NÃO, NADA MUDOU OU MELHOROU. (VER POST ANTERIOR).
ESTE CONJUNTO DE ARTIGOS FOI PUBLICADO A 2 de OUTUBRO de 2013.
Carta a um filho que emigrou
Nicolau Santos / 30 de Setembro de 2013
Não sei, meu filho, como te vai correr a vida, agora que
foste à procura de emprego fora de Portugal. Nem a dos teus amigos que estão no
Brasil, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China, Angola, Moçambique. Sei
somente que a tua geração se preparou, esforçou, estudou, trabalhou arduamente
para ter um futuro diferente deste. Sei também que houve gerações antes de
vossa que lutaram, sofreram, morreram para que este país fosse diferente e que
não mais os seus cidadãos tivessem de emigrar para poderem ganhar a vida
condignamente.
Sim, eu sei que a tua geração está muito mais bem preparada
e é muito mais cosmopolita do que aquelas que emigraram nas décadas anteriores.
O mundo para vocês não é algo desconhecido e que atemoriza. E sei que há muita
gente que defende que esta emigração é excelente, porque vos coloca perante
outras realidades profissionais, vos permite criar uma rede internacional de
contactos e vos possibilita experiências que vos tornarão não só melhores
especialistas nas vossas áreas como cidadãos do mundo.
Contudo, todos nós deveríamos ter o direito de viver no país
onde nascemos. Emigrar por vontade e decisão é uma coisa, emigrar por
necessidade e obrigação é outra muito diferente. Mas foi aqui que chegámos de
novo: um país que não consegue criar empregos para os seus melhores ou que lhes
oferece 700 euros por mês, que forma investigadores e cientistas em catadupa,
mas que depois não lhes proporciona emprego nas empresas nacionais, que investe
fortemente através dos seus impostos na formação altamente qualificada dos seus
jovens e depois os deixa partir sem pestanejar para colocarem os seus
conhecimentos ao serviço de outros países.
Sei ainda mais. Sei que vocês não deixam cá mulher (ou
marido) e filhos. Vão constituir família nos países para onde foram obrigados a
partir, ter filhos por aí, criar raízes noutras latitudes e com outras
nacionalidades, o que tornará o regresso bastante mais difícil. Além disso, com
a situação económica e etária que o país vive, este vai lenta e
melancolicamente afundar-se com uma população de pobres, velhos e doentes, o
que obviamente não atrai nem a energia nem a alegria dos jovens, nem o desejo
de voltarem a viver por cá. Vocês voltarão algumas vezes pelas férias, mas a
vossa vida será definitivamente nos países que vos acolheram e recompensam
condignamente o vosso trabalho.
Vocês continuarão ligados a Portugal e vão até valorizar
tudo o de bom que existe neste país, esquecendo a mediocridade, a inveja, a
avidez, a corrupção, a luxúria, as desigualdades, a burocracia, a
incompetência, o desrespeito por reformados, doentes e desempregados. Tentarão
saber notícias pela net, ler livros em português, ver algum jogo de futebol nos
computadores, enfim, sentirão vontade de estar mais ou menos a par do que por
cá se vai passando. Mas pouco a pouco a distância, as exigências profissionais,
os compromissos familiares vão sobrepor-se e vocês ir-se-ão distanciando do
país e integrando cada vez mais noutras realidades, perante a indiferença da
classe política e o incentivo do primeiro-ministro, que desconhece que um país
que perde os seus melhores só pode ter um futuro sombrio à espera.
Parafraseando Jorge de Sena, que foi obrigado a exilar-se e
sempre sentiu enorme raiva por isso, não sei que mundo será o teu, mas é
possível, porque tudo é possível, que seja aquele que desejo para ti. Mas
queria que fosses tu a escolhê-lo e não que te obrigassem a emigrar. E isso
dói. A ti, a mim, à tua família, aos teus amigos. E devia doer, e muito, ao teu
país.
Jovens portugueses formados para exportação.
por Margarida Davim 30 de Maio, 2013 in Sol online
Portugal está a formar médicos, engenheiros e enfermeiros
que são aproveitados por outros países. A saída dos jovens qualificados
desperdiça investimento na Educação e é um rombo para a Segurança Social.
Enquanto cá se fecham portas, anúncios e feiras de emprego
prometem melhores salários lá fora, contratos sem termo e reconhecimento
profissional. E são cada vez mais os que saem de Portugal à procura de um
futuro melhor. Muitos poderão não voltar, perdendo-se para sempre o
investimento que o país fez na sua formação e agravando o buraco da Segurança
Social.
Números recolhidos pelo SOL junto das universidades mostram
que formar um engenheiro custa ao Estado, em média, cinco a oito mil euros por
ano –, sendo que o tempo médio para concluir o curso anda pelos seis anos numa
faculdade como o Instituto Superior Técnico. No caso de um médico, só a sua
formação inicial de seis anos na faculdade implica um investimento de cerca de
10 mil euros por ano. Nos restantes cursos superiores, cada estudante custa
cerca de quatro mil euros por ano, sendo que a propina máxima em vigor é de
1.037 euros.
