“Faz-me muita impressão que, num
curto espaço de tempo, haja tanto investimento chinês”, afirmou recentemente o
presidente executivo do BPI, Fernando Ulrich
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Portugal foi o país da UE com
maior peso de investimento chinês em 2014
Os 1839 milhões de investimento directo correspondem a 1% do PIB, colocando
o país acima do Reino Unido e Itália
Luís Villalobos /
26-4-2015 / PÚBLICO
O investimento
directo chinês em Portugal atingiu os 1839 milhões de euros (2000 milhões de
dólares) no ano passado, sendo apenas ultrapassado, no mercado europeu, pelo
Reino Unido, Itália e Holanda. No entanto, a economia portuguesa foi a que
absorveu o maior peso do capital chinês ao nível da União Europeia, já que é
preciso ter em conta a dimensão da riqueza dos países em causa.
Bank of China
teve um lucro de 25 mil milhões de euros em 2014, mas saiu da corrida ao Novo
Banco
Expostos de forma
simples, os dados avançados pelo presidente da Associação de Comerciantes e
Industriais Luso-Chinesa, Choi Man Hin (que é também presidente da EstorilSol),
não mostram o facto mais relevante: que o investimento chinês no ano passado
correspondeu a 1,06% do PIB português, ficando bastante acima dos outros
países. Aquele que mais se aproxima é a Holanda, com 0,32% do PIB (ver
infografia).
A maior parte do
contributo foi dada pela Fosun, que no espaço de poucos meses passou do
anonimato a maior investidor chinês, com a compra da Fidelidade, da ES Saúde e
de uma fatia de 5% da REN (dominada pela chinesa State Grid), atirando o valor
das aquisições da Fosun para os 2,2 mil milhões de euros.
Além disso, há
outros pequenos negócios e os montantes dos vistos gold. Desde o final de 2012
até Março deste ano, os chineses aplicaram, pelo menos, cerca de 910 milhões de
euros nos vistos gold (fazendo o cálculo entre o valor mínimo para receber o
visto, 500 mil euros, e o número de vistos aprovados).
As diferenças
entre os dados citados por Choi Man Hin (cuja fonte é o grupo Rhodium, em
dólares) e os considerados pelo PÚBLICO devem-se ao facto de nem todos os
investimentos virem directamente da China, além de questões cambiais.
A velocidade e
intensidade de entrada de capitais chineses na Europa ficou bem atestada por
Choi Man Hin (presente na cerimónia de apresentação do site Portuguese Economy
Probe em mandarim, na terça-feira), quando referiu que o investimento directo
deste país chegou aos 16,5 mil milhões de euros no ano passado, mais 50% do que
em 2013. Os principais sectores visados foram a energia, o agro-alimentar, o
imobiliário e a agricultura.
A tendência
deverá manter-se, ou até acelerar, como mostra a compra do BES Investimento
pela Haitong (cujo desfecho precisa ainda da luz verde dos reguladores), a
aquisição da Pirelli em Itália ( já este ano) ou o interesse da Fosun e da
Hanbang no Novo Banco (dois entre cinco candidatos). Caso a Fosun ou a Hanbang
fiquem com o banco intervencionado no Verão do ano passado (a proposta
financeira é o requisito mais importante), será o maior negócio de aquisição de
uma empresa portuguesa, rondando os 4000 milhões de euros.
Apesar de o seu
peso ainda não rivalizar com o de outros países em termos de investimento
acumulado, os montantes dos últimos anos e a visibilidade dos negócios têm
deixado algumas personalidades em alerta. “Faz-me muita impressão que, num
curto espaço de tempo, haja tanto investimento chinês”, afirmou recentemente o
presidente executivo do BPI, Fernando Ulrich (afastado da corrida ao Novo
Banco).
Citado pela Lusa,
referiu que se sentia “chocado” por Portugal “ser o porta-aviões da China para
entrar na Europa”. “Ninguém fica escandalizado que o presidente da Fosun seja
membro do comité do Partido Comunista Chinês”, acrescentou.
Presente na
cerimónia de apresentação do Portuguese Economy Probe (um site destinado a
divulgar dados da economia portuguesa no estrangeiro para promover a imagem e
investimentos no país), o presidente da Associação Portuguesa de Bancos fez
questão de ser mais diplomata, em nome do sector, ao afirmar que não havia
nenhuma razão para os candidatos chineses não serem bem recebidos.
Alicerçada numa
lógica do Estado chinês de maior internacionalização das suas empresas (a
política de “Go
global”), ao
mesmo tempo que se defrontam com uma forte concorrência no seu mercado interno
e procuram novas valências, a investida chinesa ganhou novas oportunidades com
a crise do euro e a falta de liquidez das empresas portuguesas (e não só).
Assente em vastas
reservas monetárias, o Estado chinês apoia de forma directa ou indirecta as
empresas do seu país (sejam elas estatais ou não) para ganharem novos mercados.
Só em Portugal, e desde 2011, o valor dos negócios já ultrapassa os 11 mil
milhões de euros, valor que pode chegar rapidamente aos 15 mil milhões com o
Novo Banco.
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