sexta-feira, 4 de outubro de 2013

FINALMENTE !!


Durante quase duas décadas, Berlusconi conseguiu manter a sua personagem de empresário (acusado de inúmeros crimes e com vários julgamentos no currículo) à margem da sua personagem política (também ela polémica e com julgamentos, por exemplo o do caso Ruby, em que foi acusado de corrupção de menores e incitamento à prostituição de menores).

Senado de Roma autoriza o Parlamento a expulsar Silvio Berlusconi



Alfano geriu a expulsão do líder para se apresentar como o moderado do centro-direita com quem se pode fazer política
Uma comissão do Senado italiano aprovou ontem a expulsão de Silvio Berlusconi do Parlamento. A decisão final é da responsabilidade do plenário, que votará nos próximos dias e pode precipitar o fim da carreira política do antigo primeiro-ministro.
A confirmar-se o afastamento - sendo Berlusconi senador, a câmara alta do Parlamento teve de autorizar a votação sobre a expulsão -, o antigo primeiro-ministro perderá a imunidade parlamentar e terá de começar a cumprir o ano de prisão a que foi condenado por fraude fiscal. Devido à sua idade, 77 anos, não irá para a cadeia e terá de optar por prisão domiciliária ou serviço comunitário.
Berlusconi disse, na quinta-feira, durante uma reunião com membros do partido de que ainda é líder, o Povo da Liberdade (centro-direita), que não estaria ontem no Senado porque ali seria tomada uma decisão "injusta". "Enviámos um memorando [ao Parlamento] em que explicamos que não podemos considerar os juízes [que o condenaram] imparciais porque expressaram publicamente opiniões e porque temos um recurso pendente no Tribunal Europeu", disse a um grupo de partidários.
Em Maio, o Supremo Tribunal confirmou a decisão da primeira instância e do tribunal de apelação - quatro anos de prisão (três amnistiados) por crimes cometidos no seu grupo de comunicação social, a Mediaset, mais cinco anos de interdição de exercer cargos públicos.
Berlusconi espera ainda a decisão da apelação, a quem pediu a revogação da sentença da interdição. A Lei Severino, que entrou em vigor no ano passado, determina que pessoas condenadas a penas de prisão não possam exercer cargos públicos. Berlusconi argumenta que a legislação não se aplica a si, porque os crimes pelos quais foi condenado foram cometidos antes da aprovação da lei. "A sentença - disse Berlusconi - é um projecto muito bem planeado para eliminar o líder do centro-direita."
Silvio Berlusconi ainda se considera o líder do Povo da Liberdade e desta fatia do eleitorado italiano. A percepção política em Itália é, porém, outra.
Durante quase duas décadas, Berlusconi conseguiu manter a sua personagem de empresário (acusado de inúmeros crimes e com vários julgamentos no currículo) à margem da sua personagem política (também ela polémica e com julgamentos, por exemplo o do caso Ruby, em que foi acusado de corrupção de menores e incitamento à prostituição de menores). Essa separação acabou-se e as agulhas do centro-direita apontam para outra direcção.
Apontam para Angelino Alfano, que ascende perante a queda do chefe. Alfano, que é vice-primeiro-ministro, deu uma ajuda nessa queda mantendo o seu apoio ao Governo de coligação de Enrico Letta, num claro desafio a Berlusconi e a uma ala do PdL.
Na quinta-feira, Berlusconi disse que o partido está "unido". Mas a fractura ficou exposta quando Berlusconi puxou parte do PdL para um lado (o lado da sua sobrevivência), e Alfano puxou para o outro (o da estabilidade política de um país em crise que, disseram os seus apoiantes, ajudou a salvar quando o "chefe" o queria enterrar).
Alfano ganhou e Berlusconi já não conseguiu capitalizar a seu favor o gesto de quarta-feira - votou a favor da moção de confiança ao Governo que Letta levou ao Parlamento
Pode ainda haver uma reconciliação Alfano-Berlusconi. A existir, será irrelevante, perante a progressão de Alfano no partido e perante o que se adivinha para Berlusconi. A figura corporiza demasiados danos e o seu tempo pode ter chegado ao fim. Um importante membro do PdL disse à Reuters, sob anonimato: "Alfano provou que pode ser o líder do novo centro-direita italiano."

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