, em resposta às
críticas: “Quem quiser acolhê-los [aos imigrantes] que abra a porta da sua
casa”.
A presidente da
Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, lamentou as palavras de Salvini, e
sublinhou que a recusa de socorro não vai travar o fluxo de milhares de pessoas
dispostas a correr os maiores riscos para “fugir de conflitos e outras
situações extremas”. “Não creio que não salvar as pessoas no mar seja a solução
para este problema, quer do ponto de vista ético, quer do ponto político”.
Boldrini, que tem
mantido um duelo verbal com Matteo Salvini, comentou o último naufrágio no
Mediterrâneo à margem da apresentação do seu livro, O Olhar Distante, onde
defende a tese de que a imigração é consequência directa da globalização. “Primeiro,
quero expressar as minhas condolências a todas as vítimas. E depois quero dizer
que se deve fazer um esforço adicional nas operações de socorro e salvamento
marítimo”, contrapôs Laura Boldrini, que já ocupou o cargo de portavoz do
Alto-comissariado da ONU para os Refugiados.
Para a deputada
da Forza Italia Giorgia Meloni, que foi ministra da Juventude num Governo de
Berlusconi, a solução passa por impedir o acesso dos barcos que saem do Norte
de África em direcção a Itália. “Devem ser imediatamente inspeccionados. E
aqueles que pertenceram aos traficantes e contrabandistas devem ser
imediatamente afundados”, defendeu.
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