segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"Portugal vai perder com a atitude de subserviência face ao poder em Angola"

Justino Pinto de Andrade, professor de Economia na Universidade Católica de Luanda, critica as declarações de Rui Machete
No quadro das relações entre Portugal e Angola, presente e futuro não podem ser encarados da mesma forma. Se, no presente, Portugal pode ganhar com uma cumplicidade com Angola, no futuro o mais certo é vir a "perder". Quem o diz é Justino Pinto de Andrade, professor de Economia da Universidade Católica de Luanda e líder do Bloco Democrático, para quem a forma como "as elites políticas" de Lisboa se relacionam com o poder em Luanda passou a linha da cumplicidade para o campo da "subserviência".
O académico e político da oposição diz que as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, à Rádio Nacional de Angola (RNA) em Setembro dão "uma má imagem" de Portugal em Angola. Algo que vem na sequência de comportamentos anteriores e que, ao contrário do que podem pensar os políticos portugueses, "não ajuda a fomentar as relações entre os dois países". A cumplicidade entre Portugal e Angola pode trazer "um maior fluxo" de comércio e investimentos, mas "só no curto prazo", considerou o analista ao PÚBLICO. "Se olhar para o futuro, Portugal vai perder muito. As autoridades angolanas não respeitam quem se põe de joelhos. É uma forma muito negativa de relacionamento", acrescenta.
Sinal disso é a forma violenta e depreciativa como o Jornal de Angola reage a notícias que comprometem o poder de Luanda. Não é um fenómeno novo, mas acentuou-se com as notícias sobre as investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) portuguesa a figuras próximas do Presidente José Eduardo dos Santos. Aconteceu no passado e agora, recentemente, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros Rui Machete falou à RNA.
Questionado sobre as investigações na PGR portuguesa, Rui Machete sugeriu que podia tratar-se de "um mal-entendido". "Tanto quanto sei, não há nada substancialmente digno de relevo, e que permita entender que alguma coisa estaria mal, para além do preenchimento dos formulários e de coisas burocráticas e, naturalmente, informar as autoridades de Angola pedindo, diplomaticamente, desculpa, por uma coisa que, realmente, não está na nossa mão evitar", disse o chefe da diplomacia portuguesa. Esta posição "é muito má para a imagem de Portugal", considera Justino Pinto de Andrade. "As pessoas pensam que ficando de joelhos fomentam as relações entre os dois países", acrescenta o professor universitário. "É o contrário."
As investigações abertas em Portugal são referentes a suspeitas de actos em território português, nota Justino Pinto de Andrade. A "promiscuidade entre a justiça e a política" em Angola impede "o apuramento" das suspeitas de "actos ilícitos que envolvem entidades angolanas", realça. "Se os actos ilícitos que envolvem as entidades angolanas em território português fossem investigados, nós em Angola teríamos melhor forma de pressionar os políticos corruptos."

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