quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Costa afirma que Lisboa deu exemplo e que "falta o Estado fazer a sua parte". António Costa. "Uns amam, outros detestam a liderança de Sócrates"


Costa afirma que Lisboa deu exemplo e que "falta o Estado fazer a sua parte"


Na tomada de posse, António Costa louvou o trabalho das autarquias, em contraponto com o do Estado, incapaz de reduzir o défice, "mau grado os cortes de investimento e nos direitos sociais"
A transferência de meios e competências para as freguesias da capital esteve ontem no centro do discurso de tomada de posse de António Costa, que considerou que com ela a Câmara de Lisboa deu "o exemplo". Agora, defendeu o autarca, "falta o Estado fazer a sua parte", promovendo "uma reforma" que tenha como "pedra angular" uma descentralização "do que deve ser descentralizado", "para os municípios em geral, para o município de Lisboa em particular, para as áreas metropolitanas e as regiões".
No seu discurso, António Costa não poupou elogios às autarquias, afirmando que estas são "as entidades públicas que mais têm contribuído para diminuir o défice e reduzir a dívida". Em contraponto, frisou, com um Estado que tem revelado uma "incapacidade de reduzir o seu défice e deixar de aumentar a sua dívida, mau grado os cortes de investimento e nos direitos sociais".
"Quanto tempo teremos ainda de esperar para que se invista na eficiência, retirando competências a quem gere mal e confiando-as a quem pode gerir melhor?", perguntou o presidente da Câmara de Lisboa, eleito para o cargo pela terceira e última vez. Como já tem feito várias vezes, reivindicou para as autarquias competências ao nível dos transportes públicos, sublinhando que estes não podem ser vistos como "um negócio para vender a preço de ocasião a pretexto de uma dívida que não pára de aumentar".
Outra alteração que o autarca socialista quer que o Governo concretize quanto antes tem a ver com as áreas metropolitanas. "Não nos podemos continuar a conformar com a insignificância da entidade metropolitana", disse, defendendo a urgência de se instituir "uma verdadeira autarquia metropolitana, com competências e meios próprios e órgãos directamente eleitos pelos cidadãos".
António Costa falava no Pátio na Galé, no Terreiro do Paço, perante uma plateia com centenas de pessoas. Na tomada de posse marcaram presença ilustres socialistas, como Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues, António Vitorino, Edite Estrela, Mário Lino e Ana Paula Vitorino. José Sócrates e Mário Soares não estiveram presentes, mas, segundo contou aos jornalistas uma assessora de imprensa da Câmara de Lisboa, passaram por lá para dar um abraço ao presidente da autarquia.
Na plateia, na primeira fila, estava Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, a quem António Costa fez questão de se dirigir durante o seu discurso. "A maioria que se reforçou em Lisboa provou que é possível fazer diferente. A maioria que se formou no Porto demonstrou que há energia na sociedade para obrigar a fazer diferente", disse, defendendo que as duas cidades dinamizem a constituição de "uma aliança nacional".
Quem também foi referido no discurso foi o seu "bom amigo" Fathala Oualalou, presidente da Câmara de Rabat. Em francês, o presidente da Câmara de Lisboa saudou-o e manifestou o desejo de que os laços culturais e económicos entre as duas cidades possam ser reforçados.
Mas a primeira palavra do autarca socialista na sua tomada de posse tinha sido para os lisboetas, com quem diz ter construído nos últimos seis anos uma "relação de proximidade e confiança". Para aqueles que não se puderam recandidatar "devido à fusão de freguesias ou à limitação de mandatos", António Costa dirigiu "um cumprimento caloroso". Já a Fernando Seara, o candidato derrotado da coligação PSD/CDS/MPT, o presidente fez chegar "uma saudação democrática e uma palavra de estima pessoal".
António Costa também não esqueceu os trabalhadores do município, a quem assegurou que o processo de descentralização de meios para as juntas de freguesia "se desenvolverá em permanente diálogo com os próprios e as respectivas estruturas sindicais e com plena garantia de segurança no emprego".
No fim, antes de gritar três vivas a Lisboa, o presidente da câmara deixou uma garantia para aqueles preocupados com o facto de a sua lista ter desta vez conquistado uma maioria não só na câmara mas também na assembleia municipal: "Não confundo, nunca o fiz, maioria com poder absoluto", afirmou.

Já Pacheco Pereira diz que vê com ironia "esta descida de Sócrates dos céus" e compara este fenónemo ao de Santana Lopes. "É muito parecido com Santana Lopes, saem mal do governo e depois regressam baseando-se em três pilares: formulando uma narrativa, apresentando uma teoria da conspiração e fazem um ajuste de contas".

António Costa. "Uns amam, outros detestam a liderança de Sócrates"
Por Jornal i
publicado em 24 Out 2013
Pacheco Pereira comparou "descida de Sócrates dos céus" ao "fenómeno de Santana Lopes" e afirmou que a "ala socrática é mais pequena que a de Costa"
Para António Costa, José Sócrates é um tipo de político que não agrada a todos e faz com que a sua liderança não agrade a todos. "Uns amam, outros detestam", refere no programa "Quadratura do Círculo" na "SIC Notícias".

O responsável lembra, no entanto, que Cavaco Silva teve uma liderança semelhante apesar de actualmente estar hoje diferente. "Nem todos os primeiros-ministros conseguem a agradar a todos, como aconteceu, por exemplo, com António Guterres".

Costa afirma ainda que existe em Portugal uma teoria empobrecida do que pode e deve ser a função de um político. "Em Portugal existe a ideia de que um primeiro-ministro só pode voltar à vida política para ser presidente da República".

Já Pacheco Pereira diz que vê com ironia "esta descida de Sócrates dos céus" e compara este fenónemo ao de Santana Lopes. "É muito parecido com Santana Lopes, saem mal do governo e depois regressam baseando-se em três pilares: formulando uma narrativa, apresentando uma teoria da conspiração e fazem um ajuste de contas".

O comentador acrescenta ainda que "a ala socrática é muito mais pequena que a ala de António Costa", mas defende que o perfil do autarca de Lisboa, assim como o de Rui Rio, ex-presidente da Câmara do Porto, é o de candidato a primeiro-ministro e não o de candidato a Presidente da República. Pacheco Pereira diz, por isso, que mais facilmente vê o socialista e o social-democrata a concorrerem ao cargo de chefes de governo, pelos respectivos partidos, do que à Presidência da República, "para onde os parecem querer empurrar".


Por seu lado, Lobo Xavier critica duramente o tom usado por José Sócrates na entrevista dada ao "Expresso", lembrando que "isso em nada dignifica a vida política".

Sem comentários: