segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ALERTA !!! Eucalipto avança sobre áreas ardidas em 2004 na serra do Caldeirão


Eucalipto avança sobre áreas ardidas em 2004 na serra do Caldeirão


Produtores aproveitam vazio deixado por um dos maiores incêndios de há nove anos no Algarve para substituir espécies
A presença do eucalipto na serra do Caldeirão, no Algarve, está em crescendo. Há produtores que aproveitam o vazio deixado por um dos grandes incêndios de 2004 para substituir o sobreiro por aquela espécie. O Governo minimiza o problema sustentando que o eucalipto ocupa uma área residual face à que foi consumida pelas chamas.
No dia 26 de Julho de 2004, junto à Portela do Moinho, na freguesia de S. Barnabé, Almodôvar, em plena serra, deflagrou um incêndio que, nos quatro dias seguintes, se estendeu aos concelhos de Loulé e de S. Brás de Alportel. No fim, tinha consumido 28.620 hectares dos cerca de 80 mil hectares dos sobreirais da serra algarvia, onde se produz a mais valiosa cortiça do mundo.
Desde então, diferentes promessas de apoio foram feitas por sucessivos governantes. Centenas de famílias que viviam isoladas no interior da serra do Caldeirão e que têm na cortiça, nos produtos silvestres (medronho, mel, cogumelos silvestres) e na pastorícia o seu modo de vida, foram afectadas. Porém, segundo representantes locais, as promessas não se concretizaram.
O coordenador da Associação dos Produtores Florestais da Serra do Caldeirão (APFSC), José Albuquerque, sintetiza o que se passou ao longo da última década: "Os programas e as promessas não-cumpridas foram tantas e tantas foram as coisas que se podiam fazer e não fizeram." O presidente da Câmara de Almodôvar, António Sebastião, acrescenta que, perante a impossibilidade de recuperar o património perdido, as pessoas "estão a ser empurradas para plantar eucaliptos".
Esta alternativa, observa o autarca, é sustentada com uma frase sedutora: "semeiem hoje [eucaliptos] e colham amanhã". Isto porque um sobreiro, depois de plantado, só ao fim de 40 anos é que começa a dar a primeira cortiça. O eucalipto, pelo contrário, pode tornar-se rentável ao fim de nove ou dez anos. Contudo, "um sobreiral é mais rentável do que o eucaliptal", diz Albuquerque.
António Sebastião critica a gestão florestal na serra, realçando a "posição abusiva do eucalipto" com "enormes extensões" plantadas, uma opção que diz "não corresponder aos interesses da região". O problema reside nas áreas onde o montado foi destruído.
O Ministério da Agricultura e do Mar (MAM), em resposta ao PÚBLICO, disse que, para debelar a destruição provocada pelo incêndio de 2004, "o Estado assegurou a concretização do planeamento da recuperação das áreas ardidas" com a "participação" das autarquias e também de "todos" os agentes locais.
Interesse espanhol
Relativamente à reflorestação, o MAM sustenta que "o Estado disponibilizou" medidas de apoio financeiro para o "restabelecimento" do potencial de produção silvícola, com "níveis elevados de co-financiamento público (80%, podendo ser majorado até 95%) do programa Agro".
As consequências do incêndio de 2004 continuam a fazer-se sentir, garante Sérgio Manuel Afonso Palma, presidente da Junta de Freguesia de S. Barnabé, realçando as "enormes perdas" na primeira colheita de cortiça após o incêndio. Agora "há mais matas de eucaliptos" e até os espanhóis consideram a zona como "um dos melhores locais para os plantar", observa este autarca, apelando às autoridades para que "não deixem que se cubra tudo de eucaliptos".
O MAM socorre-se dos dados provisórios do último Inventário Florestal Nacional de 2010 para dizer que a área ocupada com eucalipto "é irrisória: pouco mais de 2% da superfície total de povoamentos florestais".

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