O "Voo do Corvo" publica na íntegra um importante "post" do Blog "O Corvo".
Além do Comunicado do SOS Azulejo no Facebook.
Trata-se de mais uma destruição Patrimonial incompreensível, neste caso de um painel datado e assinado por A. Dean, 1912, e ilustrativo de um estilo único e raro em Portugal combinação Arte Nova / Chinoiserie / Japonesismo mas muito desenvolvido na Europa sendo aplicado em fachadas com fins publicitários/ comerciais. Neste caso tratava-se de uma composição simétrica, ladeando de ambos os lados, a porta de entrada de estabelecimento e fazendo parte integral e indívísivel do Todo da fachada.
Junto a este caso, com o comércio ilegal de Azulejaria histórica, bem ilustrado em Feiras da Ladra e Antiquários, a continuar impunemente, exige-se uma tomada de posição OFICIAL da C.M.L. nesta questão .António Sérgio Rosa de Carvalho
Projecto SOS Azulejo
MESTRE QUERUBIM LAPA E OFICINA DO CASTELO IMPEDEM DESTRUIÇÃO
DE 1 PAINEL DE AZULEJOS CHINOISERIE NA AV.5 DE OUTUBRO, Lisboa: deparando-se
esta manhã com a destruição do 1º painel lateral do café Bola cheia,
rapidamente agiram e, através da Policia Municipal (LINHA AZUL 808 20 20 36) e
do PISAL (CML), conseguiram parar a destruição, ficando um dos painéis na
parede. Tratatava-se de dois painéis publicitários únicos de uma antiga casa de
chás e cafés, "Chinoiseries"/Arte Nova, datados e assinados por A.
Dean, 1912. APELA-SE À DIVULGAÇÃO para que:
1- Não ocorram + destruições como esta;
2- Em casos similares, contactem as entidades supra
indicadas.
Lisboa perde mais um painel de azulejos nas Avenidas
Novas / http://ocorvo.pt/2013/10/06/lisboa-perde-mais-um-painel-de-azulejos-nas-avenidas-novas/
Lisboa está a perder o seu património em azulejos a um
ritmo infernal. E com ele vai-se também algo do brilho e da luz da cidade. Para
esta dura perda, não há que procurar responsáveis únicos, porque o somos todos,
uns mais outros menos, de uma forma ou de outra. Por acção ou por omissão, “por
furto, vandalismo ou desamor”, a cidade tem perdido milhares, senão milhões de
azulejos, que não voltarão a ser repetidos.
Texto e fotografias: Fernanda Ribeiro
“O azulejo não dura para sempre, é preciso tomar atenção”, bem
alertam os técnicos da direcção municipal do Património, que recentemente, num
encontro de quadros da câmara, falaram do seu trabalho, na tentativa de
preservar um património que se vai esgotando. Mas as palavras e os inventários
não bastam. Sexta-feira passada, dia 4 de Outubro, Lisboa voltou a perder mais
um painel de azulejos Arte Nova, datado de 1912, que fazia parte da decoração
das paredes exteriores de um prédio da Av. 5 de Outubro, na esquina com a Rua
Visconde de Valmor, onde se situa a pastelaria “Bola Cheia”.
A Polícia Municipal foi chamada, os técnicos do Projecto SOS
Azulejo, de Salvaguarda e Valorização do Património Azulejar Português, também,
o artista plástico Querubim Lapa esteve igualmente no local, bem como outros
ceramistas e técnicos do Programa de Investigação e Salvaguarda do Azulejo de
Lisboa e a acção conseguiu travar a delapidação total. Um outro painel de
azulejos da fachada do prédio, também do início do século XX, escapou à
destruição.
O burburinho foi muito e muita gente acorreu à pastelaria
Bola Cheia, questionando quem eram os responsáveis pelas obras que destruíram
um dos painéis de azulejo que há já mais de um século revestiam as paredes do
prédio.
