quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Jornal de Angola ataca de novo "elites portuguesas ignorantes e corruptas" "É evidente que Machete tem de ser demitir.


O que diriam se falássemos de Portugal como o 'regime de Cavaco Silva', o 'regime de Passos Coelho', o 'regime de Paulo Portas'. Alguém gostaria? Tudo na vida tem limites, até a falta de educação e de vergonha.
  1. "Se de Portugal continuam a chover insultos e calúnias, não podemos continuar pacientemente à espera que a inteligência ilumine as elites portuguesas corruptas e ignorantes. A resposta nestas circunstâncias só pode ser uma: reciprocidade", conclui.

    Editorial do "Jornal de Angola" desta quarta-feira, 9 de Outubro
    Jornal de Angola ataca de novo "elites portuguesas ignorantes e corruptas"
    09 Outubro 2013, 09:00 por Lusa

    O "Jornal de Angola" mantém o tom dos últimos dias e volta a atacar, desta vez em editorial, as "elites portugueses ignorantes e corruptas", exigindo reciprocidade de tratamento.
    Sob o título "Reciprocidade", o editorial do único diário de Angola, acusa as elites portuguesas de "teimarem em não reconhecer" a representatividade de José Eduardo dos Santos e do partido no poder desde a independência, Movimento Popular de Libertação em Angola (MPLA).

    "No último acto eleitoral, o primeiro na vigência da nova Constituição da República, o partido da maioria e o Presidente José Eduardo dos Santos tiveram mais de 72% dos votos do eleitorado. Ganharam em todos os círculos eleitorais provinciais e têm na Assembleia Nacional uma maioria qualificada", destaca o editorial desta quarta-feira.
    Por não reconhecerem este quadro, o "Jornal de Angola" conclui que as "elites portuguesas"adoptam "posições nada lúcidas e pouco inteligentes" sobre a realidade angolana.
    "Nos dias de desespero os dominadores da máquina mediática portuguesa sobem de tom e recorrem ao insulto reles e grosseiro contra os dirigentes angolanos eleitos pelo povo", continua o editorial.

    O "Jornal de Angola" escreve ainda que José Eduardo dos Santos e o MPLA têm "um fortíssimo e inegável apoio popular e isto não agrada a Portugal".

    "Para iludir essa realidade, a comunicação social portuguesa, dominada pelas elites portuguesas corruptas e ignorantes, incluindo órgãos públicos como a RTP e a RDP, quando se referem a Angola falam do 'regime de José Eduardo dos Santos' como falam do 'regime de Assad', do 'regime do Irão' ou do 'regime da Coreia do Norte' e do 'ditador Mugabe'. É o ataque gratuito e desqualificado, mas mesmo assim, inadmissível vindo de um país amigo", sustenta o Jornal de Angola. E questiona: "O que diriam se falássemos de Portugal como o 'regime de Cavaco Silva', o 'regime de Passos Coelho', o 'regime de Paulo Portas'. Alguém gostaria? Tudo na vida tem limites, até a falta de educação e de vergonha".

    Na parte final do editorial desta quarta-feira, o Jornal de Angola recorda que os angolanos recebem de "braços abertos e fraternalmente" dezenas de milhares de cidadãos portugueses e prossegue, considerando ser "altura de começarmos a exigir reciprocidade".

    "Não temos que considerar e respeitar quem nos destrata, desonra e injuria os nossos cidadãos e representantes políticos (...) É altura de dizer basta. A Bandeira, o Hino Nacional e o Presidente da República de Angola são os símbolos da nossa pátria. Não podemos admitir que em Portugal, políticos e jornalistas, intelectuais com ideias submersas em ódios recalcados não respeitem os nossos símbolos nacionais e desonrem os titulares dos nossos órgãos de soberania", destaca o editorial.

    Partindo do princípio que os angolanos "não insultam, não caluniam, não maltratam os políticos portugueses, estejam na oposição ou no poder", porque "respeitam o Povo Português", o editorial do Jornal de Angola conclui que "o mínimo" que se pode fazer é "exigir reciprocidade".

    "Se de Portugal continuam a chover insultos e calúnias, não podemos continuar pacientemente à espera que a inteligência ilumine as elites portuguesas corruptas e ignorantes. A resposta nestas circunstâncias só pode ser uma: reciprocidade", conclui.


    1. "É evidente que Machete tem de ser demitir. Se não o era para alguém, ontem passou a ser. Não por ter mentido mais uma vez ao parlamento, porque já ficou claro que é um hábito demasiado enraizado na sua forma de estar na política. Mas porque ofendeu a dignidade do Estado português, ao pedir desculpas a um país estrangeiro por investigações legítimas e legais. Porque ofendeu o Estado de Direito, ao pôr em causa a separação de poderes. E, já agora, porque ofendeu e continua a o...fender a nossa inteligência."


      Machete ensandeceu ou pior do que isso
      Daniel Oliveira
      8:00 Quarta feira, 9 de outubro de 2013 in Expresso online


      Na sua confrangedora passagem pelo Parlamento, ontem à tarde, o ministro dos Negócios Estrangeiros justificou as suas declarações à Rádio Nacional de Angola com dois argumentos centrais. Primeiro: as suas declarações resultavam, e disso também teria resultado o seu pedido de desculpas aos angolanos, de uma violação do segredo de justiça e não da investigação propriamente dita. Segundo: não teve qualquer contacto com magistrados e baseou-se no comunicado do DCIAP para dizer o que disse sobre o processo. Tudo o resto, foram expressões menos felizes.

