Passos quer flexibilidade de
Bruxelas para reduzir TSU e reformar pensões
Redução de funcionários do
Estado, através de programas de rescisões, é outra prioridade da ministra das
Finanças Maria Luís Albuquerque
Sérgio Aníbal e
Raquel Martin / PÚBLICO / 17-4-2015
O Governo conta
chegar ao final de 2015 com um défice inferior a 3% e quer aproveitar a
flexibilidade permitida por Bruxelas para reduzir a taxa social única (TSU) das
empresas, avançar com o plafonamento das pensões e continuar a reduzir
trabalhadores no Estado.
Estes foram os
exemplos dados pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, para
ilustrar a forma como Portugal pode vir a utilizar a chamada cláusula de
flexibilidade orçamental prevista nas regras europeias, para poder lançar
investimentos (na área das infra-estruturas energéticas, como exemplificou) ao
abrigo do Plano Juncker e levar a cabo reformas estruturais.
Para já, estas
são apenas ideias. “O Governo não pede neste momento a utilização destas
cláusulas de flexibilidade porque, para formalizar esse pedido, seria
necessário que as medidas e reformas em causa estivessem especificadas,
decididas, detalhadas e os seus efeitos quantificados”, justificou. “Mas
sinalizamos desde já a intenção de, neste horizonte temporal, vir a usar essa
cláusula de flexibilização”. A redução das contribuições para a Segurança
Social pagas pelas empresas é, segundo a ministra, “uma boa candidata” ao
pacote de reformas estruturais.
Por enquanto é
“uma ideia de uma reforma importante para fazermos no futuro”, que não foi
discutida no Conselho de Ministros desta quintafeira e que parte da “observação
empírica” e de “muitos estudos” - que não especificou - sobre os impactos
positivos no investimento e na criação de emprego. “Não há nenhuma medida para
propor à Comissão Europeia sobre a TSU”, garantiu Maria Luís Albuquerque.
Neste momento
apenas há uma certeza: “Não pretendemos ressuscitar a redução da TSU para o
empregador, compensada pelo aumento da TSU do trabalhador [referindo-se à
medida proposta pelo Governo em 2012 e que acabou por cair]. Essa proposta não
está, nem estará em cima da mesa”.
Os exemplos dados
por Maria Luís Albuquerque recuperam promessas que foram ficando para trás ao
longo da actual legislatura e ao mesmo tempo dão um sinal do que esperar se
Pedro Passos Coelho for reeleito.
O plafonamento
das pensões, medida prevista no programa de reforma do Estado, não está
esquecido. Para a ministra das Finanças, a introdução de tectos para a formação
de pensões dos mais jovens - “uma medida que contribui para a sustentabilidade
a mais longo prazo dos sistemas de pensões” - é outra reforma a ponderar. A
redução de funcionários também continuará a ser uma prioridade, tendo os
programas de rescisões sido apontados como outra das possíveis reformas a levar
por diante.
Bruxelas permite
que os países que estejam sob o braço preventivo do Pacto de Estabilidade, isto
é, que já não estejam sujeitos a procedimento por défice excessivo (mais de
3%), possam desviar-se um pouco das metas orçamentais para realizarem reformas
estruturais e aumentarem o investimento.
Deste modo, se
apresentar uma reforma estrutural significativa, com efeitos positivos de longo
prazo no orçamento e que já tenha sido implementada ou esteja muito bem
detalhada, um Governo pode desviar-se do seu objectivo orçamental de médio
prazo (que para Portugal é um défice estrutural de 0,5%, que o Governo diz
poder atingir em 2016). O desvio não pode contudo ser superior a 0,5% do PIB
(cerca de 850 milhões de euros em Portugal) e deve ser corrigido pelo menos ao
fim de quatro anos. O défice nominal abaixo de 3% também não pode ser posto em
causa.
Para o
investimento público, a flexibilidade é semelhante. Neste caso, para obter a
autorização a falhar as metas orçamentais por conta do financiamento de
projectos de investimento, o país tem ainda de estar, ou em recessão, ou com um
PIB abaixo do seu potencial.
Pensões vão ter cortes
Nos seus planos
para o futuro, o Governo continua a insistir na reforma do sistema de pensões. A
meta inscrita no Programa de Estabilidade aprovado nesta quinta-feira aponta
para uma poupança de 600 milhões de euros no próximo ano, mas as medidas que a
permitirão alcançar não estão ainda definidas e dependem de um acordo com o PS.
A estimativa de
poupança apresentada por Maria Luís Albuquerque tem como base a reforma do
sistema de pensões previsto no Documento de Estratégia Orçamental (DEO) de 2014
e que foi chumbada pelo Tribunal Constitucional. Trata-se, contudo, de uma
“hipótese técnica”, que não poderá ser aplicada, reconheceu.
“Os moldes em que
esse resultado pode ser alcançado” terão de ser discutidos com o PS.
Do lado do
Governo, disse a ministra, há abertura para o diálogo. Do lado do PS, a
resposta não tardou. “Essa política de cortes não funciona, parece ser
inconstitucional e, como tal, o PS não alinha nesse tipo de estratégia”, reagiu
João Galamba,
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