Obras da Embaixada dos Emirados Árabes Unidos, no Príncipe Real, mais uma vez contestadas
O proprietário do palacete afectado pelas obras da embaixada continua a obter apoios para denunciar o caso
Um engenheiro civil, um olissipógrafo, um promotor
imobiliário e um crítico de arte juntaram-se ontem para chamar a atenção para
aquilo que consideram ser não só um exemplo de má vizinhança e de falta de
civilidade, mas também um atentado contra o património de Lisboa. Em causa estão
as obras realizadas pela Embaixada dos Emirados Árabes Unidos, na Praça do
Príncipe Real.
A embaixada construiu no exterior do edifício que ocupa uma estrutura de
metal (entretanto retirada), uma caixa de elevador e um barracão, tapando várias
janelas, uma porta e uma escada do palacete vizinho. Estes trabalhos têm vindo a
ser contestados não só pelo proprietário desse imóvel, o empresário libanês
Nabil Aouad, mas também por vários profissionais ligados à cultura e ao
património.Depois de ter sido criada uma página no Facebook Em defesa do Príncipe Real e de ter sido lançado um abaixo-assinado contra aquilo que se diz ser um "abuso de poder e desrespeito do património", ontem realizou-se uma conferência de imprensa para denunciar o caso. Nela participaram João Appleton, José Sarmento de Matos, António Rego e Alexandre Melo, que apelaram à intervenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
José Sarmento de Matos explicou que os dois edifícios pertenciam originalmente à mesma família, partilhando um espaço exterior comum, o que, segundo diz, levou a que nunca tivesse havido uma clara separação entre ambos. Mesmo sem querer discutir a questão da propriedade, o olissipógrafo não tem dúvidas de que está em causa "um verdadeiro atentado à integridade da zona do Príncipe Real".
A Embaixada dos Emirados Árabes Unidos, acusa Sarmento de Matos, "tomou posse do logradouro comum e fez o que entendeu", realizando no local obras que configuram "uma solução inaceitável". Alexandre Melo afirmou que se assistiu a "uma invasão, agressão, destruição em relação à propriedade de um vizinho", que denota "a ausência de um sentido mínimo de boa vizinhança". Mas, para este crítico de arte, a questão é mais grave, dado que as obras ilegais foram feitas por uma embaixada: "Há o risco de se porem em causa as relações diplomáticas e culturais entre dois países ao mais alto nível", alertou.
Por seu lado, o engenheiro civil João Appleton, especialista em reabilitação de estruturas, evocou a sua participação em programas de erradicação de barracas e comentou: "Já não estava habituado à ideia de se construírem barracas em Lisboa. É uma novidade de mau gosto." Por fim, António Rego, promotor imobiliário que tem acompanhado este processo em nome de Nabil Aouad, confessou-se chocado. "Um português, seja um cidadão privado ou um promotor, não conseguiria fazer nada do que aqui está a ser feito", afirmou, acrescentando que a única forma de o problema se resolver é as construções serem demolidas.
José Miguel Júdice, representante legal do proprietário do palacete vizinho da Embaixada dos Emirados Árabes Unidos, confirmou ao PÚBLICO que está em curso a preparação de "novas fases jurídicas", depois de não ter sido cumprida uma notificação judicial que dava à embaixada oito dias para demolir o que fez e repor a situação anterior.
A Embaixada dos Emirados Árabes Unidos não tem mostrado disponibilidade para prestar esclarecimentos. "São questões internas, não temos de explicar as nossas obras", justificou no início de Outubro uma funcionária, que pediu para não ser identificada.
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