      Recordemos, para não nos perdermos em mais um novelo de mentiras, o que disse o ministro à RNA: "Tanto quando sei não há nada de substancialmente digno de relevo e que permita entender que alguma coisa estaria mal para além do preenchimento de formulários e de coisas burocráticas. E naturalmente informar as autoridades de Angola, pedindo diplomaticamente desculpas por uma coisa que não está na nossa mão evitar. E simultaneamente perceber o que é que aconteceu do lado do nosso Ministério Público e penso que nesse aspecto a senhora Procuradora Geral deu informações genéricas, como aliás foram pedidas, que nos asseguraram que as coisas não tinham nenhum grau de gravidade."

      Vamos então por partes. Em nenhum momento Rui Machete faz, nesta entrevista, qualquer referência, ao de leve que seja, à violação do segredo de justiça. Resulta óbvio destas declarações, para qualquer pessoa medianamente inteligente (ou até pouco dotada de inteligência), que Machete está a falar apenas do processo e que é por ele, e não pela sua publicitação, que pede desculpas. Sem qualquer dado novo avançado na audição parlamentar de ontem, que não seja a tentativa de adulterar as suas próprias palavras, confirma-se que Machete pediu desculpas por causa de uma investigação em curso a altos dirigentes do Estado angolano.

      Machete diz que não teve qualquer contacto com magistrados e que se baseou exclusivamente no comunicado do DCIAP para dizer o que disse. Diz que não teve esse contacto depois de, na entrevista, ter afirmado que foram pedidas informações à Procuradora Geral da República e que essas informações "nos asseguram que as coisas não tinham nenhum grau de gravidade". Para sermos tremendamente benévolos, vamos partir do princípio que as informações foram pedidas por uma entidade indefinida e que a PGR respondeu a essa entidade indefinida. Assentamos então que, ao contrário do parece resultar da entrevista, Machete não quis dizer que tinha feito perguntas à PGR, coisa que a própria já disse que não acontecera. Como conhecia então o conteúdo da investigação? Ele diz que foi através do comunicado do DCIAP de 13 de Novembro de 2012. Seria essa a "informação genérica" que ele tinha.

      O que dizia o comunicado? "Na sequência de notícias vindas a público sobre a existência de um processo-crime contra altos dirigentes angolanos, o DCIAP esclarece, nos termos do n.º 13, do artigo 86.º do Código de Processo Penal, que corre uma investigação com o NUIPC 142/12.0TELSB sem que, contudo, nela estejam constituídos quaisquer arguidos. O processo encontra-se em segredo de justiça, pelo que não é possível, neste momento, prestar quaisquer outros esclarecimentos." E acaba aqui.

      Conseguir extrair destas parcas palavras que o que estava em causa era o "preenchimento de formulários e de coisas burocráticas" que "não tinham nenhum grau de gravidade" é coisa para um génio. Como ainda não dei pela transcendente genialidade de Machete, tenho de concluir que ele nada sabia sobre este processo. Ou seja, inventou, numa entrevista a uma rádio estrangeira, para apaziguar as relações com Angola, o conteúdo de uma investigação criminal. O que quer dizer que a sua sanidade mental está seriamente afectada e deve ser demitido. Para seu e para nosso bem.

      Digo que esta é a única hipótese porque a outra que me parece plausível é demasiado grave. É que se Machete sabe realmente alguma coisa sobre o processo, e não o sabe através da PGR ou do tal comunicado do DCIAP que nada diz, sobraria como fonte o escritório onde ele próprio trabalhava, que representava alguns dos investigados. O que quereria dizer que, aos microfones de uma rádio estrangeira, era ele mesmo, ministro de Estado, que estaria a violar o segredo de justiça. Coisa que, como ontem não parou recordar, é um crime. Se assim fosse, a demissão seria o menos grave que lhe poderia acontecer. Por isso, fico-me pela primeira hipótese: o ministro ensandeceu.

      Claro que ainda pode haver uma terceira resposta, mas Machete ficou com ela para si, apesar dos deputados Pedro Silva Pereira e Helena Pinto lhe terem feito perguntas muito diretas que lhe davam todas as oportunidades para nos esclarecer: Onde foi buscar a informação de que a investigação tratava de "formulários mal preenchidos"? Porque não referiu na entrevista a violação do segredo de justiça, se para si era essa a razão do embaraço diplomático? A quem se referia quando disse que tinham sido pedidas informações à Procuradora Geral da República? Em resposta, experimentou a vitimização, lamentando que a imprensa não o defenda de um ataque sistemático. Experimentou uma piadinha "aos partidos revolucionários", absolutamente deslocada perante a gravidade do que estava em causa. Experimentou a irresponsabilidade, dizendo que, sendo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, fez, numa rádio estrangeira, uma interpretação pessoal de factos supostamente públicos (eram?) relativos a um processo judicial. E experimentou o silêncio, inventando divergências insanáveis com deputados sobre direito constitucional (não faço ideia a que propósito). A única coisa que não experimentou foi parar a sua desesperada fuga para a frente e tentar dizer uma verdade completa de uma vez por todas.

      É evidente que Machete tem de ser demitir. Se não o era para alguém, ontem passou a ser. Não por ter mentido mais uma vez ao parlamento, porque já ficou claro que é um hábito demasiado enraizado na sua forma de estar na política. Mas porque ofendeu a dignidade do Estado português, ao pedir desculpas a um país estrangeiro por investigações legítimas e legais. Porque ofendeu o Estado de Direito, ao pôr em causa a separação de poderes. E, já agora, porque ofendeu e continua a ofender a nossa inteligência.

Sem comentários: