Obras ilegais em edifício
emblemático do Cais do Sodré vão ser demolidas
Antigo posto da Guarda Fiscal vai
voltar a servir de restaurante. Proposta camarária de espaço para apoio a
turistas não avança
Em torno do pavilhão de madeira
foram erguidas paredes constituídas por painéis de vidro que criaram um espaço
fechado. Os trabalhos não dispunham de qualquer licenciamento e estavam
praticamente concluídos quando foram embargados
José António
Cerejo / 16-4-2015/ PÚBLICO
O outrora
emblemático posto da Guarda Fiscal do Cais do Sodré, uma espécie de challet em
madeira cuja origem remonta a 1904 e que esteve em funcionamento até 1993, está
outra vez em obras, depois de os trabalhos ali realizados nos últimos 20 anos,
parte deles ilegalmente, o terem desfigurado por completo.
O edifício, que
ardeu e foi reconstruído mais de uma vez ao longo dos anos, foi quase destruído
pelo fogo após a saída da Guarda Fiscal. Pouco depois foi recuperado para ali
ser instalado o restaurante Guarda Rios. Nos anos seguintes foi sendo ampliado
com esplanadas e anexos, acabando por fechar por volta de 2010.
Novamente
abandonado e vandalizado, voltou a sofrer grandes transformações e acrescentos
para acolher o restaurante Alma Lusitana, em meados de 2011. No final do ano
seguinte fecha mais uma vez, sucedendo-lhe o mesmo que nos períodos de abandono
anteriores.
Meses depois, em
Maio de 2013, a
Câmara de Lisboa apresentou o Projecto para a Requalificação do Espaço Público
do Cais do Sodré e Corpo Santo. Desenvolvido pelo arquitecto Bruno Soares, o
projecto propunha, entre outras coisas, a “adaptação do antigo edifício da
Guarda Fiscal (...), eliminando os actuais alpendres que o envolvem e repondo a
traça original do edifício para apoio aos turistas e visitantes, podendo
incluir aluguer de bicicletas e de outros meios de transporte suave”. “Neste
sentido deverá ser demolida a esplanada coberta recentemente construída.”
Completamente à
margem desta proposta camarária, os concessionários do espaço, que é
propriedade da Administração do Porto de Lisboa (APL), iniciaram pouco depois
um conjunto de obras ilegais que deixaram ainda mais irrreconhecível o que
sobrava do edifício da extinta Guarda Fiscal.
Em torno do
pavilhão de madeira, encimado por um torreão, foram erguidas paredes
constituídas por painéis de vidro, que criaram um espaço privado e fechado com
quase três vezes a área da construção de madeira. Os trabalhos, que não
dispunham de qualquer licenciamento camarário ou da APL, estavam praticamente
concluídos quando as autoridades portuárias os embargaram, em Fevereiro do ano
passado.
De acordo com a
assessoria de imprensa da Câmara de Lisboa, a obra foi interrompida após o
município ter “solicitado a colaboração dessa entidade [APL] no sentido da
reposição da legalidade urbanística”.
Desde então o
pavilhão ficou novamente ao abandono, voltando a ser vandalizado, com vidros
partidos e paredes graffitadas, e constituindo um péssimo cartão-de-visita para
um dos locais mais turísticos de Lisboa — entre a estação ferroviária do Cais
do Sodré e o Tejo.
De acordo com a
agência de comunicação que presta serviço à APL, “foi recentemente iniciado o
processo de recuperação e reutilização daquele espaço com respeito pela
natureza inicial do edifício, procedendo-se à demolição parcial de elementos
que tinham sido indevidamente adicionados ao edifício original. Este processo
de recuperação, a cargo de particular a quem foi atribuído o direito de
utilização do espaço, fará o edifício regressar ao uso anterior”.
Até ao início
desta semana não tinha sido feita qualquer demolição dos acrescentos
construídos ilegalmente, verificando-se, porém, que estava a ser edificado um
novo anexo que ocupa integralmente uma ruela de cerca de cinco metros de
largura, que até agora separava o antigo posto da Guarda Fiscal do vizinho
restaurante Ibo.
A APL acrescenta
que, após o embargo dos trabalhos anteriores, decorreu o “processo de
regularização, com apresentação de novo projecto”, tendo sido emitida, em
Janeiro deste ano, a correspondente licença de obras, “salvaguardando a
natureza inicial do edifício”.
Segundo a APL, as
paredes de vidro que circundam o pavilhão serão desmanteladas. O projecto, da
autoria do arq. Dante Macedo, contempla um “elemento de articulação” entre o
antigo posto da guarda e o restaurante Ibo (explorado pela mesma empresa), que
“pretende transmitir leveza e transparência, através de uma linguagem de grande
simplicidade arquitectónica”. O acrescento em questão, com uma estrutura em
vidro, ocupará uma área de 180
m2 de área de implantação, à qual acrescerão ainda 76 m2 de esplanada.
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