segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O verdadeiro macho político. Alemanha responde a Sócrates e diz ser fiável com Portugal


Tratar o alemão Wolfgang Schäuble por "aquele estupor do ministro das Finanças", classificar uma posição do primeiro-ministro da Holanda como "calvinismo reles", afirmar de si próprio que "sempre fui a merda de um moderado", disparar uns "pulhas" para aqui e uns "bandalhos" para acolá, e despachar os seus opositores políticos como "os filhos da mãe da direita portuguesa", só está ao alcance de alguém para quem "a dureza encenada não é nenhuma dureza. Ou se tem ou não se tem." E Sócrates, claro, é um duro. Donde, o título da entrevista: "Eu sou o chefe democrático que a direita sempre quis ter."

O verdadeiro macho político



O meu médico aconselhou-me a evitar as gorduras, o colesterol e José Sócrates, mas depois da entrevista ao Expresso e de todo este burburinho mediático em torno do lançamento do seu livro, sinto que é meu dever voltar a ele, por estritas razões patriótico-psicanalíticas. Juro que não quero estar aqui a repisar a história do seu papel como primeiro-ministro, nem a fazer comparações entre declarações de rendimentos e níveis de vida, nem sequer a relembrar o seu amor à liberdade de expressão. O que eu quero é uma outra coisa: reflectir um pouco sobre o indiscutível fascínio que José Sócrates continua a exercer sobre tanta gente, mesmo depois de ter sido derrotado nas condições em que foi e deixando o país no estado em que está. Isso é único na nossa democracia, e nesse sentido a entrevista que concedeu a Clara Ferreira Alves é reveladora como poucas.
E é reveladora porque José Sócrates, talvez por achar que tinha diante de si alguém capaz de finalmente reconhecer todo o seu brilhantismo, se esticou muito mais do que é costume, expondo com uma clareza inédita o seu perfil de macho alfa da política nacional. Tudo naquela entrevista era bom, começando pelas fotografias de playboy cinquentão e acabando na linguagem desbragada, que Marcelo Rebelo de Sousa classificou como "tom infeliz". A mim, pelo contrário, pareceu-me um tom felicíssimo, no sentido em que mostrou Sócrates sem os véus habituais e mais de acordo com o perfil do animal feroz.
Tratar o alemão Wolfgang Schäuble por "aquele estupor do ministro das Finanças", classificar uma posição do primeiro-ministro da Holanda como "calvinismo reles", afirmar de si próprio que "sempre fui a merda de um moderado", disparar uns "pulhas" para aqui e uns "bandalhos" para acolá, e despachar os seus opositores políticos como "os filhos da mãe da direita portuguesa", só está ao alcance de alguém para quem "a dureza encenada não é nenhuma dureza. Ou se tem ou não se tem." E Sócrates, claro, é um duro. Donde, o título da entrevista: "Eu sou o chefe democrático que a direita sempre quis ter."
Éparticularmente significativa a necessidade que sentiu de colocar ali o adjectivo "democrático", não fosse alguém enganar-se no regime. Numa entrevista completamente autocentrada, e construída sobre a imagem do líder decidido e inabalável ("nunca me fui abaixo"), aquilo que sobressai, como uma obsessão, é o action man que só caiu porque foi traído e só não salvou o país porque não o deixaram. Que Sócrates pense isso de si próprio, não chega a espantar - como canta Caetano, "Narciso acha feio o que não é espelho". O que espanta é ele continuar a ter uma vasta corte de fiéis, que certamente não o seguem por causa das suas ideias (quais são?), mas sim porque continuam fascinados com o seu estilo enérgico, desbocado e autoritário.
Por muitas vezes que Sócrates leia a Metafísica dos Costumes (dez vezes, diz ele), este é um costume que não tem nada de metafísico: numa pátria pouco dada à iniciativa individual e que olha para o Estado como um pater familias, o carismático Sócrates, que se acha naturalmente talhado para o exercício do poder, continua a ser o flautista de Hamelin para todos aqueles que não dispensam o macho alfa à frente da manada. Já dizia o sábio de Santa Comba: "Se soubesses o que custa mandar, gostarias de obedecer toda a vida". Tivessem ensinado esta frase a José Sócrates na Sciences Po, e ele certamente assinaria por baixo.
Jornalista jmtavares@outlook.com

 "A Merkel está do outro lado com aquele estupor das Finanças, o Schäuble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias contra nós. E ligávamos para o gabinete da Merkel e ela, com quem me dava bem, dizia que vinha do gabinete do ministro das Finanças. No jantar, ela pô-lo ao lado para o comprometer. Disse: "Devo ser a única na Alemanha que acha que vocês não precisam de ajuda.""

Alemanha responde a Sócrates e diz ser fiável com Portugal


Comunicado da embaixada foi trabalhado com os ministérios dos Negócios Estrangeiros e das Finanças de Berlim

As declarações do antigo primeiro-ministro José Sócrates publicadas na última edição do semanário Expresso levaram ontem a uma tomada de posição da embaixada da Alemanha em Lisboa. Berlim afirma que sempre foi um parceiro fiável de Portugal, que contribuiu para o financiamento do resgate europeu e para os fundos estruturais da União Europeia (UE), e assegura a sua contribuição no futuro.
"A Alemanha sempre foi um parceiro fiável e tem apoiado Portugal na superação da crise financeira. Assegurar a estabilidade da moeda comum, bem como emergir desta crise de forma fortalecida, com maior crescimento e emprego, foram e continuam a formar o interesse comum de ambos os países", começa por destacar a nota. A missiva prossegue: "O Governo federal da Alemanha tem sempre apoiado o seu parceiro português nas necessárias e frequentemente difíceis medidas adoptadas." E, a concluir, o texto destaca: "Para tal, a Alemanha deu desde o início - e de forma resoluta - o seu grande contributo aos fundos de resgate europeus e aos fundos estruturais da UE. Também no futuro Portugal poderá continuar a contar com a Alemanha."
No total, são escassos 640 caracteres cheios de significado. O PÚBLICO sabe que o texto da embaixada alemã em Lisboa foi trabalhado com os ministérios dos Negócios Estrangeiros e das Finanças de Berlim. O facto de a delegação diplomática ter saído ontem a terreiro deve-se a perguntas dos órgãos de comunicação sobre algumas das declarações de José Sócrates ao Expresso do passado fim-de-semana.
Naquela entrevista, o ex-primeiro-ministro e antigo líder dos socialistas portugueses abordou vários temas - com destaque para os esforços do seu último Governo para evitar o resgate da troika. Batalha travada em 2011 e que leva ao seguinte relato de um jantar na capital alemã com as autoridades daquele país. "A Merkel está do outro lado com aquele estupor das Finanças, o Schäuble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias contra nós. E ligávamos para o gabinete da Merkel e ela, com quem me dava bem, dizia que vinha do gabinete do ministro das Finanças. No jantar, ela pô-lo ao lado para o comprometer. Disse: "Devo ser a única na Alemanha que acha que vocês não precisam de ajuda.""
A diplomacia alemã nada adianta sobre as razões para a divulgação desta nota, algo pouso usual. A forma é deliberadamente sintética e o tom propositadamente seco. A alusão do antigo primeiro-ministro a divergências no seio do executivo de Berlim sobre Portugal entre a chanceler o seu ministro das Finanças não terão agradado.
Também ontem, em declarações à TSF, José Sócrates revelou que, em 2011, por duas ou três vezes, convidou o então líder da oposição, Pedro Passos Coelho, a integrar o seu último executivo. Convite não aceite.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que comentário ressabiado. Onde está o jornalismo? Parece um comentário TVI.