Costa afirma que Lisboa deu exemplo e que "falta o Estado fazer a sua parte"
Na tomada de posse, António Costa louvou o trabalho das autarquias, em contraponto com o do Estado, incapaz de reduzir o défice, "mau grado os cortes de investimento e nos direitos sociais"
A transferência de meios e competências para as
freguesias da capital esteve ontem no centro do discurso de tomada de posse de
António Costa, que considerou que com ela a Câmara de Lisboa deu "o exemplo".
Agora, defendeu o autarca, "falta o Estado fazer a sua parte", promovendo "uma
reforma" que tenha como "pedra angular" uma descentralização "do que deve ser
descentralizado", "para os municípios em geral, para o município de Lisboa em
particular, para as áreas metropolitanas e as regiões".
No seu discurso, António Costa não poupou elogios às autarquias, afirmando
que estas são "as entidades públicas que mais têm contribuído para diminuir o
défice e reduzir a dívida". Em contraponto, frisou, com um Estado que tem
revelado uma "incapacidade de reduzir o seu défice e deixar de aumentar a sua
dívida, mau grado os cortes de investimento e nos direitos sociais"."Quanto tempo teremos ainda de esperar para que se invista na eficiência, retirando competências a quem gere mal e confiando-as a quem pode gerir melhor?", perguntou o presidente da Câmara de Lisboa, eleito para o cargo pela terceira e última vez. Como já tem feito várias vezes, reivindicou para as autarquias competências ao nível dos transportes públicos, sublinhando que estes não podem ser vistos como "um negócio para vender a preço de ocasião a pretexto de uma dívida que não pára de aumentar".
Outra alteração que o autarca socialista quer que o Governo concretize quanto antes tem a ver com as áreas metropolitanas. "Não nos podemos continuar a conformar com a insignificância da entidade metropolitana", disse, defendendo a urgência de se instituir "uma verdadeira autarquia metropolitana, com competências e meios próprios e órgãos directamente eleitos pelos cidadãos".
António Costa falava no Pátio na Galé, no Terreiro do Paço, perante uma plateia com centenas de pessoas. Na tomada de posse marcaram presença ilustres socialistas, como Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues, António Vitorino, Edite Estrela, Mário Lino e Ana Paula Vitorino. José Sócrates e Mário Soares não estiveram presentes, mas, segundo contou aos jornalistas uma assessora de imprensa da Câmara de Lisboa, passaram por lá para dar um abraço ao presidente da autarquia.
Na plateia, na primeira fila, estava Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, a quem António Costa fez questão de se dirigir durante o seu discurso. "A maioria que se reforçou em Lisboa provou que é possível fazer diferente. A maioria que se formou no Porto demonstrou que há energia na sociedade para obrigar a fazer diferente", disse, defendendo que as duas cidades dinamizem a constituição de "uma aliança nacional".
Quem também foi referido no discurso foi o seu "bom amigo" Fathala Oualalou, presidente da Câmara de Rabat. Em francês, o presidente da Câmara de Lisboa saudou-o e manifestou o desejo de que os laços culturais e económicos entre as duas cidades possam ser reforçados.
Mas a primeira palavra do autarca socialista na sua tomada de posse tinha sido para os lisboetas, com quem diz ter construído nos últimos seis anos uma "relação de proximidade e confiança". Para aqueles que não se puderam recandidatar "devido à fusão de freguesias ou à limitação de mandatos", António Costa dirigiu "um cumprimento caloroso". Já a Fernando Seara, o candidato derrotado da coligação PSD/CDS/MPT, o presidente fez chegar "uma saudação democrática e uma palavra de estima pessoal".
António Costa também não esqueceu os trabalhadores do município, a quem assegurou que o processo de descentralização de meios para as juntas de freguesia "se desenvolverá em permanente diálogo com os próprios e as respectivas estruturas sindicais e com plena garantia de segurança no emprego".
No fim, antes de gritar três vivas a Lisboa, o presidente da câmara deixou uma garantia para aqueles preocupados com o facto de a sua lista ter desta vez conquistado uma maioria não só na câmara mas também na assembleia municipal: "Não confundo, nunca o fiz, maioria com poder absoluto", afirmou.
António Costa. "Uns
amam, outros detestam a liderança de Sócrates"
Por Jornal i
publicado em 24 Out 2013
Pacheco Pereira comparou "descida de Sócrates dos
céus" ao "fenómeno de Santana Lopes" e afirmou que a "ala
socrática é mais pequena que a de Costa"
Para António Costa, José Sócrates é um tipo de político que
não agrada a todos e faz com que a sua liderança não agrade a todos. "Uns
amam, outros detestam", refere no programa "Quadratura do
Círculo" na "SIC Notícias".
O responsável lembra, no entanto, que Cavaco Silva teve uma
liderança semelhante apesar de actualmente estar hoje diferente. "Nem
todos os primeiros-ministros conseguem a agradar a todos, como aconteceu, por
exemplo, com António Guterres".
Costa afirma ainda que existe em Portugal uma teoria
empobrecida do que pode e deve ser a função de um político. "Em Portugal
existe a ideia de que um primeiro-ministro só pode voltar à vida política para
ser presidente da República".
Já Pacheco Pereira diz que vê com ironia "esta descida
de Sócrates dos céus" e compara este fenónemo ao de Santana Lopes. "É
muito parecido com Santana Lopes, saem mal do governo e depois regressam
baseando-se em três pilares: formulando uma narrativa, apresentando uma teoria
da conspiração e fazem um ajuste de contas".
O comentador acrescenta ainda que "a ala socrática é
muito mais pequena que a ala de António Costa", mas defende que o perfil
do autarca de Lisboa, assim como o de Rui Rio, ex-presidente da Câmara do
Porto, é o de candidato a primeiro-ministro e não o de candidato a Presidente
da República. Pacheco Pereira diz, por isso, que mais facilmente vê o
socialista e o social-democrata a concorrerem ao cargo de chefes de governo,
pelos respectivos partidos, do que à Presidência da República, "para onde
os parecem querer empurrar".
Por seu lado, Lobo Xavier critica duramente o tom usado por
José Sócrates na entrevista dada ao "Expresso", lembrando que
"isso em nada dignifica a vida política".
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