A Equipe do 28 café. Depois de ter desenvolvido uma reportagem sobre este tema, é
com prazer que o VOODOCORVO publica este artigo, agora no Jornal i
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28 Café. A carreira do costume sem sobressaltos
Por Miguel Branco
publicado em 23 Out 2013 in (Jornal) i online
Abriu há menos de dois meses o café que é uma réplica do
mais emblemático eléctrico lisboeta. O 28 já chega ao Castelo de São Jorge
Antes da história os avisos: cuidado com os carteiristas;
para sua segurança não se debruce nas janelas; e não dá para todos: 23 lugares
sentados e 12 de pé. Agora sim, que comece a viagem.
E, diga lá, como é que lhe parece que isto encarrila? Com
datas, pois claro. A 31 de Agosto de 1901 chegava a Lisboa a primeira carreira
eléctrica. Precisamente 112 anos depois nascia o 28 Café, uma réplica do
eléctrico 28 da Carris, com paragem terminal no Castelo de São Jorge.
Eunice e Nuno Brito, uma advogada e um arquitecto, saltaram
para a carruagem e abriram as portas em jeito de agradecimento. "Sou um
apaixonado pelo Castelo, adoro o lugar, as pessoas, é um ambiente de casa,
fraterno. E ando todos os dias de 28. O eléctrico é o meu transporte favorito,
as recordações que tenho de infância é uma espécie de magia e julgo que não era
apenas para mim, era também para grande parte das crianças", explica Nuno.
Que ainda acrescenta emoções: "De tempo a tempo o meu pai levava-me a
brincar ali a um parque em Monsanto que tinha um eléctrico para os mais
pequenos brincarem e aquilo era fantástico. Isto é o meu agradecimento por
todos esses momentos".
Além dos letreiros de aviso à tripulação de que já falámos,
há ainda extintores, quadros com bilhetes de bordo e passes antigos, postes de
apoio - para que ninguém se magoe com a turbulência - e ainda uma série de
miniaturas expostas no fundo do café. "A partir do momento em que a ideia
é fazer uma réplica, e eu, defeito de profissão, sou arquitecto, é preciso
ligar bastante aos pormenores. Fazê-lo da forma mais fiel possível, é
proporcionalmente maior, até porque o espaço também o é", confessa Nuno.
Mas isto não chega. Onde há história, há turismo. E se há coisa de que as
muralhas do Castelo de São Jorge não podem prescindir é de umas belas conversas
em idiomas estrangeiros. O 28 Café não quis aborrecê-las e decidiu participar.
"Quando apresentámos o projecto no Museu da Carris, para obter referências
de cores e vernizes, eles ficaram bastante interessados e quiseram fazer uma
parceria connosco. Acabámos por fazer um protocolo para termos aqui uma
divulgação histórica do eléctrico na cidade de Lisboa. Já que estamos num sítio
fortemente turístico fica-nos bem mostrar a nossa história", explica o
proprietário.
Um dos eléctricos era denominado de americano - por ser
fabricado nos Estados Unidos da América - e era puxado a cavalos. Outro dos
quadros, em forma de boletim turístico, que pode consultar é do eléctrico São
Luíz. O nome é uma portugalização, já que estes eram feito na cidade de St.
Louis e que ainda hoje circulam em São Francisco e noutros municípios
norte-americanos. "Além de serem uma presença em algumas cidades dos
Estados Unidos, esses eléctricos ainda são fabricados, disseram-me que
continuam a pedir peças à Carris", conta Eunice.
Logo de manhã os turistas vão entrando e espreitando. É
vê-los, praticamente todos, boquiabertos e a ir chamar a família. Mas nem só de
turistas se faz este lugar. "É obvio que temos muitos turistas, como não
podia deixar de ser e eles adoram isto, tiram muitas fotografias. Depois há os
portugueses, que ficam encantados com a réplica. Principalmente para os
lisboetas, que estão mais dentro do assunto, é uma experiência muito especial",
conta Nuno.
O 28 Café faz uma tripla aposta no que à ementa diz
respeito: gelados, saladas e tostas. Por azar era cedo e ficámo-nos pelo café,
mas contamos o resto. Quanto aos gelados ainda estão numa fase embrionária, as
taças com múltiplos sabores ainda não foram elaboradas mas estão para breve -
por agora são só bolas de gelados com vários sabores, como baunilha ou
chocolate. As saladas, por sua vez, estão bem e recomendam-se, sobretudo a de
salmão fumado, pêssego e canela. Segue-se a tosta 28, a especialidade em
tamanho gigante que tem sido um sucesso. Além disso têm um prato do dia
rotativo que varia entre os 7? e os 9?. Mas se não estiver para aí virado
alimente-se com a decoração, uma bênção para a vista dos que conhecem a
carreira. Não dizem que os olhos também comem? "A carreira 28 dá-nos uma
perspectiva da cidade totalmente distinta, passa por vários bairros com
diferentes tipos de arquitectura e de diferentes épocas, só por isso vale a
pena. Além disso, ali em São Vicente faz umas razias que parece mesmo que vai
bater. É muito giro ver as reacções de quem nunca andou, os gritos, o medo, é
delicioso", garante o arquitecto.
Agora temos que seguir que o eléctrico não espera por
ninguém. Mas da próxima vez não nos enganam, isto é muito bonito, mas com um
prato à frente é melhor.
Café 28, Rua de Santa Cruz do Castelo nº45, Lisboa.
Tel: 218 660 119
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