Líderes
europeus rejeitam sistema de quotas para a redistribuição de
refugiados
RITA SIZA 18/05/2015
- PÚBLICO
Bruxelas
sugeriu medida extraordinária para resolver a pressão provocada
pelo "afluxo maciço" de imigrantes pelo Mediterrâneo.
Os líderes europeus
concordam que é urgente encontrar uma resposta para a crise
migratória que assola o continente a partir do Mediterrâneo, mas da
Alemanha à França, da Espanha ao Reino Unido, à Hungria e Polónia,
os governos nacionais contestam o plano apresentado pela Comissão
Europeia de atribuição de quotas nacionais para a distribuição de
refugiados e candidatos a asilo político pelos vários países da
União.
A proposta,
formulada no âmbito da nova “Estratégia para a Imigração 2015”
aprovada na semana passada, merece a rejeição unânime dos
Estados-membros, que nos termos do plano continuam a manter as suas
prerrogativas nacionais na resposta aos pedidos (individuais) de
asilo que receberem. As quotas que Bruxelas propõe destinam-se a
lidar com os casos recentes de “afluxo maciço” de imigrantes por
via marítima do Norte de África para o Sul da Europa. Segundo os
regulamentos vigentes, os pedidos de asilo têm de ser apresentados
às autoridades do país de chegada, um “constrangimento” que
sobrecarrega a Itália, a Grécia e a Espanha, os pontos mais
procurados para o acesso ao território comunitário.
“Trata-se de uma
medida extraordinária, tomada numa situação de emergência e
relativa a uma situação específica”, precisou o vice-presidente
da Comissão Europeia, Frans Timmermans, sublinhando que “não
estamos a falar de uma imposição” e recordando que “cada Estado
continuará a determinar sozinho o acolhimento, ou não, dos
candidatos [a asilo político]”. O esquema de Bruxelas destina-se
exclusivamente a indivíduos que possam inscrever-se na definição
de pessoa desprotegida ou perseguida – isto é, candidatos a asilo
e refugiados –, e não contempla os chamados imigrantes económicos.
O sistema pensado
pela Comissão para a redistribuição geográfica dos refugiados é
baseado num cálculo que leva em conta o Produto Interno Bruto (PIB)
e a taxa de desemprego de cada país, bem como a sua população
total e o número de refugiados já instalados. Essa “chave”
seria aplicada para redistribuir os indivíduos de países terceiros
que desembarcaram recentemente pelos vários Estados-membros.
Minutos antes do
início da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros, hoje em
Bruxelas, o secretário de Estado para os Assuntos Europeus do
Governo francês, Harlem Désir, veio pôr de parte a adopção do
sistema de quotas, que descreveu como contrário às regras da UE e
aos princípios de responsabilidade e solidariedade entre os 28
parceiros. Para o ministro espanhol dos Assuntos Exteriores, José
Manuel García Margallo, o plano de Bruxelas é “desproporcionado,
injusto e irrealista”.
O Reino Unido
rejeitou imediatamente a introdução de um mecanismo de
redistribuição a nível europeu. França defende uma “repartição
mais equitativa” dos refugiados, mas é contra a instauração de
quotas, esclareceu o primeiro-ministro, Manuel Vals, numa sessão no
Senado sobre a lei do asilo, no sábado. Assinalando que países como
França, Itália, Alemanha, Reino Unido ou Suécia são responsáveis
pelo processamento de 75% dos pedidos de asilo em território
europeu, Valls argumentou que outros parceiros devem assumir maiores
responsabilidades – e não apenas para receber os imigrantes do
Norte de África que arriscaram a vida a navegar no Mediterrâneo,
mas também os refugiados da guerra da Síria.
O ministro alemão
dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, visitou um dos
campos de acolhimento dessas populações sírias deslocadas na
Jordânia, durante o fim-de-semana. O governante assegura que a
Europa tem capacidade de absorver um maior número de desalojados de
guerra, mas duvida que consiga “organizar um sistema para
distribuir” os imigrantes do Mediterrâneo. Alguns dos países
menos procurados pelos exilados, como a Hungria e a Polónia, já
fizeram saber que estão contra a ideia.
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