«Se não voltarem mais e se não transferirem dinheiro para
cá, estivemos a investir na qualificação de pessoas que vão ajudar a
desenvolver outros países», admite António Cruz Serra, reitor da Universidade
Técnica de Lisboa.
‘Efeito explosivo’ para a Segurança Social
«O Governo olha para estas pessoas como despesa, mas elas
também são receita. Se saírem, não contribuem para a Segurança Social, para o
sistema fiscal e para o desenvolvimento da economia no seu conjunto» – avisa
Manuela Arcanjo, especialista em Segurança Social e Finanças Públicas, que
reconhece estar por calcular o impacto que a emigração de profissionais
altamente qualificados terá no país. «Estamos a perder uma geração, que estava
em idade de ter filhos e de contribuir para renovação geracional», resume a
ex-ministra socialista, que antevê um «efeito explosivo» para a Segurança
Social.
Dados do Inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de
Estatística (INE) apontam para uma quebra acentuada da população jovem activa
no último ano. Segundo este estudo, Portugal perdeu 131 mil pessoas entre os 15
e os 35 anos, entre Março de 2012 e o mesmo mês deste ano. Fonte oficial do INE
frisa que «os números dos fluxos migratórios só serão conhecidos em Junho», mas
admite que este estudo, que é feito por amostragem, já «pode apontar uma
tendência».
«Profissionais altamente competentes são obrigados a
emigrar», resume o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos,
que assume estar preocupado com o efeito destas saídas. «Há o risco de esses
engenheiros criarem raízes nos países onde trabalham, o que poderá dificultar
ou inviabilizar o seu regresso quando Portugal assim o necessitar».
Com a economia em recessão, a maioria das ofertas de
trabalho na engenharia são para fora. «Segundo um estudo elaborado em 2012 por
uma empresa de recursos humanos, nesse ano o recrutamento de engenheiros
destinado ao mercado português foi de apenas 8%, correspondendo 15% ao mercado
do Brasil e os restantes 77% ao de África», aponta Carlos Matias Ramos, que vê
a tendência manter-se em 2013.
No site da Ordem, há neste momento 46 ofertas de emprego
para o Qatar, 23 para os Emiratos Árabes Unidos, e a Noruega e a Holanda somam
42 anúncios. «Em África, a especialidade mais procurada é Engenharia Civil. No
Médio Oriente, são Engenharia Civil e Engenharia Mecânica, sendo esta também
procurada na Europa», diz o bastonário.
Médicos e engenheiros em fuga
Se o que se promete no estrangeiro é aliciante, as
perspectivas cá dentro não são animadoras. Carlos Matias Ramos diz que há
ofertas para Portugal «colocadas de forma despudorada em portais oficiais na
internet, com ordenados ultrajantes, nalguns casos de 500 euros», que são «um
motivo adicional para que os engenheiros portugueses procurem outros mercados».
Para os médicos recém-formados, as perspectivas também são
melhores no estrangeiro. «Cá, até aos 30 anos, um médico recebe à volta de
1.100 ou 1.200 euros líquidos. No estrangeiro, há ofertas muito atractivas»,
reconhece António Marques Pinto, da Associação de Jovens Médicos. Além dos
salários, surgem outros problemas: «Há médicos a mais a sair das universidades
e começa a não haver vaga para fazerem a especialização nos hospitais».
Mais de sete mil enfermeiros emigraram em quatro anos
Mas o problema português é uma oportunidade para os
empregadores estrangeiros. «De cada vez que organizamos uma feira de emprego em
Portugal, aparecem mais trabalhadores da área da Saúde», garante Catalina
Poiana, da empresa de recrutamento Careers in White, que em Abril recebeu 900
médicos e enfermeiros num evento em Portugal para recrutar para países como
Reino Unido, Alemanha, França, Bélgica e Noruega.
Os salários oferecidos começam nos 1.500 euros para
enfermeiros, nos dois mil euros para médicos a tirar a especialidade e
dentistas e nos quatro mil euros para clínicos especialistas. Cardiologia,
medicina interna e pediatria estão entre as especialidades mais procuradas.
Liliana Costa, da empresa de recrutamento Best Personnel –
que no ano passado conseguiu colocação no estrangeiro para mais de uma centena
de candidatos –, explica por que os profissionais portugueses de saúde estão em
alta nos mercados internacionais: «O estereótipo é o de alguém motivado para
progredir na carreira, assíduo, polivalente, de confiança, com boa capacidade
de adaptação e bons conhecimento técnicos».
Dados da Ordem dos Enfermeiros mostram que a tendência de
saída tem aumentado acima dos 60% ao ano desde 2010. Só no ano passado, saíram
2.814 enfermeiros: mais 63% do que no ano anterior. Desde 2009, foram 7.062 os
que emigraram.
