terça-feira, 22 de outubro de 2013

28 Café. A carreira do costume sem sobressaltos

A Equipe do 28 caféDepois de ter desenvolvido uma reportagem sobre este tema, é com prazer que o VOODOCORVO publica este artigo, agora no Jornal i
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28 Café. A carreira do costume sem sobressaltos

Por Miguel Branco
publicado em 23 Out 2013 in (Jornal) i online

Abriu há menos de dois meses o café que é uma réplica do mais emblemático eléctrico lisboeta. O 28 já chega ao Castelo de São Jorge
Antes da história os avisos: cuidado com os carteiristas; para sua segurança não se debruce nas janelas; e não dá para todos: 23 lugares sentados e 12 de pé. Agora sim, que comece a viagem.

E, diga lá, como é que lhe parece que isto encarrila? Com datas, pois claro. A 31 de Agosto de 1901 chegava a Lisboa a primeira carreira eléctrica. Precisamente 112 anos depois nascia o 28 Café, uma réplica do eléctrico 28 da Carris, com paragem terminal no Castelo de São Jorge.

Eunice e Nuno Brito, uma advogada e um arquitecto, saltaram para a carruagem e abriram as portas em jeito de agradecimento. "Sou um apaixonado pelo Castelo, adoro o lugar, as pessoas, é um ambiente de casa, fraterno. E ando todos os dias de 28. O eléctrico é o meu transporte favorito, as recordações que tenho de infância é uma espécie de magia e julgo que não era apenas para mim, era também para grande parte das crianças", explica Nuno. Que ainda acrescenta emoções: "De tempo a tempo o meu pai levava-me a brincar ali a um parque em Monsanto que tinha um eléctrico para os mais pequenos brincarem e aquilo era fantástico. Isto é o meu agradecimento por todos esses momentos".

Além dos letreiros de aviso à tripulação de que já falámos, há ainda extintores, quadros com bilhetes de bordo e passes antigos, postes de apoio - para que ninguém se magoe com a turbulência - e ainda uma série de miniaturas expostas no fundo do café. "A partir do momento em que a ideia é fazer uma réplica, e eu, defeito de profissão, sou arquitecto, é preciso ligar bastante aos pormenores. Fazê-lo da forma mais fiel possível, é proporcionalmente maior, até porque o espaço também o é", confessa Nuno. Mas isto não chega. Onde há história, há turismo. E se há coisa de que as muralhas do Castelo de São Jorge não podem prescindir é de umas belas conversas em idiomas estrangeiros. O 28 Café não quis aborrecê-las e decidiu participar. "Quando apresentámos o projecto no Museu da Carris, para obter referências de cores e vernizes, eles ficaram bastante interessados e quiseram fazer uma parceria connosco. Acabámos por fazer um protocolo para termos aqui uma divulgação histórica do eléctrico na cidade de Lisboa. Já que estamos num sítio fortemente turístico fica-nos bem mostrar a nossa história", explica o proprietário.

Um dos eléctricos era denominado de americano - por ser fabricado nos Estados Unidos da América - e era puxado a cavalos. Outro dos quadros, em forma de boletim turístico, que pode consultar é do eléctrico São Luíz. O nome é uma portugalização, já que estes eram feito na cidade de St. Louis e que ainda hoje circulam em São Francisco e noutros municípios norte-americanos. "Além de serem uma presença em algumas cidades dos Estados Unidos, esses eléctricos ainda são fabricados, disseram-me que continuam a pedir peças à Carris", conta Eunice.

Logo de manhã os turistas vão entrando e espreitando. É vê-los, praticamente todos, boquiabertos e a ir chamar a família. Mas nem só de turistas se faz este lugar. "É obvio que temos muitos turistas, como não podia deixar de ser e eles adoram isto, tiram muitas fotografias. Depois há os portugueses, que ficam encantados com a réplica. Principalmente para os lisboetas, que estão mais dentro do assunto, é uma experiência muito especial", conta Nuno.

O 28 Café faz uma tripla aposta no que à ementa diz respeito: gelados, saladas e tostas. Por azar era cedo e ficámo-nos pelo café, mas contamos o resto. Quanto aos gelados ainda estão numa fase embrionária, as taças com múltiplos sabores ainda não foram elaboradas mas estão para breve - por agora são só bolas de gelados com vários sabores, como baunilha ou chocolate. As saladas, por sua vez, estão bem e recomendam-se, sobretudo a de salmão fumado, pêssego e canela. Segue-se a tosta 28, a especialidade em tamanho gigante que tem sido um sucesso. Além disso têm um prato do dia rotativo que varia entre os 7? e os 9?. Mas se não estiver para aí virado alimente-se com a decoração, uma bênção para a vista dos que conhecem a carreira. Não dizem que os olhos também comem? "A carreira 28 dá-nos uma perspectiva da cidade totalmente distinta, passa por vários bairros com diferentes tipos de arquitectura e de diferentes épocas, só por isso vale a pena. Além disso, ali em São Vicente faz umas razias que parece mesmo que vai bater. É muito giro ver as reacções de quem nunca andou, os gritos, o medo, é delicioso", garante o arquitecto.

Agora temos que seguir que o eléctrico não espera por ninguém. Mas da próxima vez não nos enganam, isto é muito bonito, mas com um prato à frente é melhor.



Café 28, Rua de Santa Cruz do Castelo nº45, Lisboa.


Tel: 218 660 119

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