Um País tranformado numa
montra ocupada por turistas e “ex-pats”, esvaziado do seus
jovens habitantes, e assim do seu potencial futuro …
OVOODOCORVO
|
70%
dos jovens entre os 15 e os 24 anos admite ir trabalhar para o
estrangeiro
MARIA JOÃO LOPES
15/05/2015 - PÚBLICO
Estudo
encomendado pela Presidência da República revela expectativas
baixas da juventude em relação ao futuro próximo no país. Ao
contrário do apelo de Cavaco, maioria dos jovens está disponível
para emigrar e desinteressada da política.
O estudo apresentado
nesta sexta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, dá pouca
esperança às preocupações que o Presidente da República
expressou, na abertura da IV Conferência Internacional Portugal e os
Jovens, Novos Rumos, Outra Esperança.
Cavaco Silva quer os
jovens regressem ao país e está apreensivo com o afastamento que
mostram em relação à política. O que os números evidenciam é
que a maioria dos jovens não se interessa “nada” por política e
está aberta, de alguma forma, à possibilidade de trabalhar no
estrangeiro.
O estudo foi
encomendado pela Presidência da República, chama-se Emprego,
Mobilidade, Política e Lazer: situações e atitudes dos jovens
portugueses numa perspectiva comparada, e é de Mariana Costa Lobo,
Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland (Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa).
Nele pode ler-se,
entre muitos outros aspectos, que “a proporção de indivíduos que
declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no
futuro é maior entre os jovens e jovens adultos do que nos restantes
grupos etários”: “Se tivermos em conta os jovens que consideram
a ideia de vir a trabalhar no estrangeiro e os que, apesar de não
considerarem a ideia, não a excluem, pode concluir-se que cerca de
70% dos jovens entre 15 e 24 anos estão de alguma forma abertos à
hipótese de vir a ter uma experiência laboral fora de Portugal.”
O número inclui
aqueles que respondem “sim” à “hipótese de vir a trabalhar no
estrangeiro em algum momento no futuro” (53,1%) e aqueles que não
excluem essa hipótese – 16,1% não sabe.
São os jovens
filhos de pais mais escolarizados e os que já frequentaram uma
universidade num país da União Europeia os que mais declaram estar
abertos à hipótese de trabalhar no estrangeiro.
As razões que
levariam os jovens a ter uma experiência laboral no estrangeiro são
sobretudo melhores oportunidades de emprego e de condições de
trabalho. “Os jovens dos 15 aos 24 anos, na sua maioria ainda em
fase de formação, distinguem-se por serem o grupo etário que mais
aponta motivações relacionadas com o seu desenvolvimento pessoal,
nomeadamente a nível da aquisição de novas competências, na
acumulação de novas experiências e ampliação das suas redes de
solidariedade”, lê-se.
Férias, desemprego
e democracia
Os dados também
permitem perceber que os jovens portugueses estão mais insatisfeitos
agora com a democracia do que 2007 – em 2015, 17,3% considera que a
democracia funciona “bem”; em 2007 a percentagem era 33,8. Além
disso, em 2015, 57,3% dos jovens entre os 15 e os 24 não se
interessa “nada” por política – em 2007, a percentagem
ficava-se pelos 23,5.
Os jovens estão
pouco esperançados em relação ao futuro próximo em Portugal.
Confrontados com a frase “daqui a dois anos, a crise terá
terminado e a situação do emprego em Portugal será melhor do que
hoje”, a maioria discordou – 60,8% entre os 15 e os 24 e 66,5%
entre os 25 e os 34.
Destaca-se ainda que
“uma parte considerável” dos jovens nunca viajou de férias para
o estrangeiro (60,6% entre os 15 e 24 anos e 53,3% dos jovens entre
25 e 34).
Segundo o estudo, a
proporção de jovens sem trabalho há mais de um ano é “muito
significativa”. Entre os inquiridos, dos 15 aos 24 anos, 38,2%
estão sem emprego há mais de um ano; entre os 25 e os 34 anos a
percentagem chega aos 52,8%.
O estudo ressalva,
no entanto, que o desemprego de longa duração tem valores
“inexpressivos” nos jovens com formação superior. E que
estabilidade e segurança são os factores mais valorizados no que
toca ao trabalho, com percentagens a ultrapassarem os 80% em todas as
idades. O inquérito foi realizado entre 6 e 17 de Março e o
universo incluiu indivíduos com 15 anos e mais. A amostra total
incluiu 1612 entrevistas.
Apesar de aos
jornalistas se ter escusado a comentar questões da actualidade
política, o economista e coordenador do cenário macroeconómico do
PS, Mário Centeno, considerou, na sua intervenção, que “é a
formação que permite aos jovens ultrapassarem os desafios no
mercado de trabalho”.
Defendeu que é
necessário “valorizar o retorno aos investimentos em educação no
contexto nacional, eliminando os meandros da excessiva segmentação
contratual”; “garantir às famílias as condições de
financiamento do ensino, aliviando as suas restrições de liquidez”;
e “estimular o emprego, aumentando as contratações”.
Já a presidente da
Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, afirmou que Portugal tem as
condições para ser “um dos mais atractivos” países para os
jovens, ressalvando que é necessário saber como os atrair.
Sem comentários:
Enviar um comentário