CDS volta a faltar à apresentação
da biografia do primeiro-ministro
MARGARIDA GOMES
11/05/2015 - PÚBLICO
Os democratas-cristãos ainda não
digeriram as revelações de Pedro Passos Coelho relativamente ao momento de
maior crise na coligação PSD/CDS-PP – a demissão “irrevogável” de Paulo Portas.
Pela segunda vez
consecutiva, o CDS não compareceu na apresentação da biografia de Passos
Coelho, que decorreu ao fim da tarde desta segunda-feira, no Palácio da Bolsa,
no Porto. Depois de Lisboa, os democratas-cristãos voltaram a ignorar a segunda
sessão de apresentação do livro do primeiro-ministro, da autoria de Sofia
Aureliano, assessora do grupo parlamentar do PSD. Em Lisboa, a apresentação do
livro Somos o que queremos ser (uma biografia autorizada) de Pedro Passos
Coelho esteve a cargo de Carlos Moedas, titular da pasta da investigação,
ciência e inovação da Comissão Europeia. No Porto, as honras de apresentação
couberam a Marco António Costa, vice-presidente e porta-voz do PSD.
Antes e depois da
sessão, o PÚBLICO falou com alguns dirigentes e personalidades do CDS, que
disseram desconhecer o evento, alegando, por outro lado, não terem sido
convidados. Os democratas-cristãos mostram ainda alguma incomodidade com as
revelações que constam da biografia lançada há uma semana em Lisboa sobre o
momento de maior crise na coligação PSD/CDS-PP – a demissão “irrevogável” de
Paulo Portas, revelações que acusaram incómodo entre os centristas, sobretudo
numa altura em que os líderes dos dois partidos que sustentam o Governo
fecharam a coligação para as legislativas que vão decorrer em Outubro deste
ano.
Entre outras
coisas, o primeiro-ministro revela que, no dia 2 de Julho, Paulo Portas lhe
comunicou a decisão de abandonar o Governo por SMS e não mais lhe atendeu o
telemóvel naquele dia. O CDS não gostou e reagiu pela voz de Diogo Feio, que
declarou que “era bom também que o livro dissesse de que forma o
primeiro-ministro informou Paulo Portas sobre o nome da nova ministra das
Finanças”.
Passando ao lado
da polémica que o livro gerou entre os dois partidos devido ao facto de conter
citações que são atribuídas ao próprio Pedro Passos Coelho, Marco António Costa
evidenciou a determinação, o carácter e postura do primeiro-ministro aos longos
dos quatro ano que leva de governação e como nota inicial disse: “A vida pública
é uma prova de resistência no domínio dos princípios, no domínio das
dificuldades, no domínio das privações familiares e no domínio da capacidade de
carregarmos aos ombros a responsabilidades das nossas opções e sabermos que a
nossa coragem é que marcará a diferença”.
Referindo à
história que o livro narra, o porta-voz do PSD considerou tratar-se de uma
“história de resistência e de coragem”. Marco António Costa, uma das
testemunhas que a autora da obra Sofia Aureliano ouviu, revelou que o livro
“ajudará a compreender uma dimensão e uma perspectiva de uma personalidade que
não é fácil de se conhecer”. “É fácil relacionarmo-nos com a personalidade, é
fácil criarmos empatia com a personalidade, é fácil granjear o nosso respeito
por essa personalidade”.
Perante uma sala
sem figuras de relevo do PSD, o dirigente social-democrata dissertou sobre a
personalidade do chefe do Governo e enalteceu-lhe o “traço da atitude
humanista”, um "homem-chave (…) que nunca prescinde da circunstância de
ser ele o porta-voz das más notícias ao país e que nunca aceitou, em nenhum
momento, esconder-se por detrás de nenhum outro membro do Governo para falar
aos portugueses sobre as situações mais difíceis que o país tinha de
enfrentar”. E prosseguiu. “Esse homem era o mesmo que em todos os momentos
queria saber se o plano de emergência social que ele tinha exigido que fosse
colocado como prioridade absoluta do Governo estava a cumprir no terreno a
missão para o qual era indispensável o empenho de todo o Governo”.
Sofia Aureliano
revelou que o livro surgiu de uma “ideia extremamente ousada, de um devaneio”
sobre Pedro Passos Coelho, uma personalidade que disse intrigá-la. Leitora
compulsiva de biografias, a assessora do grupo parlamentar lamenta que Portugal
não tenha a tradição de outros países onde as biografias, autorizadas ou não,
fazem furor. “Falta a Portugal essa tradição”, declarou. “Faltam-nos biografias
sobre as pessoas que nos governam”, afirmou, partilhando com a plateia o
“desejo secreto” de escrever uma biografia que chegou agora às livrarias. Para
a biógrafa, esta obra “só fazia sentido se fosse consentida". “Conhecer a
história do primeiro-ministro na primeira pessoa só fazia sentido se fosse
autorizada” concluiu.
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