Sócios da Cinema Novo acusam Mário Dorminsky de difamação e ameaças
Num email enviado a um convidado habitual do Fantasporto, Dorminsky diz que António Reis o traiu e quer "controlar" o festival
Quatro cooperantes da Cinema Novo, incluindo um
histórico do Fantasporto, António Reis, anunciaram a intenção de processar Mário
Dorminsky por difamação e ameaças. Em causa está um email que Dorminsky
enviou ao espanhol Luis M. Rosales, director da revista Scifiworld e
convidado habitual do Fantasporto, informando-o de que fora traído por ""amigos"
de há muitos anos" - a "começar pelo [António] Reis (!)" -, que "tentaram
controlar o Fantasporto".
O email alude ainda a roubos de documentação na Cinema Novo e sugere
que Reis e os restantes sócios em causa teriam sido manipulados por terceiros:
"foram manobrados por gente que manda neste país e que não me queria a mim e à
Beatriz [Pacheco Pereira] na Câmara do Porto". A mensagem a Rosales termina com
esta frase: "Pena é que muitas coisas feias e desnecessárias vão começar a
acontecer àqueles que chamávamos de amigos".Rosales reenviou o email a António Reis às primeiras horas da madrugada de quarta-feira, e este decidiu já não comparecer à assembleia geral da Cinema Novo marcada para esse mesmo dia. "Não estou habituado a ser ameaçado", disse Reis ao PÚBLICO, acrescentando que o "aborrece solenemente" a acusação de que estaria a agir "a mando de uma qualquer entidade".
Com o seu filho Nuno Reis e mais dois cooperantes - Ricardo Clara e César Nóbrega - António Reis enviou ao presidente da Assembleia Geral da Cinema Novo uma declaração na qual os signatários informam que não iriam comparecer na reunião, justificando a decisão com o facto de terem tido conhecimento de "considerações de conteúdo difamatório e prenhas de ameaças". E em declarações à Lusa, Reis adiantou que ele e os restantes visados estão a reunir matéria para uma queixa-crime contra Mário Dorminsky.
É mais um episódio da polémica que rebentou publicamente em Setembro, quando a revista Visão divulgou o conteúdo de uma denúncia que chegara ao Instituto do Cinema e Audioviosual (ICA), acusando a direcção da Cinema Novo de diversas irregularidades na gestão da cooperativa e na organização do Fantasporto.
Dorminsky e a sua mulher, Beatriz Pacheco Pereira, enviaram um comunicado a desmentir a Visão, e já então Reis interveio para corrigir esse desmentido em alguns aspectos que lhe diziam directamente respeito. E este novo episódio vem confirmar que a coesão do trio que há anos organiza o Fantasporto já conheceu melhores dias.
O director que nunca o foi
Num comunicado que ontem fez chegar ao PÚBLICO, Beatriz Pacheco Pereira, actual directora do festival, lamenta que "cooperadores, a quem incumbe defender os interesses da cooperativa, recorram à desinformação e à propaganda pública, contribuindo para adensar e multiplicar os prejuízos elevadíssimos que as reportagens caluniosas publicadas na revista Visão acarretaram", adianta que os membros da direcção da Cinema Novo "não andarão a fazer alarde público da queixa já apresentada na Procuradoria da República" - o documento não identifica os visados na referida queixa -, e informa que "António Reis nunca teve, como continua a não ter, funções de direcção do Festival, nunca redigiu ou assinou qualquer documento oficial e nunca representou a Cooperativa ou o Festival junto de qualquer entidade oficial.".
Uma alegação que deixou Reis "desconcertado", já que, argumenta, "estava convencido de que era nessa qualidade que subia ao palco nas sessões de abertura e encerramento do festival". Reis garante ainda que é citado como director do festival nos dossiers enviados ao ICA e nos próprios catálogos do Fantasporto. Mas, ironiza, "se Beatriz Pacheco Pereira vem dizer que afinal era um cargo fictício, é porque devo ter vivido estes anos todos num mundo alternativo".
Numa coisa, no entanto, Reis e Dorminsky estão de acordo. Ambos acham que é preciso prosseguir com o Fantasporto e garantir que a próxima edição não venha a ser posta em risco por esta controvérsia.
António Reis sugere duas soluções alternativas. A primeira passaria por Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira "esclarecerem todas as dúvidas, facultando à comunicação social a contabilidade da Cinema Novo e dispondo-se a responder às perguntas concretas que lhes fossem colocadas". Reis receia que um eventual esclarecimento em tribunal se revele demasiado moroso e que, entretanto, esta "campanha demolidora" destrua a imagem do festival. A alternativa, acrescenta, seria o casal de fundadores afastar-se provisoriamente da direcção até as coisas estarem resolvidas.
Mário Dorminsky, que com as derrotas do PSD em V. N. Gaia e no Porto, deverá agora voltar formalmente à direcção do Fantasporto - abdicara do cargo quando foi nomeado vereador da Cultura na equipa de Luís Filipe Menezes - também acha que é preciso continuar com o festival e garante que a próxima edição, a decorrer em Março de 2014, não está em causa. O essencial dos patrocínios já está contratualizado, assegura, e boa parte da programação, que este ano será centrada no cinema musical e prestará ainda homenagem aos 75 anos dos clássicos O Feiticeiro de Oz e E Tudo o Vento Levou, está já alinhavada.
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