Edifício da
antiga refinaria da Petrogal deverá ser reabilitado
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Manuel Salgado remenda mais uma
proposta relacionada com o GES
Majoração dos índices não está
esclarecida. PSD quer que a proposta seja adiada até haver explicações da massa
falida da Rio Forte
Imobiliário / José António Cerejo / 22-4-2015
O vereador do
Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, leva hoje à reunião do executivo
municipal uma nova proposta de aprovação da viabilidade de um grande
empreendimento imobiliário que a Gesfimo, uma empresa do Grupo Espírito Santo
(GES), pretende levar a efeito nos antigos terrenos da Petrogal, perto da Gare
do Oriente. Uma primeira versão do documento foi já objecto de reservas por
parte do PSD e do PCP, facto que levou à sua retirada na reunião do executivo
municipal realizada há duas semanas.
As alterações
agora introduzidas não se prendem, todavia, com os receios manifestados pela
oposição e que se relacionam com os eventuais riscos, para o município,
resultantes da situação actual da Gesfimo e do GES. Com o novo texto, Salgado
procura apenas ir ao encontro de reservas anteriormente expressas pelos
serviços municipais e que tinham sido ignoradas na proposta original.
Na reunião de há
duas semanas, o vereador António Prôa (PSD) considerou imprudente a atribuição
de direitos de construção de cerca de 91 mil m2 a uma empresa pertencente à Rio
Forte — a holding do GES já declarada falida. No dia seguinte, o gabinete de
Manuel Salgado garantiu ao PÚBLICO que “a proposta não foi retirada” e que
apenas tinha sido adiada a sua apreciação e votação “por solicitação de um
vereador”. No entanto, o texto que será hoje discutido não é o mesmo cuja
votação foi “adiada”. Embora mantenha os mesmos considerandos, Salgado
acrescenta duas condições às três a que a aprovação do Pedido de Informação
Prévia (PIP) da Gesfimo estava sujeita na versão anterior.
As novas
condições têm que ver com os critérios — que não são explicitados — de
“distribuição de benefícios e encargos” da urbanização entre os proprietários
do terreno (a Gesfimo tem 67.791m2 e o município 3410) e, sobretudo, com a
majoração do índice de edificabilidade proposto.
O interesse municipal
A questão da
majoração do índice de 1,2 para 1,45 na maior parte do terreno — com o correspondente
aumento da superfície de pavimento de perto de 6 mil m2 — foi levantada em
várias informações e despachos dos serviços de Urbanismo. Anteriormente, o
Plano Director Municipal (PDM) fixava um índice de 1,2 para o local, mas a
revisão do plano, em 2012, passou a permitir o seu aumento para 1,5 em casos
“excepcionais” de empreendimentos considerados de “interesse municipal”.
Numa das
informações dos serviços, refere-se que “a proposta [da Gesfimo] incumpre o
índice de edificabilidade”, precisamente porque se baseia no índice de 1,45,
quando o PDM estabelece 1,2. Uma outra informação, de Outubro, nota que “se
intui” ser o índice de 1,45 “majorado conforme o previsto” no PDM. “Contudo não
se verifica no presente processo qualquer justificação acerca dessa majoração”,
lê-se no texto.
No despacho
emitido sobre essa informação, a chefe da Divisão de Loteamentos sublinha que
no caso de a Gesfimo querer beneficiar da majoração ela terá de se enquadrar no
regime excepcional previsto no PDM para as operações urbanísticas com interesse
municipal e requerer a sua atribuição. No início de Fevereiro, Salgado
reuniu-se com os projectistas da Gesfimo, tendo ficado assente a forma de
ultrapassar alguns dos problemas identificados pelos serviços camarários. Sobre
a majoração do índice nada ficou escrito. E a proposta de aprovação do PIP
subscrita por Salgado no dia 8 deste mês também nada adiantou.
No entanto, o
texto que hoje será apreciado diz que a aprovação será condicionada “ao
cumprimento das condições” expressas no PDM “para efeitos de majoração do
índice de edificabilidade”. Essas condições traduzem-se no cumprimento de um ou
mais dos oito critérios previstos no plano para que o loteamento possa gozar
dos incentivos criados com o objectivo de estimular “operações urbanísticas que
apresentam interesse municipal, mas que se revelam menos vantajosas do ponto de
vista da promoção imobiliária privada”.
A proposta,
contudo, nada adianta sobre os critérios cumpridos pela Gesfimo para justificar
a majoração do índice e poder construir mais cerca de 6000 m2 . Em contrapartida,
informa que “as áreas propostas de cedências para espaços verdes e de
utilização colectiva a integrar no domínio público municipal cumprem por
excesso os parâmetros” do PDM. E um dos critérios em que poderia ser
enquadrável a atribuição do interesse municipal é o da “transmissão para o
domínio municipal de áreas verdes” a título gratuito “e como acréscimo às
cedências legalmente exigíveis” (art.º 84.º). Só que um outro artigo, o 50.º,
esclarece que, nesses casos, para que haja interesse municipal e majoração dos
índices é preciso que as áreas em excesso a transmitir ao município sejam
iguais ou superiores a 20 mil m2. Ora, neste caso, os serviços camarários
contabilizaram esse excesso em 2201m2.
Na reunião de
hoje, os vereadores do PSD vão apresentar um aditamento à proposta de Salgado
em que defendem o adiamento da decisão sobre o PIP da Gesfimo. O objectivo é
dar tempo à câmara para obter do gestor da insolvência da holding em que se
insere a Gesfimo uma justificação plausível para a urgência da viabilização do
loteamento.
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