Nova associação de professores
rejeita acordo ortográfico nos exames nacionais
GRAÇA BARBOSA
RIBEIRO 17/04/2015 - 20:01 (actualizado às 20:38) / PÚBLICO
A defesa da possibilidade de os
estudantes utilizarem, este ano, ambas as grafias, nas provas nacionais, é a
primeira iniciativa da nova associação, a Anproport.
A primeira
iniciativa da direcção da Associação Nacional de Professores de Português
(Anproport), que este sábado faz a sua apresentação pública, será reclamar
junto do Ministério da Educação e Ciência (MEC) que seja permitido o uso da
grafia de 1945 aos estudantes que este ano fazem exames nacionais de Português.
O presidente, Fernando Nabais, argumenta calendário de aplicação à avaliação
externa do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) foi estabelecido “na expectativa
de que a nova grafia estaria, nesta altura, consolidada, o que está muito longe
de se verificar”.
“A Anproport não
foi criada contra o AO90 nem se afirma contra ele. Mas defende que o acordo
deve ser debatido e avaliado e que, se se concluir que é prejudicial, deverá
revogado”, disse Fernando Nabais, em declarações ao PÚBLICO. Sublinhava, assim,
um dos pontos em que a Anproport se distingue da Associação de Professores de
Português (APP), criada em 1977, cuja actual presidente, Edviges Ferreira,
afirmou, recentemente, que “se o MEC determina que o AO90 é para cumprir, [os
professores] só têm de obedecer”.
Segundo Fernando
Nabais, a perspectiva da nova associação é que “nada passa a ser positivo pelo
único facto de estar legislado. No que respeita à ortografia, em particular,
diz, “o que actualmente se verifica é o caos, que resulta da utilização
simultânea de ambas as grafias e do que não é uma coisa nem outra”. “Não é
invulgar depararmos com palavras que não existem na publicidade, nas legendas
da televisão e até em documentos oficiais”, repara. Considera que a situação é
especialmente grave em relação aos alunos do 12.º ano, para os quais uma
centésima a menos ou a mais pode determinar a entrada ou não num curso do
ensino superior. Isto porque, no limite, os estudantes podem perder até quatro
valores (em 20) devido a erros ortográficos, sublinha.
Outro dos motivos
que Fernando Nabais aponta para que parte dos docentes da disciplina não se
reveja na mais antiga associação profissional, é a postura daquela face “ao
regresso dos clássicos e à revalorização da história da literatura e da própria
literatura” no novo programa do ensino secundário, que será aplicado pela
primeira vez no próximo ano lectivo.
“Ouvimos a
presidente da APP defender que do programa deviam constar autores mais recentes
e mais próximos da realidade dos alunos, que de contrário passarão a detestar a
disciplina. Já nós consideramos inaceitável que um aluno possa fazer 12 anos de
escolaridade sem saber que D. Dinis ou Fernão Lopes escreveram uma linha.
Quando se toma este tipo de decisões, o critério não pode ser se os alunos se
identificam ou não imediatamente com as obras”, disse, defendendo “o rigor e a
exigência”.
Contactada pelo
PÚBLICO, a presidente da APP, Edviges Ferreira, assegurou que a direcção da
associação se fará representar na apresentação pública da Anproport, marcada
para as 11h deste sábado na Biblioteca da Escola Secundária Pedro Nunes, em
Lisboa. “Na medida em que tem nos seus órgãos sociais os autores das metas e
dos novos programas de Português, é muito natural que as pessoas que integram a
nova associação não se revejam nas posições da APP, que os tem contestado
publicamente. Mas isso não tem mal nenhum, tornará o debate mais interessante,
pelo que fazemos questão de estar presentes e de desejar as maiores felicidades
aos nossos colegas”, afirmou.
Quanto ao AO90,
Edviges Ferreira esclareceu que “a APP nunca tomou uma posição favorável ou
desfavorável” por entre os seus associados “não existir unanimidade em relação
ao assunto”. Segundo diz, “existindo professores de Português que concordam com
a aplicação do AO90 e outros que discordam”, “a única posição possível da
associação é colocar isso em segundo plano e proteger alunos, cumprindo a lei e
os despachos que determinam que este ano o AO90 é aplicado na avaliação
externa”.
Em relação ao
programa do secundário, Edviges Ferreira recordou o parecer da APP feito na
altura da sua apresentação. Nessa ocasião,
a presidente da APP criticou o elevado número de obras literárias
incluído no programa, o facto de aquele ser excessivamente extenso e
prescritivo (com a indicação de capítulos específicos de cada obra e até de
excertos e de poemas) e a sua alegada desadequação, por exemplo, a alunos do
10.º de escolaridade, “um ano crítico, marcado por altos níveis de insucesso,
por corresponder a uma fase de transição e por as turmas serem muito
heterogéneas”.
A APP já se
manifestoum também contra o novo programa de Português e Metas Curriculares
para o Ensino Básico, cuja consulta pública terminou esta sexta-feira.
Defendeu, em concreto, a sua não homoligação, por considerar que o documento
"tem erros educativos e científicos". A Anproport não emitiu qualquer
parecer sobre esse ou outros assuntos, disse Fernando Nabais, que adiantou que
essas serão tarefas para desenvolver nos próximos meses.
O presidente da
nova associação confirmou que Helena Buescu, presidente da comissão científica
responsável pelas metas curriculares e pelo programa de Português do Ensino
secundário, é presidente da mesa da assembleia geral da nova Anproport, mas
desvalorizou o facto. “Não excluímos pessoas por serem autoras de programas ou
de manuais ou por serem de esquerda ou de direita. As pessoas juntam-se por
terem visões comuns”, afirmou.
Durante a próxima
semana a Anproport divulgará as páginas na internet da associação e a forma
como os professores se podem tornar associados. O objectivo, de acordo com
Fernando Nabais, é reunir docentes de todos os níveis de ensino, do pré-escolar
ao Superior.
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