Sampaio da Nóvoa não é um bom
candidato
LUÍS OSÓRIO
12/05/2015 /
Jornal i online
Sampaio da Nóvoa
não disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se
auto-elogia amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é
Sampaio da Nóvoa
não é um bom candidato à Presidência da República. Digo-o sem prazer; não tenho
(ou tento não ter) a tentação de rejeitar à partida, de não gostar, de não
oferecer o benefício da dúvida. Gosto de gostar. E adoraria que um candidato
independente pudesse candidatar-se e ganhar. Seria um óptimo sinal; permitiria
uma regeneração dos partidos e daria força a uma sociedade civil independente e
que não quer andar a reboque do Estado.
Ser o Partido
Socialista a apoiar Sampaio da Nóvoa pareceu-me uma ideia arriscada mas
interessante. Com esse improvável apoio, António Costa daria um sinal ao país
de que estava ao lado dos que não temem mudanças, dos que acreditam que os
partidos precisam de se abrir ao exterior, às elites, aos homens e mulheres
livres que não se revêem na participação político-partidária. Escrevi até que,
com o apoio de Soares, Eanes e Sampaio, o ex-reitor da Universidade de Lisboa
poderia ganhar as eleições se do outro lado da barricada estivesse Rui Rio. Mas
ninguém se deve enganar. Sampaio da Nóvoa é um homem com valor, um professor
universitário com uma carreira de topo.
Porém, por muito
que custe a quem nele investirá tempo, recursos e esperança, não é um bom
candidato.
Vi e li as suas
entrevistas. Por reconhecer o handicap de poucos portugueses saberem quem é,
tem a preocupação de gastar uma parte substancial do seu tempo mediático a
apresentar-se num tom (compreensível) de auto-elogio. Pela sua boca sabemos que
fez isto, aquilo e aqueloutro. Que na juventude leu clássicos, se apaixonou,
participou em manifestações, organizou colóquios e jogou à bola. O problema é
que nada retemos que seja distintivo para a escolha de um Presidente da
República.
Fernando Nobre
sofria do mesmo problema. Mas Nobre fizera a AMI, dedicara a sua vida a salvar
pessoas, o seu perfil era o de um romântico que aos olhos das pessoas tornara o
mundo melhor. Teve por isso quase tantos votos como Manuel Alegre, a quem o PS
apoiou. Até pode ser mais estruturado nas ideias que Nobre, mas o seu currículo
(político, afectivo e profissional) não convence ninguém. Sampaio da Nóvoa não
disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se
auto-elogia, amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é.
Ter tido uma vida
memorável não faz um bom ou mau candidato. O grave é não ter um discurso novo,
não ser um motor de esperança, não mobilizar o entusiasmo das pessoas e das
novas gerações, não ter uma ideia que seja nova, criativa, redentora. Os seus
discursos são retóricos, uma homenagem ao parisiense Flore, no boulevard
Saint-Germain, onde Sartre, Beauvoir e Camus marcaram o tempo. É curto.
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