domingo, 6 de outubro de 2013

O pequeno "Führer grego"




O pequeno "Führer grego"

Nikos Michaloliakos. Com pouco mais de 20 anos já era preso por um ataque violento contra a esquerda. Nega ser neonazi, mas não vê mal em usar citações belicosas de Goebbels.

Nikos Michaloliakos, 56 anos, está neste momento na prisão de segurança máxima de Korydallos, depois de ter sido ouvido em tribunal por organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e outros crimes. É um local que não lhe será estranho: foi lá que, em 1976, foi preso após uma série de ataques contra jornalistas e cinemas em que passavam filmes soviéticos. Foi lá que conheceu os coronéis da junta militar de 1967-74, que lá cumpriam penas de prisão. Foi pela mão de um dos coronéis, Papadopoulos, que Michaloliakos começou a subir na extrema-direita.
A história desta personagem da extrema-direita grega é feita de fusões e cisões, de separatismos e denominadores comuns, de viragens ideológicas, do neonazismo ao nacionalismo grego, de misturas de inspiração da ditadura de Metaxas, junta militar ou da monarquia grega.
Michaloliakos nega sempre ser neonazi - aliás, algo que parece um absoluto contra-senso: como é possível ser-se neonazi na Grécia, um país que sofreu uma brutal ocupação nazi?
Mas não é preciso chegar muito fundo para descobrir as ligações. A revista que Michaloliakos editou nos anos 1980, chamada Aurora Dourada, como haveria de se chamar o seu partido, terminava textos com Heil Hitler. Elogios ao antigo ditador alemão como um "modernizador" ou votos de pesar em aniversários da sua morte também estão lá. O próprio Michaloliakos fez a saudação nazi em público depois de ter sido eleito para o conselho municipal de Atenas, em 2010, o primeiro sucesso eleitoral do partido que tinha sido formalmente fundado em 1993. E ainda em Maio de 2012, Michaloliakos dizia, numa entrevista à emissora grega Mega TV: "Não houve crematórios, isso é mentira. Nem câmaras de gás", referindo-se aos campos nazis estabelecidos no Holocausto em que morreram oito milhões de pessoas. Mas continua a repetir - ainda na semana passada, quando foi presente a tribunal - "Não sou neonazi." Os seus seguidores chamam-lhe Führer, o título de Hitler.
Do elogio ao satanismo a referências à grandeza de Esparta, do aproveitamento com o descontentamento grego com o nome da recém-independente Macedónia, ou da entrada de um grande número de imigrantes ilegais para a Grécia, o partido tem como marca uma amálgama de ideias que vai afinando conforme as circunstâncias. O seu programa eleitoral tinha uma única medida concreta: "Varrer os imigrantes" para fora da Grécia.
O jornalista Costas Vaxevanis (o mesmo que publicou a chamada "Lista Lagarde" com nomes de gregos suspeitos de evasão fiscal) sublinhava, num grande artigo sobre Michaloliakos na revista Hot Doc, que para além das explicações políticas e sociológicas para o sucesso do partido Aurora Dourada (a contribuição dos partidos políticos para a degradação do debate no país, o facto de terem caído no discurso de culpabilização dos imigrantes, as consequências da crise e das medidas de austeridade), o papel de Michaloliakos é subvalorizado.
O que até pode ser estranho, já que no partido Aurora Dourada, Michaloliakos é o secretário-geral mas toda a gente se refere a ele como "o líder", e em que os membros do partido se levantam de cada vez que ele entra na sala. Aliás, numa das cenas mais incríveis após a vitória do partido nas legislativas de Maio, quando Michaloliakos entra na sala, membros do partido dizem que os jornalistas têm de se levantar. Os que não o fizeram foram forçados a sair da sala. E então Michaloliakos disse: "É hora de terem medo. Tentaram que eu desaparecesse, mas eu venci-vos." A retórica belicista está lá sempre (e basta ver as imagens dos discursos de Michaloliakos, que aparece sempre a vociferar), e após a eleição, o líder do Aurora Dourada disse que os seus 426 mil votos eram "o equivalente a 30 a 40 divisões de exército".
Como é que Michaloliakos passa de um pequeno admirador da direita radical numa altura em que esta era pouco popular, a espancar e levar a cabo atentados bombistas, chega a líder de um partido com 18 deputados?
Costas Vaxevanis deixa outra pergunta ligada a esta: quem pagava a Michaloliakos e ao núcleo duro da revista Aurora Dourada? Nenhum dos seus elementos tinha um trabalho pago, no entanto, tinham dinheiro para arrendar os escritórios e publicar a revista. Michaloliakos fala de sorte e de lotaria. Outras fontes mencionam em rumores de que estaria a ser pago pelos serviços secretos. A verdade é que não se conhece nenhuma profissão ao antigo elemento das forças especiais do Exército que no currículo tem uma licenciatura em Matemática.
O Aurora Dourada pega no sentimento antipolíticos - na campanha, fazendo questão de sublinhar que nenhum dos seus candidatos era "político" (apesar de, tal como o líder, muitos não terem profissões conhecidas).
"Sentimos-nos enojados no Parlamento. Se quiserem, abandoná-lo-emos a qualquer altura. Então, verão o que é realmente o Aurora Dourada, verão (...) o que significa afiar as baionetas todas as noites."
Não serão só palavras. Segundo a acusação, o partido tem uma bem oleada máquina de violência, sujeita a uma hierarquia rígida e controlo total pelo líder.
E poderá ser justamente a forte disciplina e hierarquia do partido o que levará à queda de Michaloliakos no âmbito do assassínio do activista anti-racismo Pavlos Fyssas, a 18 de Setembro - a acusação tem uma série de telefonemas em sequência do assassino confesso para um líder local do Aurora Dourada, deste para uma espécie de comandante, e por fim deste para o próprio Michaloliakos.

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