“Agora é que vêm dizer ‘ai,ai,ai/ai,ai,ai’ que se partiu,
mas em mais de 20 anos que aqui trabalho nunca vi ninguém dizer, vamos fazer
isto pela preservação…Nem vi ninguém que se preocupasse de facto em preservar
os azulejos, que há bastante tempo estão a cair. Até eu já tirei alguns, para
eles não se partirem e caírem em cima dos clientes, na esplanada. Ontem, porque
os homens (das obras) andavam a picar as paredes, fizeram uma algazarra,
‘ai,ai,ai/ai,ai,ai’. Mas deviam ter-se preocupado antes”, disse ao Corvo a
empregada da pastelaria Bola Cheia, visivelmente incomodada com a aparente responsabilidade
apontada à casa onde trabalha.
Lina, que estava a trabalhar quando a destruição aconteceu,
não gostou do “espalhafato” que se gerou e, em declarações ao Corvo, tentou
separar águas: “Uma coisa é a pastelaria Bola Cheia e outra é o prédio”, como
se uma e outra coisa não pertencessem à mesma entidade. Mas ao que O Corvo
apurou depois, junto da ainda presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora
de Fátima – entretanto integrada na nova junta das Avenidas Novas -, Idalina
Flora, as obras que conduziram à destruição do painel de azulejo estão a ser
feitas pelo proprietário da pastelaria.
Mas Lina não se conforma com a falta de iniciativa em
matéria de preservação: “Não deixam arranjar as coisas, dizem ‘não se pode mexer, não se pode mexer’, mas
depois não fazem nada, elas caem de podres. E então vêm multar as pessoas, por
elas fazerem obras. E de que serve?”, interrogava.
“Do Museu do Azulejo, telefonaram para aqui a dizer para nós
chamarmos a Polícia Municipal. Mas eles é que são pela preservação, eles é que
devem cuidar disso”, dizia a responsável da loja que, como diz, “é sempre a
primeira pessoa a dar a cara” pela pastelaria e restaurante.
Entre os clientes que se encontravam na pastelaria, quando O
Corvo visitou o local, sábado de manhã, estava Idalina Flora, que nos últimos
oito anos foi presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima e
que, durante várias décadas, habitou o número 84 da Avenida 5 de Outubro –
edifício que considera dos melhores que existiram nas Avenidas Novas.
“Era um edifício muito bom. Foi feito em 1904 por um bom
construtor. Os meus sogros vieram para cá em 1914. Foi neste prédio que esteve
instalada a embaixada da Rússia no tempo dos czares. Depois, morou cá um
director da Bolsa, do tempo em que Portugal tinha as províncias no ultramar e
viveu também aqui Elmano Alves (político e deputado da antiga Assembleia
Nacional) e um juiz do Supremo Tribunal de Justiça, o juiz Figueirinhas. Vim
para cá em 1966 e só saí quando veio para aqui o restaurante”, recorda Idalina
Flora.
Sobre a pastelaria, que hoje é detida pela família
“Ferreira, também proprietária da Namur, na Avenida Defensores de Chaves e da
Casa Brasileira, na Baixa”, Idalina Flora lembra que, quando esta se instalou
no prédio da Av. 5 de Outubro, era para rivalizar com outra congénere. “Era uma
pastelaria do início do século XX, que pretendia ser a Versailles das Avenidas
Novas”.
Agora é diferente. A Bola Cheia faz tudo para angariar clientes e, “para os motivar” como diz a Lina, pratica preços que são dos mais baixos de Lisboa: “um café custa 40 cêntimos”, enquanto durar esta promoção.
Menos património irão agora encontrar na Avenida 5 de Outubro e na Visconde de Valmor os técnicos envolvidos no Programa de Investigação e Salvaguarda do Azulejo de Lisboa em espaço público, o PISAL, que pretende evitar que se perca a história de Lisboa, contada nos seus azulejos. Peças que “são não só identitárias, como caracterizam a luz de Lisboa”, nas palavras de Maria Teresa Bispo, uma das técnicas que participou quinta-feira no encontro de quadros da CML.
O inventário que aqueles técnicos estão a fazer iniciou-se na zona ribeirinha e vai, paulatinamente, progredindo na cidade. Quando, enfim, chegar às Avenidas Novas, haverá menos um painel de azulejo Arte Nova a registar, se outros não forem caindo. Com eles, foi-se um pouco de história da cidade.
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