VEM Para já eles preferem ficar
Governo lançou em Março programa
de apoio ao regresso de emigrantes. Pode o VEM fazer a diferença? O PÚBLICO
ouviu um investigador que receia que não e três jovens emigrados que parecem
dar-lhe razão
Ana Maria
Henriques / 27-4-2015 / PÚBLICO
Oapelo de
regresso é feito aos emigrantes e o programa criado pelo Governo para os
aliciar chamase VEM. Integra o Plano Estratégico para as Migrações (PEM) eé o
acrónimo de Valorização do Empreendedorismo Emigrante. Visa apoiar “projectos
de criação do próprio posto de trabalho, ou empresa, por parte de emigrantes
com intenção de regressar a Portugal e empreender”, explicou em Março o
secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional,
Pedro Lomba. Será suficiente?
FOTOS: DR
Pedro Góis,
investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e
professor da Universidade do Porto, estudioso dos movimentos migratórios
portugueses, acredita que o VEM será “inconsequente”.
Do novo PEM fazem
parte a atribuição de apoios a empresas que contratem emigrantes desempregados,
a abrangência destes emigrantes pelo programa Reactivar (que prevê estágios de
seis meses para desempregados de longa duração, acima dos 30 anos e inscritos
há pelo menos 12 meses em centros de emprego) e o programa VEM. Este último vai
apoiar “até 40, 50 projectos” de pequenos empreendedores, numa primeira fase,
com até 20 mil euros de subvenção não reembolsável, garantiu Pedro Lomba.
O problema, diz
Pedro Góis, “não são os 40 ou 50 projectos, bem sucedidos, que é capaz de haver”.
“Faltam os outros 200 mil e tal de que necessitaríamos”, aponta. Isto porque,
de acordo com resultados de um estudo sobre a nova emigração, em 2011
contabilizavam-se 250 mil pessoas “que tinham estado pelo menos um ano contínuo
a viver no estrangeiro e que tinham depois regressado”. “No momento em que saem
do país 100 mil pessoas por ano, se conseguirmos fazer regressar 50,
provavelmente nem notaremos o seu regresso”, critica.
Não há, para já,
uma estimativa quanto ao número de emigrantes que podem vir a beneficiar destas
medidas. “Se conseguirmos apoiar emigrantes que querem voltar, reinserir
emigrantes no mercado de trabalho, aproveitar a experiência profissional que os
emigrantes adquiriram lá fora, isso é que interessa destacar”, afirmou o
secretário de Estado no final de um Conselho de Ministros, em Março.
“Não me
surpreende que quem saiu há pouco tempo não queira voltar imediatamente”,
admite Góis — até porque os estudos mostram que a maioria volta ou nos
primeiros cinco anos após ter saído ou no fim da carreira profissional, isto é,
na idade da reforma. Incluir a oferta de estágios, no âmbito do Reactivar, como
forma de incentivar ao regresso, não é solução, continua. Os estágios “são uma
óptima oportunidade para se fazer a transição entre o que é um ensino
profissional e académico e a vida activa”, durante um período “curto” e baseado
“numa aprendizagem do saber fazer”. Ora, quem já emigrou, prossegue o
investigador do CES, “já tem esse saber fazer e não é através de um estágio que
vai querer voltar”. Esta ideia configura “uma mensagem errada, mal remunerada,
sem grande utilidade em termos práticos”.
O PÚBLICO ouviu
três jovens que vivem e trabalham no estrangeiro há vários anos. Estão entre
aqueles a quem o programa VEM se dirige, mas as opiniões de Tiago Almeida,
Carina Ferreira e Joana Caldeira Martinho parecem coincidir com a de Pedro
Góis. O VEM, por si só, não chega para aliciar emigrantes a regressarem a
Portugal, acreditam.
“Num tempo que
encoraja a mobilidade das pessoas, que é uma coisa positiva e até é, em grande
medida, um dos traços identitários da União Europeia — e nós, no nosso caso,
estamos inseridos em mais espaços —, é essencial haver medidas e incentivos que
apoiem o regresso de quem está lá fora. Que tenham as mesmas condições para
aproveitar as oportunidades que o país gera”, disse Lomba ao apresentar o
programa.
“Nenhuma das
pessoas que emigrou esteve à espera do Estado e para voltar também não vai
esperar pelo Estado”, avisa Pedro Góis, para quem “as oportunidades do país
existem além dos governos”. Medidas ou números à parte, desmistifica, “circular
é algo absolutamente normal”.
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