quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Secretário de Estado de Rui Machete prepara cimeira em Luanda.O futuro das relações com Angola é uma incógnita.



A “presença” de Machete em Angola está “simbolizada” na própria bandeira …

Secretário de Estado de Rui Machete prepara cimeira em Luanda


Após três visitas de Paulo Portas e de ter sido o destino da primeira viagem ao estrangeiro de António Pires de Lima, Luanda está, de novo, no roteiro do Governo português. Jornal de Angola voltou ao ataque
O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Luís Campos Ferreira, inicia hoje uma visita de dois dias a Angola com o objectivo de preparar a 1.ª cimeira bilateral entre os dois países que será presidida pelos respectivos primeiros-ministros. Campos Ferreira manterá reuniões com o chefe da diplomacia de Luanda, Georges Chikoti, com os secretários de Estado da Cooperação e Relações Exteriores, e com responsáveis das pastas da Economia, Comércio, Saúde, Ensino Superior, Juventude e Desportos, Cultura e Comunicação Social.
Durante a visita, o secretário de Estado terá reuniões com empresários portugueses com investimentos em Angola. A próxima cimeira, cuja data definitiva ainda não está definida, deverá permitir o arranque de uma série de projectos de empresas portuguesas e é, neste momento, uma prioridade da diplomacia portuguesa. Enquanto ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas visitou por três vezes Luanda e o novo responsável da Economia, o também centrista António Pires de Lima, teve na capital angolana o destino da sua primeira visita oficial ao estrangeiro. Em Luanda, Pires de Lima manteve conversações com o seu homólogo, com o titular da pasta do Comércio e com o vice-presidente Manuel Vicente, e participou na criação de um grupo de trabalho misto para a monotorização dos projectos de investimento entre os dois países.
Ontem, em editorial, o Jornal de Angola voltou a indignar-se contra "as elites portuguesas corruptas e ignorantes". No artigo, de novo assinado pelo director, José Ribeiro, o órgão oficial do MPLA, partido no poder liderado pelo Presidente, José Eduardo dos Santos, acusa essas elites de "insultar e caluniar" os políticos eleitos em Luanda e de tudo terem feito "para derrubar o Governo angolano". Depois de uma primeira reacção à polémica em Portugal após a entrevista do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, à Rádio Nacional de Angola, o jornal volta a queixar-se dos "insultos e calúnias" e do ataque "gratuito e desqualificado" de um "país amigo".
Sob o título "Reciprocidade", o autor, que várias vezes qualifica as elites portuguesas de "ignorantes e corruptas", considera ter chegado o momento para se exigir de Portugal o tratamento que este país recebe de Angola e o fim dos "insultos". Sem nomear ninguém refere-se a "essas elites, que passam de regime em regime sempre na crista da onda" e inclui nelas "os que dominam" os "órgãos de comunicação social" portugueses, não deixando de fora os órgãos públicos RDP e RTP, acusando todos de "falta de educação" quando falam do "regime de José Eduardo dos Santos" como falam do "regime de Assad".
O editorialista defende que "o Presidente José Eduardo dos Santos e o MPLA têm um fortíssimo e inegável apoio popular" para depois acentuar que isso não agrada a Portugal. "Não podemos admitir que em Portugal políticos e jornalistas, intelectuais com ideias submersas em ódios recalcados não respeitem os nossos símbolos nacionais e desonrem os titulares dos nossos órgãos de soberania", insiste. No domingo, depois dos apelos em Portugal à demissão de Rui Machete por este ter pedido desculpas a Angola a propósito das investigações da Procuradoria-Geral da República portuguesa a altas figuras do Governo angolano, o jornal atacava directamente a procuradora-geral da República. Joana Marques Vidal tinha sexta-feira esclarecido, em comunicado, que estavam pendentes no Departamento Central de Investigação e Acção Penal "vários processos em que são intervenientes cidadãos angolanos, quer na qualidade de suspeitos, quer na qualidade de queixosos". Dois dias depois, o Jornal de Angola escrevia: "Ao alimentar manchetes e notícias falsas que têm no centro figuras públicas angolanas, o Ministério Público e a procuradora-geral da República, Joana Vidal, puseram-se fora da lei."
A peculiar forma de se referir a Portugal utilizada pelo Jornal de Angola é, porém, desvalorizada pela diplomacia lusa. No Palácio das Necessidades é sublinhado que o objectivo do diário que ataca as "elites corruptas e ignorantes" de Portugal é interno.

O futuro das relações com Angola é uma incógnita


O pedido de desculpas de Rui Machete, que o próprio tentou justificar com a necessidade de "apaziguamento" entre Portugal e Angola, surge numa conjuntura em que as relações económicas nunca estiveram tão estreitas, nomeadamente por via da ascensão deste país africano. Quanto ao futuro, este está repleto de indefinições.
Neste momento, verifica-se um momento de viragem histórica nas relações comerciais, com a balança a pender para o lado angolano. No primeiro semestre, o saldo entre a compra e venda de bens foi negativo para Portugal em 180 milhões de euros, devido ao aumento das compras de petróleo. Isto num ambiente de forte concorrência com outros países. Se é verdade que Portugal se mantém como o principal abastecedor, as empresas nacionais já tiveram uma quota de mercado maior. Em 2012 Portugal detinha uma quota de mercado de 16,4%, quando em 2007 este indicador estava nos 19,3%.
Além disso, existe um enorme desafio a médio prazo, ligado às mudanças estruturais da economia angolana. O país quer depender menos das importações e dinamizar a produção local, o que irá reflectir-se nas vendas para Angola (esperando-se desde já um aumento das taxas alfandegárias). A questão é que se verificam vários obstáculos ao investimento, e não é por acaso que está a ser efectuado um relatório sobre os bloqueios que existem. A análise incide sobre os dois países, mas é evidente que há mais complicações por parte de Portugal.
A adaptação das empresas nacionais a esta nova realidade, nomeadamente através do relacionamento com empresários locais, será fundamental para manter as ligações com Angola. Se falhar a transição da exportação para a produção local, Portugal perderá, além de rendimentos, influência económica num dos seus principais mercados fora da Europa, independentemente da língua em comum.

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