Graziela Cordeiro tem uma empresa que recruta profissionais
de saúde para França e explica que não é difícil entender os motivos da
emigração. «Ainda há pouco falei com um enfermeiro com 19 anos de experiência
em bloco operatório, que está a recibos verdes. Em França, num ano consegue-se
entrar para a função pública, mesmo sendo estrangeiro». A vontade em manter
profissionais qualificados é patente: «Já há Câmaras em França a comprar
consultórios e a oferecer salários fixos, de 2.500 euros, a médicos que queiram
fixar-se lá».
margarida.davim@sol.pt
OPINIÃO
Pousar a mala, e levantar a cabeça
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 12/01/2014 - 01:50 in
PÚBLICO
Quando irá Portugal,
finalmente, pousar a mala e levantar a cabeça?
Infinito e promissor horizonte Atlântico. Proibitivo e
intransponível muro Castelhano. Estes foram os factores que determinaram a
expansão Portuguesa. Mas, também, o seu eterno escapismo quimérico, na procura
do Devir / Identitário. Sempre baseada no acto de Partir, isto, de forma
indissociável, tragicamente e dialecticamente a uma eterna fidelidade à ideia
metafísica da Pátria mítica, mas inatingível.
Enquanto o mundo Protestante transforma o seu cepticismo
perante a imperfeição do Mundo, precisamente numa capacidade de intervir nessa
mesma realidade e transformá-la, tal como Max Weber demonstra na sua associação
entre Protestantismo e a formação do Capitalismo pré Neo-Liberal... os misteriosos Lusitanos, saltitam de
escapismo em escapismo.
Agora o “Império”. Depois, o deslumbramento das promessas de
abundância do clube prestigiante do desenvolvimento Europeu, como se tratasse
de fenómeno mágico e instantâneo, sem inclusão de preço e responsabilidade.
Progresso? Sim houve-o. E uma das mais importantes
manifestações desse mesmo Progresso constituiu o acesso ao ensino e a formação
de milhares de jovens. Os tais que iriam determinar o Portugal pós Abril. Que
iriam garantir e confirmar o fim desta dialéctica de Êxodo, finalmente, o
interromper deste ciclo de Diásporas.
Que iriam constituir a primeira geração que iria ficar e
finalmente investir neste misterioso rectângulo plantado à beira-mar atlântica.
Portugal iria finalmente ser cumprido, de forma Adulta, com
a capacidade de aceitar as suas fronteiras físicas, geográficas e reais,
assumindo finalmente, sem escapismos, as suas verdadeiras capacidades e
transformando assim a realidade, quebrando o feitiço, destruindo esta maldição.
As centenas de milhares que partem de novo, com o sabor
amargo da decepção e mágoa, para o exílio, restabelecendo o ciclo da Diáspora,
ilustram um grave fenómeno com consequências não apenas demográficas e
económicas para o futuro do País.
Precisamente na área da vivência/ocupação/ futuro das
cidades e respectivo Património, as consequências serão terríveis.
Pois não seria esta geração que iria, através da sua
criatividade cultural/empreendedorismo e actividade profissional, exigir o seu
espaço, ocupar finalmente os centro históricos e habitá-los?
Em vez disso, assistimos à transformação das duas principais
cidades do País, numa plataforma de eventos, num palco de investimento
exclusivo na sua ocupação temporária através de hotéis, hostels e oferta de
casas na hotelaria paralela.
Tudo dirigido ao novo “Bezerro de Ouro” que se chama
Turismo, fenómeno importante com indiscutível potencial de reconhecimento e
prestígio, com vasta dimensão económica, mas que sem gestão equilibrada,
transforma as cidades em produto efémero e temporário.
Tudo isto é interpretado de forma relativizadora como
fenómeno temporário, associado a uma crise, que se assume descaradamente e
oficialmente de forma derrotista com declarações oficiais com apelos explícitos
à emigração dos jovens, capazes e formados, como se isso não constituísse uma
sangria irreversível e uma ilustração traumatizante de um falhanço da promessa
que Abril, iria finalmente interromper este ciclo de eternas Diásporas.
Investe-se na tentativa de aliciar capital Internacional,
nomeadamente na área do Imobiliário e Reabilitação Urbana, com promessas
“douradas”, mas quem irá garantir o rigor das intervenções no Património
Arquitectónico e respectivos interiores, quando estes projectos se destinam à
ocupação temporária, à curta estadia e à vivência efémera da cidade vista
exclusivamente como produto?
Onde estão as famílias locais a apropriar-se da cidade? A
ocupá-la e a habitá-la permanentemente?
Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a
cabeça?
Historiador de Arquitectura
1 comentário:
Jorge de Sena,esse eterno exilado!...Vá lá que já receberam o sue espólio
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