A história desta personagem da extrema-direita grega é feita de fusões e cisões, de separatismos e denominadores comuns, de viragens ideológicas, do neonazismo ao nacionalismo grego, de misturas de inspiração da ditadura de Metaxas, junta militar ou da monarquia grega.
Michaloliakos nega sempre ser neonazi - aliás, algo que parece um absoluto contra-senso: como é possível ser-se neonazi na Grécia, um país que sofreu uma brutal ocupação nazi?
Mas não é preciso chegar muito fundo para descobrir as ligações. A revista que Michaloliakos editou nos anos 1980, chamada Aurora Dourada, como haveria de se chamar o seu partido, terminava textos com Heil Hitler. Elogios ao antigo ditador alemão como um "modernizador" ou votos de pesar em aniversários da sua morte também estão lá. O próprio Michaloliakos fez a saudação nazi em público depois de ter sido eleito para o conselho municipal de Atenas, em 2010, o primeiro sucesso eleitoral do partido que tinha sido formalmente fundado em 1993. E ainda em Maio de 2012, Michaloliakos dizia, numa entrevista à emissora grega Mega TV: "Não houve crematórios, isso é mentira. Nem câmaras de gás", referindo-se aos campos nazis estabelecidos no Holocausto em que morreram oito milhões de pessoas. Mas continua a repetir - ainda na semana passada, quando foi presente a tribunal - "Não sou neonazi." Os seus seguidores chamam-lhe Führer, o título de Hitler.
Do elogio ao satanismo a referências à grandeza de Esparta, do aproveitamento com o descontentamento grego com o nome da recém-independente Macedónia, ou da entrada de um grande número de imigrantes ilegais para a Grécia, o partido tem como marca uma amálgama de ideias que vai afinando conforme as circunstâncias. O seu programa eleitoral tinha uma única medida concreta: "Varrer os imigrantes" para fora da Grécia.
O jornalista Costas Vaxevanis (o mesmo que publicou a chamada "Lista Lagarde" com nomes de gregos suspeitos de evasão fiscal) sublinhava, num grande artigo sobre Michaloliakos na revista Hot Doc, que para além das explicações políticas e sociológicas para o sucesso do partido Aurora Dourada (a contribuição dos partidos políticos para a degradação do debate no país, o facto de terem caído no discurso de culpabilização dos imigrantes, as consequências da crise e das medidas de austeridade), o papel de Michaloliakos é subvalorizado.
O que até pode ser estranho, já que no partido Aurora Dourada, Michaloliakos é o secretário-geral mas toda a gente se refere a ele como "o líder", e em que os membros do partido se levantam de cada vez que ele entra na sala. Aliás, numa das cenas mais incríveis após a vitória do partido nas legislativas de Maio, quando Michaloliakos entra na sala, membros do partido dizem que os jornalistas têm de se levantar. Os que não o fizeram foram forçados a sair da sala. E então Michaloliakos disse: "É hora de terem medo. Tentaram que eu desaparecesse, mas eu venci-vos." A retórica belicista está lá sempre (e basta ver as imagens dos discursos de Michaloliakos, que aparece sempre a vociferar), e após a eleição, o líder do Aurora Dourada disse que os seus 426 mil votos eram "o equivalente a 30 a 40 divisões de exército".
Como é que Michaloliakos passa de um pequeno admirador da direita radical numa altura em que esta era pouco popular, a espancar e levar a cabo atentados bombistas, chega a líder de um partido com 18 deputados?
Costas Vaxevanis deixa outra pergunta ligada a esta: quem pagava a Michaloliakos e ao núcleo duro da revista Aurora Dourada? Nenhum dos seus elementos tinha um trabalho pago, no entanto, tinham dinheiro para arrendar os escritórios e publicar a revista. Michaloliakos fala de sorte e de lotaria. Outras fontes mencionam em rumores de que estaria a ser pago pelos serviços secretos. A verdade é que não se conhece nenhuma profissão ao antigo elemento das forças especiais do Exército que no currículo tem uma licenciatura em Matemática.
O Aurora Dourada pega no sentimento antipolíticos - na campanha, fazendo questão de sublinhar que nenhum dos seus candidatos era "político" (apesar de, tal como o líder, muitos não terem profissões conhecidas).
"Sentimos-nos enojados no Parlamento. Se quiserem, abandoná-lo-emos a qualquer altura. Então, verão o que é realmente o Aurora Dourada, verão (...) o que significa afiar as baionetas todas as noites."
Não serão só palavras. Segundo a acusação, o partido tem uma bem oleada máquina de violência, sujeita a uma hierarquia rígida e controlo total pelo líder.
E poderá ser justamente a forte disciplina e hierarquia do partido o que levará à queda de Michaloliakos no âmbito do assassínio do activista anti-racismo Pavlos Fyssas, a 18 de Setembro - a acusação tem uma série de telefonemas em sequência do assassino confesso para um líder local do Aurora Dourada, deste para uma espécie de comandante, e por fim deste para o próprio Michaloliakos.
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